mediador de leitura

                 Material de divulgação das editoras Ática, Saraiva e Scipione.
Não constitui documento oficial a respeito do PNLD.

O professor mediador possui a importante missão na formação cidadã. Tratando-se de aspectos culturais, espera-se que os estudantes tenham contato com a leitura em ambiente escolar. Dessa forma, o professor deve buscar formas de desenvolver o gosto pela leitura em seus estudantes.

Para falar desse assunto, convidamos Dileta Delmanto, coautora da coleção Português: Conexão e Uso. Aprovada no PNLD 2020, a coleção foi elaborada com base em uma vasta experiência em sala de aula, somada a conhecimentos provenientes do amplo estudo de língua e literatura.

Além disso, Português: Conexão e Uso está completamente alinhada à proposta da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

A seguir, leia o artigo escrito pela autora exclusivamente para nosso blog. Confira!

Mediação: o conceito à luz da teoria de aprendizado socialmente elaborado

Segundo a psicologia sócio-histórica, que tem como fundamento a teoria de Lev Vygotsky, (1896-1934), o ser humano se constitui como humano a partir das relações que estabelece com os outros.

Para o pensador russo, desde o nascimento, somos parte de um processo que age sobre nós, mas também permite que participemos da construção de nossa própria história. Esta, por sua vez, caminha integrada com outras histórias que com ela se cruzam.

O indivíduo não nasce pronto, nem é mera reprodução do ambiente externo: o desenvolvimento é fruto da ação das experiências vividas, mas o jeito de cada um apreender o mundo é individual.

Por sua vez, desenvolvimento e aprendizado estão intimamente ligados — a criança só se desenvolve quando aprende: apesar de ter condições biológicas de falar, só falará se estiver em contato com uma comunidade de falantes.

Essas ideias fornecem importantes subsídios para que se reflita sobre o papel do mediador, sobre o lugar do aprendiz no processo de construção do conhecimento e sobre critérios de seleção de atividades em que crianças e adolescentes comecem sob orientação e guia de outros e, aos poucos, consigam autonomia na resolução de situações-problema.

Mediador de leitura

O comportamento de leitor mais experiente do mediador poderá ajudar a aumentar o repertório dos novos leitores; gerar condições para o estabelecimento de articulação entre informações; mostrar que ler e escrever, além de promover socialmente e dar acesso à cultura e ao conhecimento, são modos de relacionar a vida de cada um com a realidade na qual vive.

Por meio desse leitor mais experiente, o jovem leitor poderá ainda descobrir que a leitura é uma fonte inesgotável de prazer e de conhecimento.

Ademais, ela permite transformar nossa visão do mundo, reavaliar nossos sentimentos e emoções, encontrar respostas para nossos conflitos, conhecer novos mundos sem sair do lugar, viajar no tempo, conhecer culturas e civilizações diferentes das nossas e livros que nos levam a tantos novos livros.

guia prático para a escolha do livro didático

É sempre tempo para o professor mediador

Um projeto de formação do leitor que tenha como objetivo a conquista da autonomia, a formação de um sujeito leitor que consiga realizar uma síntese individual das leituras que realiza, deve partir do princípio de que não basta colocar as pessoas em contato com materiais escritos: é preciso incentivá-las a fazer descobertas e ajudá-las a realizar escolhas.

Para que, um dia, o jovem leitor consiga fazer suas próprias viagens e descobrir seus próprios caminhos de leitura, é necessário que primeiro se deixe encantar pelo convite das vozes dos mediadores e de outros companheiros que garantam o direito de experimentar até que se seja capaz de tecer a própria rede de fios que se entrelaçam infinitamente.

O primeiro acolhimento

Nesse processo, que se inicia antes do período escolar, tem grande importância a mediação de leitura que, antes do sono, nos momentos de acolhimento, nas casas das avós e das tias, dá aos livros o poder de juntar pessoas numa atmosfera de afeto que incentiva a relação criança-livro de maneira lúdica, enfatizando o espaço do encantamento e do direito ao prazer.

E quando, não há uma avó, um pai, mãe ou tia para realizar esse primeiro contato da criança com o mundo da fantasia? Será que para ela estará fadada a se tornar para sempre alguém que não gosta de ler?

