pensar planejamento pedagógico

Vocês já pensaram que planejamento é algo que fazemos o tempo todo, mesmo sem perceber? Desde que despertamos pela manhã, já começamos com os nossos planos: “Primeiro tomarei um café, depois darei encaminhamentos relacionados à casa e à família, em seguida olharei os e-mails, então responderei os mais urgentes, daí vou preparar algumas aulas, depois tentarei resolver aquele assunto por telefone etc. etc. etc.”.

Ou seja, na vida cotidiana, planejar é inevitável, mesmo quando não é fruto de uma decisão muito consciente e intencional. Vai acontecendo naturalmente. Faz parte da existência humana.

Temos o tempo todo intenções, necessidades, desejos e, para concretizá-los, decidimos o que fazer, como, com quais prioridades e em que tempo. Isso é planejar, mesmo que para tanto não fiquemos dizendo a nós mesmos “agora vou planejar”. Nesse caso, o planejamento é de afazeres da vida privada.

O planejamento pedagógico escolar de acordo com as necessidades

Mas e quando se trata do espaço público da escola, do exercício da nossa profissão, da docência? É exatamente a mesma coisa?

Sim e não.

Sim, porque, no espaço público da escola, do exercício profissional, da docência, também temos, o tempo todo, intenções, necessidades, desejos e, para concretizá-los, decidimos o que fazer, como e quando. Nesse sentido, é sim equivalente.

Não, porque – sendo a educação escolar de natureza pública e considerando a função social da escola de garantir os saberes considerados necessários em um determinado tempo histórico –, o que fazer, quando, como e em qual ordem deve resultar de duas circunstâncias principais: os combinados decorrentes do projeto coletivo que diz respeito ao trabalho de todos os profissionais e as necessidades de aprendizagem dos destinatários das nossas ações, isto é, os alunos. Pelo menos é assim que deveria ser.

Portanto, no âmbito privado ou no ambiente público, os processos de planejamento coincidem com a necessidade inerente ao curso da vida que acontece e não coincidem em relação ao nível de autonomia para as escolhas. Em outras palavras: cada um pode decidir sozinho o que lhe parecer melhor quando se trata da sua própria vida, mas não quando se trata da vida coletiva na escola.

Anton Makarenko, um pedagogo ucraniano do século passado, afirmava algo que jamais perderá o sentido e a atualidade, mesmo com o passar do tempo: 

“Não podemos educar adequadamente um coletivo de alunos sem nos constituirmos em um coletivo de educadores.” 

É assim mesmo. Por isso, os diferentes âmbitos de planejamento na escola devem resultar de uma produção conjunta dos profissionais.

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Por que pensar em planejamento pedagógico?

Desconstruindo conceitos estabelecidos nas rotinas

Até mesmo a rotina das atividades diárias com os alunos e que representa o nível mais específico de planejamento, embora organizada pelo professor ao considerar sua própria turma, deve ser um desdobramento do que prevê o projeto geral da escola.

A rotina concretiza, na sala de aula, tanto as concepções do professor como as intenções educativas definidas previamente, que se revelam na forma como são organizados o tempo, o espaço, os materiais, as propostas e intervenções com os alunos. 

Por essa razão, funciona como uma situação pedagógica, a despeito de não se planejar com essa finalidade.

Se, por exemplo, a leitura é realizada apenas uma vez ou outra e, em contrapartida, a cópia é uma atividade diária, ainda que de forma involuntária e subliminar, estamos comunicando aos alunos um valor equivocado: a cópia é mais importante do que a leitura.

Se o trabalho com determinados conteúdos ocorre somente às vésperas da avaliação, o que estamos comunicando é que aqueles conteúdos só importam por causa da avaliação. Ou seja, nossas concepções inevitavelmente se expressam na priorização das atividades propostas na sala de aula, na forma como agimos durante as atividades e no uso que fazemos do tempo.

Planejamento pedagógico escolar: perguntas importantes a se fazer

A qualidade do trabalho pedagógico depende muito de como planejamos o uso do tempo didático a partir de algumas perguntas simples – mas cujas respostas são difíceis.

Como são organizadas as horas em que os alunos permanecem na escola? O que é possível aprender durante esse tempo? Estamos priorizando o que é essencial ou estamos propondo atividades de pouca ou nenhuma relevância?

Como fazer as melhores escolhas considerando as expectativas de alcance, o conhecimento prévio dos alunos e o tempo real? Será que não há situações pouco produtivas para a aprendizagem que propomos de forma irrefletida e automatizada? Há propostas capazes de potencializar várias aprendizagens que não estamos realizando?

O fato é que o uso adequado do tempo, em favor da aprendizagem de todos, é um desafio e uma arte, não só como uma projeção no planejamento, mas principalmente no trabalho concreto com os alunos. Por isso é fundamental produzir esse conhecimento em parceria, de forma solidária, nos espaços de formação na escola, com o apoio do coletivo.

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Rosaura Soligo

Possui formação em Psicologia e Pedagogia, mestrado e doutorado em Educação, integrou a equipe nacional do PROFA – Programa de Formação de Professores Alfabetizadores e atualmente coordena grupos de formação independentes e presta assessoria a instituições educativas públicas e privadas.

Site: https://rosaurasoligositeoficial.wordpress.com/