como aplicar língua brasileira de sinais na escola

A Língua Brasileira de Sinais

A Língua Brasileira de Sinais é uma língua visual-espacial que se utiliza do campo visual para receber as informações e se articula através do espaço, das mãos, das expressões faciais e do corpo.

É a língua oficial da comunidade surda do Brasil com reconhecimento pela lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002, e regulamentação pelo decreto nº 5626 de 22 de dezembro de 2005, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras. 

“Considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais – Libras” (BRASIL, 2005). 

A Libras está inserida nas escolas como forma de garantir aos alunos surdos o acesso comunicacional aos conteúdos que são transmitidos em sala de aula e nos espaços de convivência. A acessibilidade comunicacional acontece com o apoio de um profissional tradutor intérprete de Libras, que media a comunicação entre alunos surdos e comunidade escolar.  

Os alunos surdos, sua comunidade e cultura

Os alunos surdos que utilizam a língua de sinais devem receber atenção diferenciada devido às suas características próprias do Ser Surdo, como por exemplo, sua cultura e sua língua. Segundo Strobel (2008, p. 30 – 31)

A cultura é um conjunto de comportamentos apreendidos de um grupo de pessoas com sua própria língua, valores, regras de comportamento e tradições; uma comunidade é um sistema social geral, no qual um grupo de pessoas vivem juntas, compartilham metas comuns e partilham certas responsabilidades umas com as outras. 

Os surdos que utilizam a língua de sinais na comunicação vivem dentro da comunidade surda e estão inseridos na cultura surda. Strobel (2008, p. 22) diz também que: 

Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modificá-lo a fim de torná-lo acessível e habitável, ajustando-o com as suas percepções visuais, que contribuem para a definição das identidades surdas e das “almas” das comunidades surdas. Isto significa que abrange a língua, as ideias, as crenças, os costumes e os hábitos do povo surdo.

Os surdos utilizam de uma modalidade de língua diferente da vocal-auditiva, não recebendo as informações pela audição e produzindo através da fala, mas se utilizam de experiências visuais e gestuais na comunicação.

Há aspectos importantes da prática pedagógica para alunos surdos que devem ser considerados como: a pedagogia da imagem, alternativas para o desenvolvimento pedagógico e a formação de professores surdos e ouvintes. 

Atualmente, como a língua brasileira de sinais é utilizada em sala de aula?

A escola inclusiva demanda receber e atender às necessidades de todos, ao respeitar a diversidade presente nos indivíduos e cuidar da organização física e pedagógica para acolher os alunos em todos os níveis de ensino.

O que se observa na maioria das escolas é que a língua de sinais é utilizada especificamente na comunicação da pessoa surda com o profissional tradutor intérprete e vice e versa.

Profissional tradutor intérprete de Libras

O profissional tradutor intérprete de língua de sinais, segundo Quadros (2004, p. 27), é aquele “profissional que domina a Língua de Sinais e a língua falada do país e que é qualificado para desempenhar a função de intérprete da Libras.

No Brasil, o intérprete da Língua de Sinais deve dominar a Língua Brasileira de Sinais e a língua portuguesa”. A regulamentação da profissão de tradutor e intérprete da Língua Brasileira de Sinais aconteceu a partir da lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010.

E, para atuar na educação, este profissional realiza a mediação da comunicação entre professores, outros profissionais da escola e também de colegas ouvintes com os surdos. Além disso, o tradutor intérprete de Libras precisa estar sempre estudando para aprender novos vocabulários da língua e preparar-se para acompanhar os diferentes conteúdos ensinados em sala de aula.

Para isso, é importante a realização de parcerias entre estes profissionais e os professores das diferentes disciplinas escolares. 

Leia também: Educação inclusiva: como atender a todos os alunos.

Adaptação das escolas para alunos com deficiência auditiva

Nos últimos anos, os profissionais que trabalham nas escolas inclusivas se depararam com o aumento da entrada de alunos surdos, o que exige das escolas aperfeiçoamento por meio de cursos na área da surdez para os professores, pedagogos e funcionários.

