BNCC na Educação Infantil: O que muda na prática pedagógica?

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) veio com o intuito de democratizar o ensino no Brasil, buscando formas de fazer com que todos os alunos tenham acesso ao mesmo tipo de conteúdo. Ele não contempla apenas o ensino fundamental e médio, a BNCC na educação infantil também é uma realidade e trouxe mudanças significativas para essa fase de ensino.
A BNCC na Educação Infantil orienta o trabalho pedagógico das creches, que recebem crianças de 0 a 3 anos, e também das pré-escolas, que trabalham com crianças de 4 e 5 anos. Um detalhe interessante é que ela não funciona como um currículo pronto. Muito pelo contrário, ela os indica como uma referência obrigatória na intenção de nortear o planejamento, a avaliação e as práticas educativas.
O que é BNCC?
Para que fique claro, a Base Nacional Comum Curricular é um documento normativo elaborado pelo Ministério da Educação que define quais são as aprendizagens essenciais que os alunos da Educação Básica têm o direito de desenvolver nas escolas de todo o Brasil.
Como mencionado anteriormente, ela abrange toda a Educação Básica — Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. O objetivo é garantir que todos os estudantes do país, tenham acesso a uma formação de qualidade, independentemente da região em que vivem ou da escola que frequentam.
Vale ressaltar que todas as redes de ensino, incluindo públicas e privadas, devem seguir o que está determinado na BNCC. Ou seja, todos os currículos escolares devem se alinhar ao que está proposto no documento.
Talvez você esteja pensando: então por que as aulas não são iguais em toda rede de ensino? A resposta está na flexibilidade. A BNCC não possui um currículo pronto, ela apenas estabelece os temas que devem ser ensinados em cada ano escolar. A partir disso, cada escola tem autonomia para organizar seus projetos pedagógicos, metodologias e materiais didáticos.
Como a BNCC na Educação Infantil interfere na prática?
Os conteúdos presentes na BNCC voltados para a Educação Infantil trazem algumas mudanças no dia a dia dos professores e das escolas. Veja as principais delas:
1. Centralidade no brincar
Um dos pontos interessantes é que o brincar é reconhecido como eixo estruturante da aprendizagem. Isso quer dizer que o professor tem liberdade para criar situações nas quais as crianças podem interagir e explorar determinado conteúdo de forma prática.
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A ideia é valorizar a imaginação, a experimentação e a curiosidade da criança. Imagine que o conteúdo em sala de aula seja sobre alimentos. O professor pode levar os alunos a uma horta para eles terem a experiência de plantar, colher, colocar as mãos na terra.
Se isso não for possível, ele pode levar alimentos para a sala de aula e propor que os alunos identifiquem os alimentos pela sua textura ou sabor, tornando o aprendizado mais dinâmico, prático e também lúdico.
2. Eixos estruturantes: interações e brincadeiras
Na prática, a BNCC propõe que todas as práticas devem partir de dois eixos: interação e brincadeira. Isso indica que a rotina na escola precisa contemplar tempos, espaços e materiais que favoreçam relações sociais e experiências lúdicas.
Como cada escola possui uma realidade e um espaço físico diferente, cabe ao professor, juntamente com a coordenação e direção da instituição de ensino, pensar em formas de oferecer isso aos alunos. É nessa parte que entra a flexibilidade que a BNCC proporciona às escolas.
3. Campos de experiências
Vale destacar também que a BNCC também traz uma nova proposta ao organizar o trabalho pedagógico em cinco campos de experiências, substituindo assim a antiga fragmentação dos conteúdos em disciplinas. Confira as novas divisões:
- O eu, o outro e o nós;
- Corpo, gestos e movimentos;
- Traços, sons, cores e formas;
- Escuta, fala, pensamento e imaginação;
- Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações.
4. Direitos de aprendizagem e desenvolvimento
Esse documento também ressalta que as crianças devem ter na Educação Infantil seis direitos fundamentais, sendo eles: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer a si mesmo.
Essa mudança visa ampliar as experiências de ensino, mostrando que o aprender não se limita apenas a conteúdos estáticos em sala de aula. A ideia é que a criança possa se desenvolver de forma integral, vivendo novas experiências que vão ampliar sua visão de mundo e também na sua forma de interagir e socializar.
5. Olhar para a criança como protagonista
Outro ponto relevante da BNCC é que, agora, a criança não é vista apenas como uma pessoa que está ali para receber conhecimento. Com as novas propostas de ensino, ela passa a ser um sujeito ativo que constrói coisas com significados.
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Com isso, o professor passa a ser encarado também como um mediador, organizando contextos que favoreçam essas descobertas propostas em sala de aula ou fora dela.
6. Avaliação formativa e processual
Nesse novo modelo educativo, não há provas ou notas. Dessa forma, o acompanhamento da evolução do aluno acontece por meio de registros, portfólios, fotos, relatórios e observações contínuas do desenvolvimento e interação dele diante do que é proposto em sala. O foco deixa de ser em notas e passa a ser no progresso de cada criança.
7. Integração entre cuidar e educar
Também é reforçado na BNCC que o cuidado não deve ser separado da aprendizagem. Ele, na verdade, é entendido como parte do processo educativo. Com isso, rotinas como alimentação, higiene e descanso também são vistos como momentos pedagógicos de interação e autonomia.
Conclusão
De modo geral, a BNCC na Educação Infantil exige que o professor em exercício da sua prática pedagógica planeje experiências ricas, significativas e lúdicas para os alunos, garantindo assim o desenvolvimento integral dessas crianças com interações e brincadeiras. Tudo isso respeitando os conteúdos propostos e os ritmos, culturas e singularidades dos alunos e escolas.
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