Como fazer em um país como o nosso onde tão poucas crianças têm contato com adultos que realmente gostam de ler, falam de livros e recomendam leituras?

Esse é o desafio constante que se apresenta ao professor mediador de leitura, que precisa descobrir caminhos para levar seus alunos a descobrirem o poder que vem dos livros.

Um desses é considerar que formar bons leitores significa, antes de mais nada, encantar, seduzir, despertar a vontade de mergulhar em muitos mares de histórias, de conhecer muitas outras portas de entrada para o mundo das letras e dos livros, que levem ao autoconhecimento e a uma dimensão do outro que até então se desconhecia.

As indicações de leitura

Um projeto de leitura precisa considerar o gosto e as vivências de cada leitor. Deve levar em conta a história pessoal e a história de leitura de cada um, considerando tanto as leituras da realidade como os limites impostos pelo mundo concretamente vivido por elas.

Mas, quem indica uma leitura deve ficar restrito à esfera do que o leitor já conhece?

Ou é preciso que, com a orientação do mediador e com a colaboração de companheiros mais experientes, as crianças e os jovens sejam apresentados a um repertório desconhecido ao qual não teriam acesso sozinhos?

Para responder, precisamos refletir sobre uma questão fundamental: o prazer é uma condição ou um efeito? O que entendemos por prazer de ler? Chamamos prazer ao ler sem nenhuma imposição? Prazer é algo que não causa dor ou aborrecimento? É sinônimo de preenchimento do tempo livre? É algo desvinculado da necessidade, do esforço? Trabalho e prazer se opõem de maneira excludente?

Quanto a essas perguntas, é preciso lembrar que a fruição literária não é um simples ato de consumo, mas uma construção que pressupõe capacitação, acumulação de experiência. É, pois, necessário deixar de associar a leitura prazerosa à ideia da mera facilidade ou lazer.

Em relação à literatura, se se deseja chegar à fruição literária, não basta desejar simplesmente consumir confortavelmente e com pouco esforço a produção artística que os alunos têm diante de si.

No meio do caminho, a indústria cultural

É necessário lembrar ao professor mediador ainda que o gosto de alunos e professores é formado pela indústria cultural, que aquilo que esses leitores dizem gostar de ler é resultado de uma intensa exposição que padroniza o interesse e delimita o campo das possibilidades.

Sem que novos desafios, novas indicações de leitura sejam apresentadas, nunca o estudante terá oportunidade de descobrir novos mundos.

Em um livro didático que se proponha a oferecer um projeto de leitura comprometido com a formação de leitores, como acontece com Português: Conexão e uso, além da preocupação com a faixa etária e com o grau de interesse que já apresentem os alunos, é necessário apresentar opções que os levem a novos conhecimentos, a novos voos que ampliem seu leque de escolhas.

Lembremo-nos da BNCC, que propõe ao professor possibilitar ao aluno:

 

Mostrar-se ou tornar-se receptivo a textos que rompam com seu universo de expectativa, que representem um desafio em relação às suas possibilidades atuais e suas experiências anteriores de leitura, apoiando-se nas marcas linguísticas, em seu conhecimento sobre os gêneros e a temática e nas orientações dadas pelo professor.

 

Considerando ainda que o aluno do Ensino Fundamental 2 está em um momento pessoal em que os amigos possuem papel de destaque, uma maneira de ampliar os horizontes de leitura é fornecer oportunidades para que conversem sobre o que leram.

Por isso, troquem ideias entre si, recomendem leituras, coloquem em dúvida críticas recebidas pelos livros, explorem recursos expressivos utilizados pelo autor, debatam temas polêmicos, ofereçam soluções para os problemas apresentados no livro.

Leia também: Alunos leitores – como formá-los?

E a leitura do mundo?

O professor é também mediador de leitura do mundo, ao oferecer aos alunos a oportunidade de explorar a realidade circundante, seja dos colegas, da escola, do bairro, do país ou do mundo em que vive.

Essa leitura não pode ser meramente redundante, mas deve destrinchar os ocultos e fazer refletir sobre o aparente.

