conhecimento científico na educação básica

No mundo contemporâneo, as marcas da Ciência estão presentes em quase todos os espaços da vida cotidiana, seja no campo, seja nas cidades, o conhecimento científico está implícito e agregado na produção de todos os objetos industrializados e eletrônicos que predominam no nosso dia a dia (instrumentos agrícolas mecanizados, aparelhos para comunicação entre pessoas, computadores, cartões de crédito etc.).

Porém, pouquíssimas pessoas conhecem cientificamente a composição e o sistema de produção desses objetos.

Neste contexto, temos a escola com estudantes plenos de saberes prévios resultantes de suas experiências. Como trabalhar tudo isso de forma a desenvolver nos estudantes o pensamento lógico e estruturado do método de pensamento que leva ao conhecimento científico?

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Ensinamos a Ciência como disciplina ou como método de pensamento?

Na escola, de maneira geral, temos a prática de ensinar Ciências como disciplina. Que tal se agora, nós educadores, nos comprometermos a ensinar Ciências como Método de Pensamento?

O método científico não é apenas um método que foi desenvolvido para solucionar algum assunto inexplicável por razões puramente técnicas. Ele representa o único método de pensamento que se revelou frutífero em qualquer assunto – isto é o que queremos dizer quando chamamos de método científico. […]. Quando nossas escolas realmente tornarem-se laboratórios de construção de conhecimento, e não fábricas equipadas com informações, não será mais preciso discutir o lugar da ciência na educação. (DEWEY, 1974, pp.184-192)

Fundamentos da construção do conhecimento científico

Devemos atentar a estes 5 pontos para pensarmos no ensino de Ciências como método de pensamento:

  1. Por que ensinar? – Qual o objetivo de ensino do educador (conteúdos, mas apenas conteúdos)?
  2. O que ensinar? – O que os estudantes sabem sobre o tema (conhecimentos prévios, senso comum)? Quais as dúvidas e como eu, no papel de educador, posso contribuir com novos conhecimentos?
  3. Como ensinar? – Como apresentar o conteúdo a ser ensinado de modo contextualizado para que os estudantes investiguem o tema (contextualização e problematização)?
  4. Avaliação do processo – Quais os resultados do processo de investigação (o experimento)?
  5. Registro do processo – Qual a melhor maneira de registrar o processo de aprendizagem pelo qual o estudante se torna consciente do que aprendeu e, ao mesmo tempo, evidencia para o educador o que foi aprendido (avaliação)?

A figura abaixo traz os 5 pontos mencionados em forma de espiral, no intuito de  mostrar que o processo de crescimento é contínuo, ou seja,  eu retorno sempre ao ponto 1, mas não da mesma forma, e sim, com o processo de construção em um nível mais avançado. Desse modo, a avaliação e o registro são partes intrínsecas e imprescindíveis para o sucesso do método.

Fig. 1: Espiral dinâmica do ensino de Ciências como método científico

 O que é construir o conhecimento científico?

Construir o conhecimento científico é iniciar os estudantes no uso social da lógica e da linguagem científica, oferecendo-lhes oportunidades práticas de sustentar o conhecimento como processo de investigação fundamentado nos valores de uma sociedade sustentável.

Para que esse conceito de construção fique claro, é importante também entender a Ciência como um conhecimento necessariamente fundado por:

  • basear-se em argumentação racional auto demonstrável;
  • formular hipóteses (suposições justificadas e baseadas em argumentos) e meios para desenvolvimento, análise e verificação;
  • ter compromisso com a esfera coletiva – ser um conhecimento público, questionável e verificável por qualquer um que se qualifique para isso;
  • poder compreender como as coisas funcionam exerce fascínio sobre os estudantes, instiga-os a descobrir, a procurar respostas, a tentar reproduzir fenômenos – a agir de maneira científica. O estudo do sentido e da explicação do “o que”, do “por que”, do “quando” e do “como” de todas as coisas é a missão básica de todas as ciências, práticas e saberes que devem ser descobertos e trabalhados na escola.

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Qual a intencionalidade pedagógica (objetivos de ensino) para a construção do conhecimento científico?

A intencionalidade pedagógica para a construção do conhecimento científico deve estar baseada em auxiliar o estudante no desenvolvimento das seguintes habilidades:

  • capacidade de conceituar um problema a ser investigado e justificar o motivo pelo qual será estudado;
  •  organizar seu pensamento de maneira lógica e crítica;
  • saber partir de noções e saberes ligados ao senso comum da comunidade ou aos seus conhecimentos prévios e registrá-los como primeira etapa do processo de investigação;
  • desenvolver e mensurar diferentes técnicas de investigação e pesquisa: selecionar fontes de informações, definir hipóteses de pesquisa e procedimentos que possam ser testados para resolver o problema em estudo;
  • “aprender a aprender”, ou seja, saber pesquisar de maneira autônoma e respeitosa em relação à diversidade e à relatividade de abordagens de um campo do saber (saber produzir conhecimento de modo a valorizar e a respeitar a diversidade de ideias).

Conclusão

Neste texto, abordamos o percurso de construção do conhecimento científico que os estudantes trilham ao longo de sua escolaridade. Nós educadores devemos ser os verdadeiros parceiros deles nesta jornada. Não é uma tarefa fácil, mas possível!

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Sugestões de referências

  • Educação Infantil: O Remédio Maravilhoso do Jorge, Roald Dahl. Editora 34
  • Ensino Fundamental: O Livro Perigoso para Garotos, Hall Iggulden. Editora Galera e O que Einstein Disse a Seu Cozinheiro – Vol.1: A Ciência na Coizinha, Robert L. Wolke. Editora Zahar
  • Ensino Médio: E Se? – Respostas Científicas para Perguntas Absurdas, Randall Munroe. Editora Companhia das Letras
  • Inclusão: Aprendizagem baseada em projetos como forma de inclusão in Educar para transformar o mundo: inovação e diferença por uma educação de todos e para todos. SENNA, Célia Maria Piva Cabral e LOPES, Graziela Miê Pereira. Organizadores: BOCCIOLESI, Enrico; ORRÚ, Sílvia Ester. Campinas, SP: Libran Editora, 2019