importância leitura educação infantil

Apesar de muitos os rechaçarem e até se desculparem pelo seu uso, os clichês não são por acaso. Se são sinônimos de lugar-comum ou estereótipo, a palavra ou expressão seguidamente repetida chegou a este status justamente pela sua efetividade.

Dizer, portanto, que ler é “viajar sem sair do lugar” é mais do que uma repetição que possa soar inconveniente: é a melhor representação já feita, até então, sobre o grande alcance da leitura. Infelizmente, entretanto, o Brasil ainda possui poucos desses viajantes.

De acordo com pesquisa realizada pela Retratos da Leitura no Brasil, em 2020, os brasileiros com idade superior a 5 anos que não leram nenhum livro nos três meses anteriores ao levantamento representavam 48% da população: quase 100 milhões de pessoas. Além do notório déficit educacional no país, as razões para isso são variadas. 

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Se enumerar as causas do baixo quantitativo de leitores no Brasil é tarefa para trabalho mais denso, exemplificar alguns dos erros mais cometidos por pais, responsáveis ou professores na tentativa de incutir este hábito é tentar oferecer um novo norte rumo a um porvir diferenciado. 

Descrever algumas das maneiras de disseminar o hábito da leitura para as novas gerações, por sua vez, é mais do que um convite irrecusável: é dever cívico. Comecemos, então.

Por que incentivar a leitura infantil?

Antes de começarmos a listar novas formas de estimular o hábito de leitura, além de enumerar alguns dos livros sugeridos por professores e mestres para os estudantes dos anos iniciais, é importante explicar o porquê de fazê-lo. 

Para quê ler? O que ter um livro entre as mãos (ou no computador, tablet, celular etc.), com regularidade, pode fazer pelo desenvolvimento das crianças?

Ler promove o enriquecimento do indivíduo em vários níveis, tanto cognitivo quanto socioemocional. Propicia a melhoria do funcionamento cerebral, a ampliação do vocabulário, o fortalecimento da criatividade e a apuração do senso crítico. Algumas pesquisas apontam que há aumento até mesmo da empatia, além de redução dos níveis de estresse.

Quais são os benefícios da leitura na infância?

O aumento do quantitativo de palavras de que uma criança dispõe está diretamente relacionado a uma maior facilidade de comunicação, o que proporciona maior troca entre ela e seus pares. O que gera, consequentemente, uma maior capacidade de aprendizado e ampliação do repertório sociocultural. 

Além disso, ao apreender novos conhecimentos acerca do mundo, das outras pessoas e de si mesma, a partir da leitura, a criança acaba desenvolvendo, desde cedo, ações empáticas.

Nas atividades escolares, outro clichê é bem representado: quem lê bem escreve melhor. Peça-chave para o desenvolvimento da capacidade linguística, a leitura enriquece o vocabulário, como vimos. Desta forma, quem conhece melhor seu idioma possui mais recursos para expressar-se melhor por meio dele.

Para finalizar, e não menos importante, em uma rotina cada vez mais globalizada de crianças entretidas com videogames, computadores, aplicativos online e demais tecnologias em seus momentos de lazer, um livro é um instrumento de distração que os afasta, ao menos temporariamente, destes dispositivos que trazem tantas consequências desfavoráveis a curto e longo prazo, quando utilizados de maneira exacerbada.

Como NÃO agir com jovens leitores

Fazendo um breve exercício mental, tente lembrar quais são seus mais recorrentes hábitos espontâneos e rotineiros. O que mais faz nas horas vagas? 

Seja qual tenha sido a resposta (assistir a filmes ou séries, passear em parques, ir ao cinema, restaurantes, museus ou, simplesmente, passear com os amigos), há algo em comum a todas elas: o envolvimento de sentimentos de prazer e satisfação. 

Uma determinada ação só vira hábito se ela vier acompanhada de algumas dessas sensações. 

