ciências humanas educação básica

Para começar, vamos pensar sobre os dois termos apresentados no título: desafio e possibilidade. Quando a prática pedagógica não é desafiadora para professores e alunos? Todo desafio pode se transformar em uma possibilidade? Quando vislumbro uma possibilidade, desafios surgirão? 

Esse foi apenas um exercício sobre como devemos ingressar em uma conversa, um estudo, uma discussão ou um planejamento. Precisamos pensar “sobre” e elaborar perguntas que nos tornem inquietos, que nos façam rejeitar o “fazer sem pensar”. 

Qual é o papel da BNCC para Ciências Humanas?

Pois bem, o que mais temos ouvido e falado nos últimos tempos em educação, fora a pandemia, naturalmente, refere-se à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). E o que pensamos ser esse documento? Tenho lido e analisado inúmeros trabalhos de professores de todos os cantos do Brasil sobre as Ciências Humanas e percebo que a maioria deles menciona a BNCC. 

Esse documento tornou-se “uma lei”, uma fonte onde encontro objetivos já elaborados. Mas será que a BNCC veio para se prestar a esse papel? Quem determina o papel desse documento em relação à nossa prática? 

Vamos começar pelo título do documento: BASE. Base é o suporte, o alicerce, é sobre ele que construímos algo de nossa autoria, algo que atenda a nossa necessidade, nosso desejo. Portanto, a BNCC deve orientar a prática, fundamentá-la.

A partir dela, precisamos construir nossa proposta pedagógica, pensando na comunidade em que atuamos, nos alunos e alunas que temos, nos desafios que desejamos superar e nas possibilidades que precisamos buscar.

Um dos maiores desafios trazidos pela BNCC voltada para o Ensino Médio é a concepção de área e não mais de disciplina. Uma área do conhecimento nos traz a possibilidade de desenvolver um trabalho a partir de muitas vertentes, muitos olhares e isso é, sem dúvida, uma possibilidade de enriquecimento do trabalho em sala de aula. Mas isso também é um grande desafio. 

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Como criar um projeto integrador em Ciências Humanas?

É preciso que superemos o olhar disciplinar, fragmentado, segmentado do conhecimento e acreditemos que os componentes curriculares devam compor um trabalho de muitas abordagens para uma só questão.

Assim, é possível o desenvolvimento de projetos integradores, de um trabalho que, garantindo o objeto de estudo de cada ciência, nossos alunos e alunas percebam o diálogo entre componentes curriculares e áreas do conhecimento. 

Mas como isso pode acontecer? Esse texto não se prestará a apresentar um plano de trabalho, mas um caminho a ser construído por professores e alunos e alunas. Sim, eles podem e devem ser coautores do trabalho e o serão na medida em que, ao ouvi-los, olharmos e reolharmos nossos planejamentos. 

A contemporaneidade tem nos trazido inúmeros temas de urgência social, como violência, preconceito, racismo, gênero, desigualdade… Um primeiro desafio é a seleção do que trabalhar e o caminho é voltarmos o olhar para nossos alunos e alunas, conversar e refletir com a equipe da unidade escolar e, de forma consensual, elegermos o que se mostra de mais urgente.

Estudo acerca da liberdade na educação

Agora, vamos escolher o conceito LIBERDADE para pensarmos nas possibilidades e desafios do trabalho na área. 

Um bom início de conversa sempre será partir do que alunos e alunas entendem por liberdade, mas não se trata de um simples levantamento, é preciso ler verdadeiramente o que o grupo está dizendo com suas colocações. Perceber o que sabem, o que não sabem, o que os aflige, o que querem saber. 

Mas quem reflete é só o professor? Essas ideias podem possibilitar um bom debate se gerarem boas perguntas. Aliás, será que o levantamento inicial não pode ser feito desafiando o grupo a elaborar perguntas sobre o conceito? Perguntar pode ser mais difícil do que afirmar. 

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PNLD 2021 – Objeto 1: Acesse a obra ‘Caminhar e Construir – Ciências Humanas e Sociais Aplicadas‘ .

Alguns desafios inerentes

E como abordar o conceito LIBERDADE na área? Aqui temos o desafio de identificar qual é a contribuição de cada componente curricular em relação ao que se pretende estudar. Como a liberdade pode ser abordada na História do Brasil ou do mundo?

O que significou o Brasil libertar-se de Portugal para o povo brasileiro ou qual foi o papel da população negra na conquista da libertação de homens e mulheres na condição de escravos? O conceito de liberdade sempre foi o mesmo ao longo da história? O que Aristóteles nos disse sobre liberdade? Qual a historicidade desse conceito? E nos dias de hoje, onde nos falta liberdade no Brasil? 

Com tantas possibilidades, vem a “melhor de todas”: os alunos e alunas não precisam buscar todos os mesmos conhecimentos. Uma sala de aula pode ser muito rica se cada um buscar o que lhe parecer mais interessante e isso é possível se tivermos a clareza de que estamos fazendo uma construção conceitual e não estamos privilegiando os fatos apenas.

E a Geografia? Como as fronteiras podem cercear a liberdade de homens e mulheres? Quando a busca de liberdade promove deslocamentos humanos? Já a Filosofia pode trazer um trabalho a partir de uma citação de Sartre, como em “o homem está condenado a ser livre” ou como Hegel pensa a liberdade da sociedade a partir do paradoxo entre senhor e escravo.

A sociologia, por sua vez, abordando sobre como se dão as relações sociais em uma sociedade que preza a liberdade e numa sociedade com a ausência dela. Quais as consequências para os indivíduos em ambas as situações?

Conclusão

O caminho está aberto para a construção de estudantes sabidos, críticos e com força para o exercício de sua cidadania. Mas sem estudo, leitura, escrita, reflexão e muita ciência não há possibilidade de conquistarmos tudo isso.

Indicações Bibliográficas

Abbagno, Nicola – Dicionário de Filosofia – São Paulo: Martins Fontes, 2007.

Aisenberg, Beatriz e Alderroqui, Silvia (organizadoras): Didáctica de las Ciencias Sociales – Teoria e Prática I e II, Buenos Aires: Paidós, 2001.

Araújo, Ulisses Ferreira de: Temas Transversais e a estratégia de projetos, São Paulo: Moderna, 2003.

Outhwaiter, William e Bottomore, Tom: Dicionário do Pensamento social do século XX–  Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1996.

Schmidt, Maria Auxiliadora/ Barca, Isabel/ Martins, Estavevão de Rezende (organizadores):  Rüssen, Jörn e o ensino de história – Curitiba: Ed UFPR, 2011.

Revoar: diálogos sobre liberdade e autoritarismo. LAUT – Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo.