Logo mais as escolas de Ensino Médio terão o Projeto de Vida como um componente curricular. Aquelas escolas que optarem por trabalhá-lo de maneira transversal também se debruçarão sobre o desafio de criar, desde a vida escolar, uma ponte para a vida que os estudantes querem ter no futuro. O quadro a seguir reflete o resultado de uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial. 

Diante da pergunta “como você considera o estilo de ensino no seu país?”, impressiona a lacuna entre aquilo que propõe a BNCC (protagonismo dos estudantes, trabalho com projetos integradores, acolhimento e desenvolvimento de competências socioemocionais etc) e a prática do dia a dia em muitas escolas.

Educação mais conectada para mudar o mundo

Como a demanda por uma educação mais conectada com a realidade fora dos muros da escola é uma velha conhecida, a expectativa na implementação do Projeto de Vida é das melhores.

Essa premissa – a da mudança necessária –,  pode andar de mãos dadas com a própria percepção dos jovens do quanto podem mudar o mundo, conforme demonstra esta pesquisa do Ipea (2013):


Diante dessa crença, não surpreenderia ver uma significativa adesão dos estudantes a essa nova proposta. Além dos estudantes, quais outras dimensões podemos levar em conta ao pensar na adoção do Projeto de Vida na escola? Que tal pensarmos nas famílias?

Talvez, todo esse processo possa trazer as famílias para escola muito além dos momentos de cobranças ou reuniões de pais, que simplesmente comunicam resultados de uma trajetória a que a grande maioria ficou alheia.

Leia também: O trabalho com o Projeto de Vida em tempos de pandemia.

Projeto de vida: Metodologias, vivências e comunidade integradas

O Projeto de Vida, trabalhado a partir de metodologias ativas e incentivando vivências práticas, pode criar oportunidades para que as famílias contribuam com sua experiência profissional, com a expertise que dominam, potencializando até mesmo o acesso dos estudantes ao mercado de trabalho e conectando à comunidade aquilo que acontece no chão da escola.

Mas como fica a escola diante de tantas mudanças? Não podemos esquecer essa dimensão: a dos professores, a da equipe de gestão e a de todos os demais funcionários que integram esse ambiente de trabalho.

Possivelmente, aqui resida o grande desafio para a implementação do Projeto de Vida na escola: a maior parte dos adultos não têm um projeto de vida para chamar de seu. Isso, é claro, inclui quem trabalha na escola. 

Pelas mais diversas razões, muitos adultos não aprenderam a planejar ou  sequer a sonhar, vivendo a vida conforme ela vai se apresentando à sua frente. Inspirar os professores a vivenciar aquilo que pregam, fomentando o autoconhecimento e o autocuidado, para impulsionar seus próprios sonhos, é um caminho para sedimentar em si mesmos aquilo que precisarão reconhecer e estimular nos estudantes.

Entender sobre planejamento, metas, construção de hábitos que alicercem conquistas, sejam no campo pessoal ou profissional, constituirá parte do papel que o professor vai cumprir junto aos jovens e suas  famílias.  

PNLD 2021 – Objeto 1: Acesse a obra “Construindo o Futuro – Projeto de Vida“.

Escuta, acolhimento e engajamento no projeto de vida

Sem esse compromisso, sem viver na própria pele os desconfortos da busca dos seus talentos, o sacrifício em nome de um objetivo maior, talvez, esse professor e essa equipe pedagógica não consigam se engajar no urgente trabalho com o Projeto de Vida no Brasil.

O momento é muito propício, mas também é crítico. Com a pandemia de Covid-19, na sociedade que viveu tantos lutos nesses últimos tempos, no Brasil que precisa contornar a evasão escolar e erguer muito alto os estudantes que nos aguardarão, ávidos de serem ouvidos, de serem acolhidos, de ser estimulados a projetar um futuro mais promissor, é crucial que as equipes pedagógicas de norte a sul assumam esse posto: o de guardiões do futuro, por meio da chegada do Projeto de vida nas escolas. Vamos juntos, guardiões?

Referências:

IPEA. Pesquisa Agenda Juventude. Disponível em: <https://www.ipea.gov.br/participacao/images/pdfs/participacao/pesquisa%20perfil%20da%20juventude%20snj.pdf>. Acesso em: 27 Feb. 2021.

Fórum Econômico Mundial. Schools of the Future: Defining New Models of Education for the Fourth Industrial Revolution. Disponível em: <https://www.weforum.org/reports/schools-of-the-future-defining-new-models-of-education-for-the-fourth-industrial-revolution>. Acesso em: 27 Feb. 2021.

Karina Bojczuk

Formada em Letras pela USP, Karina é especialista em Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem pela PUC-RS e entusiasta das neurociências aplicadas à Educação e do Futuro do Trabalho. Acompanhe no LinkedIn: www.linkedin.com/in/projetodevidacomkarina