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O que é Mobral? O que é supletivo? O que é EJA? Veja a diferença

15 de maio de 2025,
E-docente
O que é supletivo? O que é Mobral? O que é EJA?

Compreendendo os termos na Educação de Jovens e Adultos

Pesquisando sobre a Educação de Jovens e Adultos, frequentemente nos deparamos com termos que parecem apontar para o mesmo referencial. Em alguns casos, tais palavras são usadas como sinônimos, desconsiderando uma longa trajetória de luta por direitos e consolidação de deveres por parte do poder público. Logo, cabe esclarecer algumas definições importantes: afinal, EJA e supletivo são a mesma coisa? E o Mobral, onde entra nessa história?

Contexto histórico da educação de adultos no Brasil

Primeiramente, temos que entender que cada termo faz referência a um determinado contexto sócio-histórico nacional referente à educação para adultos. Embora as diferenças entre eles possam ser interpretadas apenas como nuances, há uma grande carga de valores no uso de cada um. Vamos começar pelo Mobral.

Mobral: origem e proposta

Criação e objetivos do Mobral

O Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral) foi um programa criado pelo regime militar, através da Lei nº 5379 de 15 de dezembro de 1967, com o objetivo de elevar a escolaridade da população brasileira, tendo o analfabetismo de adultos como seu principal alvo. Com amplo investimento financeiro, o Mobral contou também com grande repercussão na mídia devido ao discurso do Governo que o anunciava como uma de suas principais prioridades.

Leia mais: PNLD EJA: um marco para a Educação de Jovens e Adultos no Brasil

Metodologia de ensino do Mobral

A metodologia de alfabetização do Mobral, curiosamente, seguia muito do até então denominado “método Paulo Freire”, usando o desmembramento de palavras geradoras para estudar famílias silábicas e as recompondo para a formação de novas palavras. O grande diferencial aqui era a ausência total das discussões de cunho político e social; ao invés de palavras retiradas do meio social do educando, utilizava-se o mesmo grupo de palavras para aulas em todo o Brasil, promovendo um ensino homogeneizador e acrítico.

Material didático padronizado

Sobre o material didático, era “produzido por equipes pedagógicas contratadas por empresas privadas e destinava-se a todas as regiões do país, não obstante as diferenças linguísticas e socioculturais das populações” (CARVALHO, 2009, p. 43).

Críticas e encerramento do Mobral

Após a criação, em 1975, de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para “investigar e analisar a atuação do Movimento Brasileiro de Alfabetização”, além da baixa profissionalização dos professores envolvidos, do caráter altamente populista e da inadequação do material didático, o Mobral passou por um contínuo processo de desprestígio, sendo associado, com o passar do tempo, a um ensino de má qualidade, até seu encerramento em 1985.

O que é supletivo: significado e limitações

Percepção e uso do termo

O termo ensino supletivo, por sua vez, embora ainda seja usado em muitos espaços, vem sendo cada vez mais abandonado no campo educacional especializado, tendo em vista que ele remete a uma visão de educação para adultos vinculada a um caráter compensatório, de ensino aligeirado, composto por um acúmulo de conteúdos, muitas vezes tratados com superficialidade apenas para garantir a certificação de adultos trabalhadores.

Relação com o legado do Mobral

Vemos, então, que embora bem mais abrangente, a expressão “ensino supletivo” ainda ressoa muito da compreensão de ensino presente no Mobral.

Centros de Estudos Supletivos (CES)

Entendendo um pouco melhor como o termo se populariza na sociedade brasileira, temos que lembrar que foi apenas em 1971 que, pela primeira vez, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) mencionou a educação direcionada especificamente para jovens e adultos. Em 1974, em virtude de uma política adotada pelo Departamento de Ensino Superior (DSU) do Ministério da Educação e Cultura (MEC), são criados os Centros de Estudos Supletivos (CES), escolas públicas estaduais exclusivas para jovens e adultos.

Leia mais: Quais são as 3 funções da EJA?

Metodologia dos CES

Os CES atendiam ao tríplice objetivo de tempo (rapidez de instalação); custo (aproveitamento de espaços ociosos) e efetividade (emprego de metodologias adequadas). Além disso, a estrutura metodológica de tais centros era baseada em módulos de autoinstrução e a frequência não era obrigatória (PAIVA, 1987 apud NASCIMENTO, 2007). Como já é possível notar, a concepção de educação dos CES estava longe dos princípios tão caros à Educação de Jovens e Adultos atualmente.

EJA: a Educação de Jovens e Adultos como direito garantido

Reconhecimento da EJA como modalidade de ensino

Algumas décadas depois, com a publicação de uma nova versão da LDB, em 1996, temos o reconhecimento da Educação de Jovens de Adultos como uma modalidade de ensino, isto é, a EJA não é apenas um programa ou uma campanha vinculada a determinado governo nem uma ação emergencial movida por uma demanda imediata, ela passa a ser compreendida como um espaço formativo que carece de uma metodologia de ensino específica para atender às particularidade de seu público-alvo, de modo contínuo e permanente.

Demandas e estrutura da EJA

Isso significa dizer que a EJA demanda uma organização de horário, um processo avaliativo, uma produção de material didático e uma formação docente que deem conta da diversidade de contextos formativos de nossa população jovem e adulta em busca da conclusão de seus estudos.

Resumo das diferenças entre Mobral, Supletivo e EJA

Logo, se entendermos, primeiramente, os princípios que guiaram a criação do Mobral, em seguida, que o ensino supletivo costuma remeter a um entendimento da educação para adultos não como um direito, mas como uma ferramenta para sanar pontualmente uma defasagem; e, por último, se lembrarmos que a EJA representa a conquista de um direito por educação pública de qualidade para todos aqueles que não tiveram acesso a ela na idade adequada, com respeito às suas particularidades, conseguimos perceber, com mais clareza, as diferenças desses termos. Percepção essa que nos permite uma melhor seleção dos conceitos que irão compor nossos discursos e fundamentar nossas práticas educacionais.

Referências

CARVALHO, Marlene. Primeiras letras – Alfabetização de jovens e adultos em espaços populares. São Paulo. Ática, 2009. 

NASCIMENTO, AD; HETKOWSKI, Tm, orgs. Memórias e formação de professores. Salvador: EDUFBA, 2007.

Minibio do autor

Diego Domingues é graduado em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ/FFP) e doutor em Linguística Aplicada pela UFRJ. Atualmente, atua como professor no Departamento de Português e Literaturas de Língua Portuguesa do Colégio Pedro II.

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