Falar em criança é falar em corpo atento, “serelepe”, agitado e sempre querendo brincar. Ao falar em psicomotricidade é falar em como utilizar o corpo de forma otimizada e consciente para que este atue no mundo de forma funcional.

Falar em música é falar em emoções, movimento, expressividade e criatividade.

Logo, Música, Psicomotricidade e Criança formam o triângulo perfeito quando o assunto é neurodesenvolvimento.


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Qual a importância da Música e Psicomotricidade na Educação Infantil?

Qual a importância da Música e Psicomotricidade na Educação Infantil?

O foco da psicomotricidade é o diálogo entre a mente e o corpo, entendendo a mente como a díade emoção-cognição e corpo como percepção sensorial e ação motora que está sempre ligado aos comandos do cérebro.

A Associação Brasileira de Psicomotricidade (ABP, 2018, online) a define como: “ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo”.

Sendo assim, a psicomotricidade é uma ferramenta eficaz no contexto educacional, pois visa trabalhar o ser humano em sua totalidade.

Os princípios dessa abordagem têm os alicerces no desenvolvimento neurológico desde a fecundação até a vida adulta.

Nosso cérebro está em constante mudança e nosso desenvolvimento se dá em forma crescente de uma motricidade, emoção e cognição mais “primitivas” em direção à uma motricidade mais coordenada, uma emoção mais controlada e uma cognição capaz de coordenar tudo isso.

Neste artigo, vamos entender essa correlação entre a música e psicomotricidade e como devemos utilizar em sala de aula para os alunos da Educação Infantil. 

A psicomotricidade no processo de desenvolvimento da criança

Quando nascemos, somos um tônus simbiótico com a mãe, mas, com o passar de nossas experiências no mundo, vamos estruturando esse tônus de forma cada vez mais consciente (praxias) e, com isso, vamos construindo nossa personalidade.

Como consequência, vamos, aos poucos, estruturando nossa cognição e dissociando o eu do outro e nos tornando seres autônomos.

Crianças costumam ser fisicamente mais expressivas e agirem de forma muito intensa do ponto de vista emocional e motor (correr, gritar, bater, morder etc.). Isso ocorre pois ainda não se tem uma cognição estruturada para coordenar o instinto “emoção-movimento”.

Quando mais velhos, a cognição se encontra mais bem delineada e, com isso, há mais controle neurológico das ações e comportamentos.

Mas, para que esse desenvolvimento ocorra de forma saudável e satisfatória, a criança precisa vivenciar o seu corpo de maneira lúdica e livre (experimentar o que seu corpo pode e consegue fazer).

Tais experiências sensório-motoras vão fazendo com que as redes sinápticas se formem e, em função disso, com que redes neurais sejam criadas para que, no futuro, o cérebro possa conseguir coordenar o corpo.

Dentro desses estímulos e vivências está a passagem pelas fases básicas da infância como: sentar-se, rolar, engatinhar, levantar-se, cambalear e, finalmente, andar fluentemente. 

Psicomotricidade como ferramenta pedagógica

Psicomotricidade como ferramenta pedagógica

Quando nos remetemos à utilização da psicomotricidade como ferramenta pedagógica, nos referimos às maneiras de nos munir dos conhecimentos e conceitos básicos dessa teoria e transformá-los em atividades práticas direcionadas para o desenvolvimento global da criança e para o ensino.

É nesse contexto que a música pode ser uma bela aliada.

Os educadores musicais mais conceituados, tais como Kodály, Dalcroze, Willems, Orff, Koellreutter, Payter, Gainza, dentre outros, propuseram suas metodologias tendo o corpo e a expressividade como elementos importantes, por compreenderem que as vivências práticas exercem grande influência no processo de aprendizagem e no desenvolvimento geral da criança. 

Jogos e atividades

No universo da musicalização, são comuns atividades corporais, tais como: danças circulares, percussão corporal, bandinhas rítmicas e atividades com bolas, bambolês, panos, dentre outros objetos.

Igualmente comum em aulas de música, é o uso de diversos instrumentos de percussão, o que exige uma gama de movimentos diferentes para manuseá-los.

A utilização de instrumentos musicais para a musicalização ajuda no desenvolvimento da coordenação motora, na postura e no tônus de mãos, braços e tronco, além de trabalhar equilíbrio, esquema corporal e destreza.

Jogos coletivos são também muito comuns nas aulas de música, o que ajuda a trabalhar toda questão emocional envolvida nas atividades em grupo: lidar com espera, frustração, perdas, ganhos e relações humanas em geral.

O gerenciamento das emoções é fundamental para o desenvolvimento cognitivo e, por isso, também é foco dentro da psicomotricidade.

Além disso, jogos coletivos são importantes para trabalhar esquema corporal, noção de tempo-espaço, lateralidade, tonicidade e equilibração, pois a criança precisa planejar sua ação e utilizar seu corpo por completo de forma funcional em um determinado espaço físico.

Em suma: aula de música é praticamente uma sessão de psicomotricidade, de forma criativa, divertida e com muito aprendizado.

