A importância da educação ambiental no ensino médio

Meio ambiente e problemas ambientais são pautas certas nos noticiários semanais dos mais diversos meios de comunicação do Brasil e do mundo. Sempre existe algo a ser compartilhado que reforça um cenário preocupante. O mundo enfrenta uma série de desafios ambientais, que, recorrentemente, colocam em risco a saúde do planeta e o bem-estar das futuras gerações.
O aumento do desmatamento, das emissões de gases de efeito estufa, da poluição dos oceanos e da perda de biodiversidade são alguns dos sintomas de um modelo de desenvolvimento que desconsidera os limites da natureza.
Isso nos remete, enquanto sociedade e espécie, a um lugar muito delicado, incerto e perigoso. Esses problemas, muitas vezes interligados, exigem uma resposta global articulada, que envolva não somente governos e instituições, mas também a sociedade civil. E isso inclui, obviamente, o setor educacional.
O complexo cenário ambiental brasileiro
No Brasil, os problemas ambientais possuem contornos muito complexos. O país, embora rico em recursos naturais e detentor da maior parte da Floresta Amazônica, tem enfrentado altos índices de desmatamento, tráfico de animais silvestres, queimadas, degradação acentuada de biomas (a exemplo do Cerrado e da Caatinga), além da contaminação de rios e do avanço da mineração sobre áreas protegidas.
A crise climática e os eventos extremos, como as secas prolongadas e enchentes, também têm afetado diretamente as populações mais vulneráveis. É urgente e imperativo que ações educativas transformadoras promovam a conscientização e o senso de responsabilidade ambiental. Confira algumas delas a seguir.
As escolas como espaços estratégicos
Não é novidade, para professores e demais educadores, que as escolas de Educação Básica são espaços estratégicos para o desenvolvimento de práticas de Educação Ambiental. Porém, é sempre importante reforçar o óbvio, especialmente em tempos em que somos capturados por tantas pautas importantes, priorizar algumas práticas torna-se um grande desafio.
Incorporar a temática ambiental no cotidiano escolar contribui para que os estudantes compreendam a complexidade dos problemas ambientais, reconheçam suas causas e consequências e desenvolvam uma postura crítica frente às ações humanas que degradam o meio ambiente.
Esse trabalho tende a ganhar mais força quando é feito com a contribuição interdisciplinar, contextualizada com situações-problemas locais e com o envolvimento de toda a comunidade escolar.

Nesse sentido, o engajamento estudantil torna-se peça-chave para a promoção da conservação ambiental. Os estudantes podem atuar como multiplicadores de informações e mobilizadores sociais, transformando suas comunidades.
Ao promover projetos, campanhas e atividades práticas voltadas à sustentabilidade, as escolas não somente incentivam o protagonismo juvenil, mas também estimulam a construção de soluções coletivas e criativas para os diversos desafios.
Portanto, é papel dos educadores estimular o interesse e o envolvimento dos alunos com questões ambientais, integrando os conteúdos curriculares com vivências que estimulem o cuidado com o meio ambiente.
Para saber mais sobre o envolvimento de estudantes dentro dessa temática, leia o texto Juventude brasileira: engajando pela preservação dos ecossistemas.
A educação ambiental, a interdisciplinaridade e o projeto pedagógico
A Educação Ambiental emerge da confluência entre diferentes áreas do saber, como Biologia, Sociologia, Filosofia, Geografia e História. Ela não se limita à mediação de conhecimentos sobre o meio ambiente, mas propõe uma abordagem crítica, ampliada, sistemática e transformadora, voltada para a compreensão das relações entre a sociedade e a natureza.
Como ciência, a Educação Ambiental investiga práticas, formula conceitos e propõe metodologias que visam à formação de cidadãos conscientes, éticos e comprometidos com a sustentabilidade em suas múltiplas dimensões — ambiental, social, econômica e cultural.
Para que esse campo se consolide na prática escolar, é essencial que seu desenvolvimento seja pensado de forma interdisciplinar e coordenada. A Educação Ambiental não deve ser responsabilidade de uma única disciplina ou atividade pontual, mas precisa estar integrada ao currículo e ao projeto pedagógico da escola.
Isso significa planejar ações e conteúdos que dialoguem entre si, conectando temas ambientais a diferentes componentes curriculares. Ao fazer isso, a escola promove uma aprendizagem mais significativa, que permite aos estudantes compreender a complexidade dos desafios socioambientais e desenvolver competências para enfrentá-los colaborativamente.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ensino Médio reforça essa perspectiva ao estabelecer competências gerais e específicas que se alinham diretamente aos princípios da Educação Ambiental. Entre elas, destacam-se o exercício da responsabilidade e do protagonismo, a valorização da diversidade cultural e natural e o desenvolvimento da argumentação com base em dados científicos.
Trabalhar a Educação Ambiental em consonância com a BNCC é importante não somente pelas exigências legais, mas sim por proporcionar uma formação integral, que prepara o estudante para tomar decisões conscientes em sua vida pessoal, profissional e cidadã.
O papel dos professores e demais profissionais que compõem a escola é fundamental no planejamento, na articulação e na implementação de estratégias no território escolar. São eles que podem articular os saberes que serão mobilizados, propor projetos integradores e criar espaços de reflexão crítica sobre as relações entre o ser humano e o meio ambiente.
A atuação dos educadores, orientada por uma visão sistêmica e comprometida com os princípios da sustentabilidade e responsabilidade socioambiental, potencializa o impacto da Educação Ambiental no ambiente escolar. Mais do que informar, o trabalho educativo nesse campo forma sujeitos capazes de transformar realidades e promover justiça socioambiental.

