A Construção da Autonomia na Educação Infantil

Desvendando a Autonomia na Primeira Infância
Descubra como promover a autonomia na Educação Infantil através de estratégias pedagógicas e práticas familiares que incentivam o desenvolvimento integral das crianças.
Crianças pequenas, vivendo no Brasil ou em qualquer parte do mundo, possuem competências que são construídas e/ou impulsionadas pela forma como são levadas a resolver situações-problema. Essas competências são evidenciadas pelos saltos de desenvolvimento, que, na primeira infância, possuem a sua maior importância na construção da personalidade, na formação enquanto ser humano e nas maneiras como a criança se relaciona com o mundo.
Família e Escola: Pilares da Autonomia
Mas como falar de autonomia sem tratar das relações humanas? A família é o principal condutor dessa autonomia, mas cabe à escola proporcionar as vivências pedagógicas com objetivos e práticas educacionais. Inúmeros textos, pesquisas e orientações são elaborados todos os dias para ajudar na rotina diária das crianças no ambiente pedagógico. Não é possível construir autonomia sem pensar nos aspectos estratégicos, com objetivos voltados para a construção de uma cultura escolar autônoma na Educação Infantil.
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E isso vai muito além das atividades e vivências, perpassa literalmente pela perspectiva cultural de olhar a criança como um ser em desenvolvimento, e não um ser frágil e sem possibilidade de se autocuidar. O importante é perceber a criança pequena como possuidora de aprendizagens, curiosidades, dinâmicas e, acima de tudo, com compreensão e potencial para desenvolver diferentes tarefas, dando-lhes a oportunidade da execução a partir dos diferentes comandos.
Autonomia: Uma Perspectiva Global e seus Impactos Sociais
Percebemos, em pesquisas francesas, um percentual maior de crianças que são orientadas a desenvolverem suas atividades sem buscar constantemente a ajuda de um adulto. No Brasil, isso também foi visto, mas com um percentual baixo, em relação aos países menos violentos ou onde a relação social das crianças seja melhor ou mais equilibrada. Para os países socialmente igualitários, a autonomia da criança chega a ser mais de 90% para todas as situações diárias, desde tomar banho até ir para a cama dormir sem a presença de um adulto. Portanto, os impactos sociais também acarretam os impactos pedagógicos para a construção da cultura da autonomia das crianças na Educação Infantil.
Elementos Fundamentais para a Autonomia na Prática Docente
Em estudos da prática docente, foi visto que, nesse nível, para construírem autonomia, as crianças precisam de três elementos fundamentais:
- Orientação inicial com direcionamento para o início, o meio e o fim da atividade: a) Nas vivências diárias, as crianças precisam ter uma orientação norteadora que contribua para a construção coletiva das etapas da vivência e para a efetivação dessas etapas. b) Crianças que sabem o que precisam fazer nas suas vivências têm mais possibilidades de compreensão sobre as diferentes situações da ação docente e, assim, podem realizar suas atividades com mais autonomia. c) Crianças que iniciam com perguntas tornam-se mais investigativas e tendem a compreender melhor as diferentes atividades postas no seu fazer escolar.
- Desenvolvimento de atividades pedagógicas com base na compreensão adquirida nas rodas de leitura e no faz-de-conta da leitura individual: a) Nas suas vivências, as crianças gostam de pegar um livro e realizar o faz-de-conta da leitura, tendo maior iniciativa para compreender o sistema de escrita alfabético. b) Nesse momento, as crianças precisam de estímulo positivo para continuar a sua atividade, tendendo a compreender quais estratégias podem usar com base no estímulo prévio desenvolvido. c) As crianças serão muito bem-sucedidas se, numa roda de leitura, a autonomia da leitura for dada para que elas leiam da forma que conseguirem, seja convencionalmente ou não, evitando medo ou bloqueio e tornando as tentativas de leitura naturais.
- Realização de três tarefas de motricidade fina, sabendo o que fazer, como fazer e as possíveis consequências: a) Crianças que compreendem o espaço da atividade e usam ferramentas para seguir o plano orientado, ou para construir seu próprio plano de atividades, criam mecanismos para resolver as situações de forma eficaz e na validade. b) Crianças que usam tesoura e desenvolvem trabalhos manuais, usam de suas habilidades para poder entender as diferentes formas de uso de ferramentas. c) Crianças que iniciam com o faz-de-conta da leitura, logo realizam qualquer situação com a oratória, por terem mais confiança naquilo que fazem desde muito pequena.