Em nosso livro, Português: Conexão e uso, preocupamo-nos com essa necessidade tanto ao escolhermos os textos e as atividades de leitura como ao desenharmos as seções Do texto para o cotidiano e Diálogo entre textos.

A primeira propicia ao professor mediador é desenvolver o leitor do mundo explorando habilidades de aprender, discutir, refletir, argumentar, posicionar-se sobre questões da vida real, desenvolvendo competências em relação ao autoconhecimento, o exercício da empatia e do diálogo, a valorização da diversidade humana e o aperfeiçoamento da consciência ética.

Em Diálogo entre textos, o professor poderá oferecer outros textos que ampliem o repertório cultural ou literário do aluno, visando levá-lo a desenvolver a habilidade de reconhecer referências, alusões e retomadas intertextuais e/ou interdiscursivas, a estabelecer comparação entre diferentes linguagens, diferentes tratamentos de um mesmo tema ou entre gêneros intimamente relacionados.

Essas atividades propiciam ótimas oportunidades de despertar o interesse do aluno em, como apregoa a BNCC, “reconhecer e compreender modos distintos de ser e estar no mundo”.

O papel do professor mediador no que se refere ao mundo virtual

A internet permite acesso nunca visto a milhões e milhões de documentos potencialmente muito úteis a qualquer indivíduo. Mas, sua infindável memória não escolhe o que retém.

Não se filtra nada, não há seleção da qualidade da informação, nem sempre é possível discriminar sua origem. Portanto, não é tarefa fácil garantir a validade da informação, reconhecer o que é significativo e o que é irrelevante, distinguir o que é verdadeiro do que é falso,

Nesse quadro, também não basta colocar as pessoas em contato com a informação, embora essa seja a primeira condição.

Aqui também é fundamental o papel do mediador para incentivá-las a realizarem descobertas, orientá-las a fazerem escolhas, a efetuarem análises e sínteses, enfim, apresentar diferentes possibilidades para a construção do conhecimento e gerar condições para o estabelecimento de articulação entre informações e conexões múltiplas.

No Português: Conexão e uso, criamos uma seção, Cultura digital, que tem como objetivo favorecer o letramento digital dos alunos.

Por meio de atividades que envolvem o ambiente digital, progressivamente, ao longo do Ensino Fundamental – Anos Finais, o professor utilizará seu papel de mediador para familiarizar o aluno com as práticas cidadãs da cultura digital e desenvolver sua capacidade de compreender as tecnologias de informação e comunicação de forma crítica, reflexiva, ética e responsável, utilizando-se dessa nova linguagem para interagir socialmente, produzir e compartilhar conhecimentos.

Além disso, nos preocupamos em oferecer oportunidades ao professor para que ele, como mediador, proponha aos alunos atividades que lhes permitam transitar do impresso ao digital de forma criativa e original, segundo o que propõe a BNCC:

 

Depois de ler um livro de literatura ou assistir a um filme, pode-se postar comentários em redes sociais específicas, seguir diretores, autores, escritores, acompanhar de perto seu trabalho; podemos produzir playlists, vlogs, vídeos-minuto, escrever fanfics, produzir e-zines, nos tornar um booktuber, dentre outras muitas possibilidades. Em tese, a Web é democrática: todos podem acessá-la e alimentá-la continuamente.

 

 O texto literário como isca de leitura

Para encerrar, vamos reproduzir o que diz uma grande professora, escritora e sensível mediadora de leituras, resumindo o essencial de nossa conversa.

 

A literatura é matéria privilegiada para motivar e formar leitores, por ser linguagem que se oferece a múltiplas interpretações. Ela funde harmoniosamente realidade e fantasia — sendo um material inestimável na formação do indivíduo em sociedade —, toca primeiro a emoção e depois leva à reflexão, à análise, à interpretação e até mesmo à produção de outros textos. […] O texto literário é matéria criativa e “reveladora”, capaz de inquietar prazerosamente os educadores para o gosto da leitura, experiência esta que naturalmente eles podem promover junto aos alunos e à comunidade, acentuando que a leitura de textos literários permeia todas formas de conhecimento: a literatura está sempre voltada para a condição humana e a serviço da vida.

América dos Anjos Marinho, De Livros, Leituras e Leitores. Cenpec, 2005.

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