Insights para o trabalho na escola
Trabalhar Educação Ambiental no Ensino Médio exige criatividade, sensibilidade e uma abordagem integradora, que ultrapasse os limites tradicionais da sala de aula. A proposta é transformar o tema em um eixo mobilizador de práticas educativas interdisciplinares, que envolvam tanto o conhecimento científico quanto o olhar crítico e sensível sobre as relações entre sociedade e natureza.
Para isso, professores de diferentes áreas devem se articular para desenvolver projetos conjuntos, nos quais os estudantes investiguem problemas ambientais local e globalmente, de forma que proponham soluções e compartilhem saberes com a comunidade escolar. Confira algumas possibilidades:
- Criação de projetos com foco em temas transversais, como consumo consciente, crise hídrica, mudanças climáticas, justiça ambiental, mobilidade urbana e agroecologia. Tais temas podem ser explorados por meio de oficinas, rodas de conversa, leitura de reportagens e artigos científicos, debates argumentativos e produção de textos de diferentes gêneros.
- Uso de linguagens artísticas e digitais como ferramentas de sensibilização e comunicação: essas produções estimulam o protagonismo juvenil e favorecem o diálogo entre saberes populares e científicos.
- Exposições fotográficas com o tema “Ambientes em transformação”: podem ser montadas pelos estudantes após saídas de campo em rios, praças ou comunidades afetadas por algum tipo de degradação ambiental.
- Trabalhos audiovisuais: como curtas-metragens, documentários ou podcasts, podem registrar entrevistas com moradores locais, especialistas e lideranças comunitárias, dando visibilidade às questões ambientais do território.
- Exploração de espaços não formais de aprendizagem: como parques, reservas ambientais, mercados públicos, comunidades de pescadores, feiras agroecológicas, espaços de agricultura familiar, permacultura, museus de ciências e centros de Educação Ambiental.
- Visitas e vivências em comunidades tradicionais indígenas/quilombolas ou áreas de preservação: podem proporcionar experiências significativas e ampliar a percepção dos estudantes sobre a diversidade ecológica e cultural a partir de diferentes culturas.
Essas ações, articuladas ao projeto político-pedagógico da escola, tornam o ensino mais dinâmico, engajado e conectado com a realidade.
Conclusão
Diante das reflexões levantadas e a partir de uma compreensão de que a Educação Ambiental é constituinte de uma dimensão essencial da formação humana, podemos, enquanto educadores, ressignificar o papel da escola frente aos desafios contemporâneos.
Ao integrar teoria e prática, currículo e território, ciência e cultura, o trabalho pedagógico se fortalece como um instrumento potente para o desenvolvimento da consciência crítica, do senso de pertencimento e da responsabilidade socioambiental.
Não se trata somente de inserir novos conteúdos, mas de transformar a própria lógica do ensinar e do aprender, com foco na construção de soluções para os problemas reais vivenciados pelos estudantes em seus contextos. É dar sentido, transbordar experiências, deslocar pensamentos, estimular novas ações.
Em síntese, educar para a sustentabilidade exige intencionalidade, planejamento coletivo e abertura ao diálogo entre áreas do conhecimento e com a comunidade.
Os exemplos de estratégias e projetos apresentados demonstram ser possível, sim, construir experiências formativas marcantes e criativas. Ao promover uma educação comprometida com a vida em todas as suas formas, a escola cumpre um papel social, ambiental e humano.
Referências
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CAPRA, F. Ecologia Profunda – um novo paradigma. In: A teia da vida: uma nova compreensão dos sistemas vivos. Tradução de Newton Roberval Einchemberg. São Paulo: Cultrix, 2006.
CARVALHO, I. C. de M. Educação Ambiental Crítica: nomes e endereçamentos da educação. In: Identidades da Educação Ambiental Brasileira. Brasília: Ministério da Educação, 2004.
CORRÊA, D.; BACKES, E. G. Desenvolvimento sustentável: em busca de novos fundamentos. In: SPAREMBERGER, R. F. L.; PAVIANI, J. Direito Ambiental: um olhar para a cidadania e sustentabilidade planetária. Caxias do Sul: Educs, 2006. p. 83–114.
MENEZES, P. K. Educação ambiental. Recife: UFPE, 2021.
PEDRINI, A. G. Educação Ambiental: reflexões e práticas contemporâneas. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
SOUZA, R. S. Entendendo a questão ambiental: temas de economia, política e gestão do meio ambiente. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2000.
Minibio do autor
Danilo Carvalho é graduado em Ciências Biológicas (Licenciatura Plena) pela Universidade Federal de Mato Grosso, com mestrado e doutorado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), além de pós-doutorado pela Texas A&M University, nos Estados Unidos. É professor da UFPE desde 2016, com atuação no Colégio de Aplicação e no Programa de Pós-graduação em Ensino de Biologia do Centro Acadêmico de Vitória (CAV-UFPE). Possui experiência nas áreas de Ensino de Biologia, Formação de Professores, Estágio, Gestão Acadêmica e Escolar, bem como Consultoria Educacional junto ao Ministério da Educação. Acumula artigos com ênfase em metodologias e estratégias didáticas para o ensino de Ciências e Biologia, bem como ensaios pedagógicos e diversos textos instrucionais publicados no campo da Educação.
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