Superproteção vs. Desenvolvimento: O Equilíbrio Necessário
Verificamos que, nos estudos do Brasil, a preocupação maior foi, sem dúvidas, o cuidado para que não ocorresse nada com a integridade física da criança, sem dar a devida oportunidade para ela tentar realizar a ação específica da sua idade sozinha. Não queremos dizer que a criança não deve ser cuidada e preservada, isso é inquestionável, mas a superproteção pode acarretar crianças sem o autocontrole, sem o autocuidado para evitar acidentes ou situações que podem prejudicá-las.
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Precisamos demonstrar carinho, amor e dedicação para as crianças no seu momento autônomo, tanto na escola como na família. Para tanto, os elementos principais para deixar a criança usar de sua autonomia são a confiança, a objetividade na informação e a oralização dos sentimentos para que tudo seja vivido e dito pela criança. Assim ela conseguirá construir os elementos da autonomia na sua busca pela finalização da tarefa.
O Papel do Professor na Construção da Autonomia
Para facilitar o desenvolvimento da cultura autônoma na Educação Infantil, vamos apresentar um quadro associativo entre a ação proposta e a atitude docente frente à ação e execução da criança. Assim, o(a) professor(a), com o conhecimento da turma e de cada criança, poderá, sempre que propor uma vivência, ter os seus objetivos expostos para a turma, para que as crianças sejam trabalhadas para a construção da autonomia por quatro fatores: pelo incentivo; pela produção autônoma; pela criatividade nas produções manuais; e pelo simples fato de se ajustarem sozinhos, tanto emocional quanto fisicamente, em situações conflituosas ou que provoquem instabilidade.
Autonomia no Cotidiano da Educação Infantil
Mas em que momento entra a autonomia das crianças na dinâmica do cotidiano? A Educação Infantil é um espaço de laboratório infantil onde a criança pode criar, com tempo de fazê-lo em situações lúdicas e de realização de produção. Nada impede que a autonomia seja instaurada desde a hora em que se organiza a fila do recreio até a hora de ir ao banheiro. Tudo requer planejamento e realização das atividades até que sejam concluídas.
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A conclusão realiza o sentimento de missão cumprida que todos desejam e buscam constantemente, e a criança aponta esse cuidado e essa busca desde o nascimento, a partir da sobrevivência, quando deseja mamar e realiza essa ação até se saciar e, desse modo, esse sentimento perpassa todo o desenvolvimento inicial da infância.
Quadro Associativo: Ações e Atitudes para a Autonomia
Diante disso, apresentaremos a seguir o quadro associativo e ilustrativo para buscar maior visibilidade para desenvolver a autonomia na Educação Infantil:
Quadro associativo e ilustrativo de como dar visibilidade às ações que contribuem para o desenvolvimento da autonomia na Educação Infantil
AÇÃO PROPOSTA | ATITUDE DOCENTE FRENTE À AÇÃO | EXECUÇÃO DA CRIANÇA |
Ler histórias. | Permitir escolhas. | Ler com confiança e prazer. |
Contar histórias. | Permitir expressar os pensamentos e sentimentos. | Contar uma história criada ou conhecida. |
Jogar com objetos de encaixe. | Permitir que a criança use os objetos para a função do jogo com objetivos. | Montar situações representativas para histórias ou para o faz-de-conta. |
Tomar água. | Permitir que a criança tenha seu espaço na sala com copo e garrafa. | Beber água de forma autônoma. |
Usar a tesoura. | Permitir que a criança realize recortes com autonomia a partir da orientação prévia. | Fazer recortes até atingir a maturação motriz. |
Solicitar o envio de recado na escola ou a entrega de material. | Permitir que a criança seja o mensageiro de avisos e orientar até a confirmação da comunicação. | Compreender a importância da comunicação. |
Brincar de supermercado. | Permitir que a criança seja o organizador do supermercado em grupos de responsabilização. | Realizar a organização do espaço e das funções existentes até a finalização da compra. |
Atribuir tarefas e responsabilidades ajustadas à idade. | Permitir que a criança busque informações necessárias para atingir a finalização das tarefas. | Compreender que realizar a ação é concluir com êxito todas as etapas programadas. |
