contato e-docente

Um tema emergente hoje no âmbito do trabalho pedagógico nas unidades de educação infantil diz respeito à documentação. Falar sobre ele, da forma como hoje se apresenta, requer fugir de qualquer forma de uso acrítico do mesmo em nossos discursos e práticas.

Nesse ponto, me recordo das palavras de Durkheim: “É preciso não esquecer que nada tende a tão facilmente se estereotipar e degenerar que um procedimento escolar, qualquer que seja ele.

O número dos que se utilizam com inteligência, com o sentimento sempre presente dos fins a que são úteis e aos quais devem permanecer subordinados, é sempre pouco considerável.

Uma vez que é posto em uso adquirindo a autoridade de hábito, é quase que inevitavelmente levado a funcionar de forma marginal. Emprega-se ele sem ter consciência do fim para o qual tende, como se existisse por si mesmo, como se fosse seu próprio fim.

Torna-se objeto de uma espécie de fetichismo que abre caminho a todas as exagerações e a todos os excessos”. (Durkheim, E. L’évolution pédagogique en France: des origines à la Renaissance. 1938, p. 166).

Vamos lá então: não se deve estereotipar e degenerar o conceito de documentação, mas usá-lo com inteligência e consciente dos objetivos desse uso. Mas e agora, como conceituar a documentação pedagógica dentro do quadro teórico e ideológico que orienta hoje o olhar para a Educação Infantil?

Leia também: Campos de experiências da bncc e o desenvolvimento das crianças na educação infantil.

O que é a documentação pedagógica

Uma documentação pedagógica reúne uma série de registros que podem ser escritos, fotográficos, videográficos, objetos e outras materialidades, acerca do trabalho com as crianças na unidade de Educação Infantil. 

Ela não se confunde com a documentação administrativa de cada criança: seus documentos, outros dados pessoais, familiares e eventuais registros de seu desempenho nas vivências das quais participou. (Vale aqui lembrar que não se trata de um boletim de notas ou conceitos. Aliás, estes estão vetados na LDB e nas DCNEI).

Ela também difere de registros das atividades realizadas ao longo do cotidiano, como um controle de tarefas e de uso dos espaços.

Funções da documentação pedagógica

Então quais as funções da documentação infantil? Ela se coloca como instrumento de aprimoramento da experiência cotidiana dos bebês e das crianças pequenas? Como ela pode garantir os direitos de aprendizagem destas crianças?

Parte-se de alguns princípios:

  1. Reconhece-se que cada criança protagoniza o seu desenvolvimento em ambiente de educação coletiva preparado pelos professores, segundo suas concepções de criança e seu desenvolvimento, e de acordo com orientações recebidas por atos normativos. Nesse sentido, se coloca o posicionamento de garantir um ensino centrado nas crianças, capaz de ouvir suas necessidades, interesses, objetivos, suas formas de agir e seus sentimentos.
  2. O segundo princípio é o que vê o professor como um profissional reflexivo, interessado em seu aprimoramento constante, aberto à escuta da criança, sensível para compreender as significações que esta vai construindo, profissional que se dispõe a servir como um recurso para a criança aprender e desenvolver-se.

Leia também: O trabalho pedagógico com áreas do conhecimento.

Documentação e memória

Documentar é a ação que procura servir como memória de situações ocorridas, permitindo ao professor que reconstrua e interprete o ocorrido, crie explicações provisórias. Busque, enfim, o significado da escola e de seu trabalho junto às crianças, tornando-o mais sensível e consciente.  

Refletir, recordar, repensar, reinterpretar, ressignificar e documentar com novas perspectivas: estes passos configuram o processo de conhecimento docente que necessita ser partilhado com outros docentes e com as famílias.

Documentação e problematização

Outro conceito que costuma ser apontado nesse processo é o de problematizar. Ele inclui o levantamento de elementos presentes em determinada situação, de modo a aprimorá-la, a ter elementos para aprender a partir dela.

Cumpre lembrar (lembrem do que diz Durkheim!) que problematizar não significa apenas listar o que o professor entende como sendo um problema (e costumam ser muitos). Não se problematiza apenas casos difíceis, muitas vezes esperando soluções mágicas para seu desaparecimento. Pode-se dizer que problematizamos até o que entendemos como sucesso.

Apresentar fotos, objetos e outras marcas de situações vivenciadas às crianças deve fazer parte do trabalho do professor, possibilitando-lhes rememorar, manifestar sentimentos, ideias, significados a partir da experiência recordada. Elas podem inclusive documentar um passeio, uma festa etc., recolhendo folhas das árvores observadas, entre outros registros. 

Conclusão

A documentação, além de aprimorar o trabalho do professor, de constituir um material a ser partilhado e debatido nas reuniões de formação na unidade, de construir novos conhecimentos sobre o cuidado e a educação de bebês e crianças pequenas, é um meio de democratizar o trabalho pedagógico, torná-lo conhecido por pais e comunidade.

Gostou de ler sobre o tema? Então saiba mais sobre o professor do presente e o ambiente virtual!

Autora: Zilma de Moraes Ramos de Oliveira