A música possui uma relação com a humanidade muito antiga e muito especial. Toda cultura possui seus sons e suas músicas representativas. Música permeia nossa vida do nascimento à morte.

Todos temos nossas músicas preferidas, um momento importante da vida no qual a música estava presente ou uma música que expressa quem somos, às vezes, até melhor do que se fossemos explicar com palavras.

Música está em todas as festas, nos filmes, nos cultos religiosos, nas sessões de massagem, nas propagandas, sala de espera de médicos e nos elevadores. Música faz parte do nosso dia a dia. 

A relação da música no processo da psicomotricidade

Toda essa relação emocional que temos com a música, datada de mais de 25 mil anos, conforme alguns registros históricos, faz com que ela seja tão impactante nos processos cognitivos e motores da criança. Conforme coloca Storolli (2011, p. 132):

A relação do corpo com a música remete-se, porém, à própria gênese desta, sendo anterior a treinamentos, códigos e sistemas. Podemos imaginar a manifestação musical no âmbito das primeiras performances e rituais humanos, envolvendo sons e movimentos, tendo o corpo como o principal condutor da ação e do processo de criação. Longe de ser apenas um instrumento a ser treinado para se obter certos resultados, o corpo pode ser considerado como o principal responsável pela realização musical.

As pesquisas em neurociências já provaram que a música é o fazer humano mais complexo para o cérebro, pois ativa áreas emocionais, motoras, cognitivas e sensoriais ao mesmo tempo, sendo isso um grande potencializador de sinapses e plasticidade cerebral.

Por isso tudo, a música pode e deve ser utilizada sempre que possível no berçário, na creche, na educação infantil e em outros contextos pedagógicos. 

Conclusão Música e Psicomotricidade na Educação Infantil

Conclusão

Costumo dizer que música e psicomotricidade são caminhos paralelos: música trabalha todos os elementos psicomotores do desenvolvimento da criança (tônus, equilibração, noção de tempo e espaço, esquema corporal, lateralidade e lateralização e praxias), da mesma forma que são esses elementos psicomotores que permitem que possamos fazer música.

Sem coordenação motora, tônus, equilíbrio e noção de tempo e espaço, é impossível compreendermos um ritmo, marcamos a pulsação de uma música ou tocarmos um instrumento musical.

Ou seja, quem estuda música, está “turbinando” seu aparato psicomotor. Por todos esses motivos, devemos valorizar mais o ensino de música na educação infantil, pois isso só contribui para a construção de um desenvolvimento infantil mais saudável e, por consequência, adultos mais felizes e conscientes.


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Prof. Dra. Viviane Louro é pianista, educadora musical e neurocientista. Docente do departamento de música da Universidade Federal de Pernambuco, onde, além de lecionar, coordena os seguintes projetos: PROBEM DO CAC (programa para saúde mental dos estudantes de música); Liga Acadêmica de Neurociências Aplicada (LIANA); Especialização em Neurociências, Música e Inclusão; e Comissão de humanização e saúde mental da UFPE. Autora de 8 livros na área de educação musical inclusiva e palestrante sobre as áreas de neurociências da música, psicomotricidade e música e educação musical inclusiva. Atualmente, está se especializando em Criminal Profile e psicologia investigativa.

Bibliografia consultada e sugestões para estudo

ABP (Associação Brasileira de Psicomotricidade). A psicomotricidade. Retirado de www.psicomotricidade.com.br. Abril de 2018.

ALVES, Fátima. Como aplicar a psicomotricidade: uma atividade multidisciplinar com amor e união. Rio de Janeiro: Wak, 2007.


DORNELES, Lidiane; BENETTI, Luciana. A psicomotricidade como ferramenta de aprendizagem. Revista Educação, interdisciplinaridade e transversalidade, v(8), nº 8, p. 1775 – 1786. Ago, 2012. 


FONSECA, Vitor da. Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2008.


FONSECA, Vitor da. Psicomotricidade e Neuropsicologia: uma abordagem evolucionista. Rio de Janeiro: WAK, 2010.


JORDÃO et al (org). A música na escola. São Paulo: Allucci & associados comunicações, 2012.


LOUREIRO. Maria Beatriz. Apostila Base de Psicomotricidade. São Paulo: ISPE-GAE, 2001. 


LOURO, Viviane. Psicomotricidade e aprendizagem musical: caminhos paralelos. Revista digital. SIMPÓSIO DE EDUCAÇÃO MUSICAL ESPECIAL. IV edição. São Paulo: Fefisa (CD rom), 2007 p. 12-22.

MATEIRO, Teresa. ILARI, Beatriz (org). Pedagogia em educação musical. Curitiba: Ibpex, 2011.

MUSZKAT, Mauro. Música, Neurociência e desenvolvimento humano. In: JORDÃO et al (org). A música na escola. São Paulo:Allucci & associados comunicações, 2012.

SANTOS, Roseli. A psicomotricidade otimizando a educação infantil. Monografia de especialização em Psicomotricidade. São Paulo: ISPE-GAE, 2002.

STOROLLI, Wânia. O corpo em ação: a experiência incorporada na prática musical. Revista da Abem,  v.19, n.25, p. 131-140.  Londrina:  jan.jun 2011.