Promover a exploração de diferentes contextos. | Permitir que a criança busque informações e objetos a partir dos comandos. | Realizar a ação com estratégia de registro ou de agrupamento. |
Promover relações com outras crianças da escola. | Permitir que a criança troque suas ideias com outras crianças; estimular a elaboração das perguntas e brincar livremente. | Compreender que buscar informação e ter iniciativa é importante para resolver qualquer situação. |
Ensinar novas capacidades. | Permitir a orientação, sempre que necessário, ao longo do processo. | Compreender que cada aprendizado possui um objetivo para aplicar em outras situações. |
Desafiar a criança a ir mais além. | Permitir que nada paralise a criança diante do medo. | Compreender que o medo é possível de ser superado. |
Explicar à criança as consequências das suas ações. | Permitir que as ideias sobre o problema sejam elaboradas e tratadas oralmente. | Internalizar as regras e ter senso de responsabilidade. |
Mostrar as etapas das atividades de brincadeira. | Permitir que a criança vivencie regras e busque soluções para problemas. | Realizar a brincadeira alternando líderes para propor organização diferentes. |
Exportar para as Planilhas
Ações para Desenvolver a Autonomia em Diferentes Fases da Infância
Estímulo para o desenvolvimento da autonomia infantil até a primeiríssima infância:
- Comer sozinha a partir do olhar do adulto.
- Sempre guardar os brinquedos depois de brincar.
- Ir ao quarto para escolher e vestir a própria roupa.
- Ir ao banheiro sozinha quando sentir necessidade e ter seu material sempre nos mesmos lugares.
- Tomar banho e escovar os dentes.
- Arrumar a lancheira da escola.
- Ajudar na escolha da comida.
- Ter sempre os espaços com a sua garrafa de água.
- Ter cama baixa para facilitar a entrada e a saída autônoma.
- Deixar a criança entrar sozinha nas salas da escola.
Estímulo para o desenvolvimento da autonomia infantil na primeira infância:
- Realizar atividades e rotinas um pouco mais complexas por conta própria.
- Arrumar a cama.
- Jogar os diferentes tipos de lixo no lugar certo.
- Lavar louças leves.
- Ajudar no preparo de alguns alimentos.
- Descobrir os interesses e as vontades da criança e estimular a exploração.
- Deixar a criança tentar fazer as atividades por si só, mas com mediação.
- Deixar a criança errar e aprender com o erro.
- Comemorar as conquistas da criança utilizando elogios específicos.
Conclusão: Cultivando Indivíduos Autônomos e Responsáveis
Promover a autonomia na Educação Infantil é um processo complexo que envolve tanto a família quanto a escola. É essencial que as crianças sejam vistas como seres em desenvolvimento, capazes de aprender e realizar tarefas de forma independente. Através de estratégias pedagógicas bem estruturadas e práticas familiares que incentivem a independência, é possível construir uma cultura de autonomia que beneficiará o desenvolvimento integral das crianças, além de prepará-las para serem indivíduos mais seguros, responsáveis e capazes de enfrentar os desafios do mundo.
Minibio do autor
Renata Oliveira é possui Pós-Doutoramento Bolonha em Programas de Pós-Doutoramento (IE) Educação pela Universidade de Lisboa, Portugal. É Doutora em Ciências da Educação pela Université Lumière Lyon 2 na França. É Doutora e Mestre em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Brasil. É Especialista em Éducation Pédagogique et Culture(s) de l`Altérité pela Université Claude Bernard Lyon 1 – França. É Coordenadora Científica da Especialização Avançada em Educação e Inovação Aplicadas à Educação Cooperativa, no Instituto CRIAP Psicologia e Formação Avançada Porto/Portugal. Realiza consultoria educacional em todo o Brasil. Desenvolve palestras e trabalha com formação de professores envolvendo Prática Pedagógica, Didática e Metodologias do Ensino com Aulas Remotas e Ensino Híbrido, entre outras temáticas. Pesquisa sobre Educação e Linguagem. É autora de materiais didáticos e pedagógicos para Educação Infantil e Ciclo de Alfabetização.
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