A partir da lei nº 10.436/2002 e o decreto nº 5626/2005, a Libras se tornou disciplina obrigatória nos cursos de licenciatura, fonoaudiologia e pedagogia. Mas muitos professores que já estão inseridos nas escolas não tiveram a oportunidade de estudar a disciplina e conhecer mais sobre o tema.

Para atender aos alunos surdos garantindo possibilidades de progressos significativos em sua aprendizagem, é necessário que a equipe que trabalha na escola conheça sobre os surdos, sua identidade e cultura.

E como seria se essa língua pudesse ser utilizada por todos na escola?

Uma das propostas para a educação dos surdos é a chamada Educação Bilíngue, onde os alunos têm a Libras como principal forma de comunicação com professores e também com os colegas. Este modo tem a língua de sinais como fator central para o processo de escolarização, pois entende que a língua é essencial para a identidade cultural dos surdos. 

Dentro das escolas consideradas inclusivas, também é possível utilizar a língua de sinais para a comunicação básica entre surdos e colegas de turma ou professores. Uma possibilidade é o oferecimento de uma disciplina de Libras, para que os alunos ouvintes possam aprender a se comunicar com os alunos surdos da escola, sem a presença integral do intérprete de Libras.

Outras possibilidades são a utilização de jogos e materiais didáticos adaptados que promovam a valorização da troca de conhecimentos e informações em língua de sinais entre ouvintes e surdos.  

Leia também: A Educação Inclusiva chega ao ensino médio.

Conclusão sobre Língua de Sinais

A Libras está em sala de aula por intermédio da comunicação entre alunos ouvintes, professores, funcionários e alunos surdos, com o acompanhamento do tradutor intérprete de Libras, ou sem acompanhamento deste profissional.

De forma autônoma, a comunicação acontece quando professores, funcionários e alunos ouvintes sabem Libras. Este é o caso da escola bilíngue, onde muitas das vezes as comunicações acontecem por meio da Libras, ou quando os envolvidos nos processos de ensino e de aprendizagem dos surdos aprendem o básico para se comunicar. 

É importante entender que os surdos têm cultura, identidade e características próprias que devem ser consideradas, além de se refletir sobre a língua de sinais dentro da escola, para conseguir a efetiva aprendizagem dos surdos.  

Referências

BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm>. Acesso em: 25 maio. 2021.

BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Disponível em: <http://planalto.gov.br/CCIVIL_03/LEIS/2002/L10436.htm>. Acesso em: 25 maio. 2021.

Campello, A.R.S. (2007). Pedagogia Visual/Sinal na Educação dos Surdos. Em R. M. Quadros & G. Perlin (Orgs.), Estudos Surdos II. (pp. 100-131). Petrópolis, RJ: Arara Azul.

LACERDA, Cristina Broglia F. A inclusão escolar de alunos surdos: o que dizem alunos, professores e intérpretes sobre esta experiência. Cadernos Cedes, Campinas, SP, v. 26, n. 69, p. 163-184, maio/ago.2006. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v26n69/a04v2669.pdf. Acesso em: 25 maio. 2021.

LOPES, Maura C. Surdez & Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. 

Karnopp, Lodenir Becker. Literatura Surda. Literatura, Letramento e Práticas Educacionais Grupo de Estudos e Subjetividade. ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v.7, n.2, p.98-109, jun. 2006.

QUADROS, Ronice M. O Tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa. Brasília, DF: MEC, 2004.

Skliar, C. (1998). Os estudos em Educação: problematizando a normalidade. Em C. Skliar (Org.), A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação.

STROBEL, K. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis: Editora da UFSC, 2008a. 

Dinalva Andrade é Mestranda em Linguística pela Universidade Federal de Minas Gerais, com Especialização em Ensino e Interpretação de Libras pelo Instituto Brasileiro de Ensino, e Especialização em Educação Inclusiva e Especial pelo Instituto Nacional de Ensino. Licenciada em Teatro pela Universidade Federal de Minas Gerais. Possui experiência como intérprete de Libras e professora nas áreas de educação, artes e Libras. Atualmente, é tradutora intérprete de Libras do Espaço do Conhecimento UFMG, museu de ciências, e responsável pelo projeto @bhemlibras. Siga o Instagram @bhemlibras para conhecer mais sobre a cultura surda.