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Como, então, ler pode se transformar em uma atividade habitual se não for algo prazeroso? Com o intuito, ainda que totalmente bem-intencionado, de estimular esse gosto nas crianças desde cedo, alguns pais e professores cometem alguns equívocos, tais como:

  • Implementar a leitura como tarefa obrigatória/burocrática estabelecendo, inclusive, quantitativo de páginas a se ler diariamente. Isso a torna entediante e distante de algo espontâneo e satisfatório.
  • Tentar impor o próprio gosto, desdenhando, menosprezando ou ignorando as preferências da criança. Se ela gosta de histórias de bonecas, carros, determinados personagens ou gênero, deve-se respeitar essa predileção. É importante, entretanto, que pais e professores estejam atentos aos conteúdos, evitando obras com palavras inapropriadas, histórias politicamente incorretas ou que incorram em preconceitos e discriminações, sem problematização.
  • Procurar fazer o “teste” se a criança leu ou não a obra em questão por meio de provas, resumos ou questionários. Vale mais fazer um debate em classe (no caso da escola) ou conversar, espontaneamente, sobre o que foi lido.

Como e quando devemos trabalhar a leitura na educação das crianças?

Por incrível que possa parecer, fala-se que bem cedo, quando a criança ainda é um bebê! Antes mesmo que ela conheça qualquer letra ou palavra, o interesse pode ser despertado por meio do contato com o objeto livro, nos mais variados formatos. Além disso, pode haver contação de histórias e repasse por via oral de textos leves e curtos. A partir do avanço da idade, pode-se ir aumentando o tamanho das narrativas.

     Veja também: Projeto de Leitura: sua importância e como fazer 

Além disso, como pais e mestres são os primeiros espelhos e referências, a criança que assiste, com frequência, a estas pessoas lendo, tende a imitá-las, a copiar o comportamento. Por isso, é importante sempre haver a oferta de livros para os pequenos.

Algumas dicas para estimular os pequenos à leitura

Antes de mais nada, os livros devem ser escolhidos de acordo com a faixa etária das crianças. Para os bebês, é importante que sejam objetos mais sensoriais, com texturas atrativas, cores fortes ou que possam ser levados ao banho, por exemplo. 

É o momento da descoberta do objeto, em que se vai folhear as páginas, explorar o novo brinquedo (até então, é isto que deve ser).

À medida que a criança cresce, as histórias precisam estar adequadas à sua compreensão. Para isso, é importante, ainda, que os pais leiam as tramas, sozinhos, antes de apresentarem aos filhos e, se for o caso, adaptarem ao entendimento que sabem que a criança pode alcançar. 

Neste momento, inclusive, dar a tonalidade certa a frases e expressões, descrevendo as imagens que decoram as páginas, pode conferir mais vida e veracidade aos personagens e às narrativas.

Atenção: respeite o tempo da criança, sem forçar uma atividade a qual ela não quer desempenhar naquele momento. Forçar pode, justamente, provocar repulsa ou reação negativa. Deixar os livros espalhados, naturalmente, por lugares estratégicos, pode despertar o interesse genuíno e espontâneo.

A leitura nos Anos Iniciais

Dos três aos seis anos de idade, as imagens, ritmo e interpretação da história ainda são importantes, mas a criança já começa a encontrar, na trama, em si, pontos de interesse.  É nessa fase que os livros começam a despertá-la para o conhecimento do mundo ao seu redor.

Na escola, já pode ser a oportunidade de leituras em grupo, sempre valorizando a participação democrática. Os estudantes podem, inclusive, escolher uma temática (determinado personagem, histórias de fantasmas, viagens ou terror) e ler textos específicos sobre ela. Nessa fase, também, os estudantes podem fazer trocas de livros entre eles.

Na instituição de ensino ou, principalmente, em casa, deixar que a criança escolha o seu cantinho de leitura contribui para que a associação dos livros a sentimentos de satisfação ocorra. 

Determinar que este momento deva ser na mesa ou em uma cadeira específica pode fazer com que a criança associe essa atividade a algo obrigatório ou determinado por outrem. 

A dica é deixar que o momento ocorra onde ela sinta-se mais confortável: à sombra de uma árvore no quintal, em uma cadeira na varanda ou na própria cama.

Sugestões de livros para compor o “cantinho da leitura”

Pelo Professor Allison da Hora – doutor em Teoria da Literatura e, atualmente, professor substituto de Latim na UFPE:

1 – Lua, colar, coral (2021) – Thiago Cascabulho/Ilustrações Estúdio Rebimboca – Ed. Caraminholas

Parte do projeto Abraça o mar, que surgiu da ONG Vale do Paraíba, no Rio de Janeiro, que visa à educação para preservação dos mares, o livro conta a história de Jaci, um Coral-Cérebro que cresceu dentro de uma garrafa em Abrolhos, e seus amigos e amigas, que vão refletindo acerca das mudanças do ecossistema local ao longo do tempo. Podendo atender a todos os anos iniciais, o livro e projeto têm distribuição gratuita em PDF e encontra-se disponível, juntamente com o projeto pedagógico no site “abraça o mar”.

2 – Coisa de menina ou de menino? (2018) – Pri Ferrari (autora e ilustradora)  – Ed. Bonifácio/Cia. das Letras

Indicado para os três primeiros anos, o livro é uma “junção” de duas obras da autora (Coisa de menina, 2016 e Coisa de menino, 2017), voltados para a faixa etária da Educação Infantil e aqui melhor desenvolvido para atender as especificidades do 1º ao 3º ano, pensando de maneira inteligente e desprovida de estereótipos as questões de gênero que permeiam as discussões atuais.

3 – A bolsa amarela – (1976) – Lygia Bojunga – Ed. Casa Lygia Bojunga

Voltada para crianças a partir de 9 anos, o livro foi pioneiro e até hoje é considerado referência na literatura infanto-juvenil por ter abordado em sua época temas como gênero, e descobertas de uma pré-adolescente que lida com a repressão da família de três vontades que guarda numa bolsa amarela (a de crescer, a de ser garoto e a de ser escritora), sendo o começo das mais variadas situações reais e imaginárias, que se entrelaçam.

4 – Tudo vai dar certo: baseado na canção de Bob Marley “Three Little Birds” – (2013) – Cedella Marley/Bob Marley, ilustrado por Vanessa Brantley-Newton. – Martins Fontes (Selo Martins)

Adaptado pela filha mais velha do mestre do ritmo jamaicano, a canção (e a história) falam de coisas belas da infância, com a mesma mensagem de paz e harmonia do menino que passeia pelas ruas de seu bairro acompanhado sempre dos seus três amigos passarinhos, dos amigos e dos familiares. Belo livro que tem a vantagem de ser bilíngue, possibilitando várias abordagens.

5 – A caixa de surpresa (2009) – Madu Costa – Ed. Nandyala

Conhecida contadora de histórias e educadora (ministra oficinas nas áreas), Madu Costa traz a história de Vitor, para trabalhar a ideia de afirmação de identidade a partir da infância. No livro, Vitor busca um “presente especial”, para uma “pessoa especial”: sua professora. Por meio da imaginação (e de realidade, por que não?), vai guardando todas as coisas que considera belas em potinhos. Livro belo e fundamental.

6 – Pode chorar, coração, mas fique inteiro (2020) – Glenn Ringtved, traduzido por Caetano W. Galindo; Charlotte Pardi, ilustradora. Cia. das Letrinhas.

À semelhança do cultuado “O pato, a morte e a tulipa”, do alemão Wolf Erlbruch (editado no Brasil pela extinta Cosac Naify e hoje artigo de colecionador), o livro do dinamarquês Glenn Ringtved se presta a traduzir, de forma sutil, leve e encantadora o espinhoso tema da morte para as crianças. 

Não por acaso, venceu o Prêmio Nacional Dinamarquês de Livros Infantis, que fica só atrás do tradicional Prêmio Hans Christian Andersen em importância.

Por Maria da Conceição Medeiros Machado, Diretora do Educandário Anunciada Medeiros, em Olinda:

1 – Vamos Salvar o Planeta, Fabiana Martins

Conta a história de Bóris, o monstrinho que quer salvar o planeta.

2 – Leo e a Baleia – Benji Davies

Na trama, um menino solitário, um filhote de baleia e uma amizade que mudará suas vidas para sempre.

3 – Elisa e Filomena – Luiza Carreirão

Ensina as crianças a amarem a natureza, mostrando como podem se tornar amigas das plantas e conviver melhor com o meio ambiente.

4 – Chapeuzinho Amarelo – Chico Buarque

A protagonista da história escrita por Chico Buarque, e ilustrada por Ziraldo, é de uma menina que tinha medo de tudo. A garota temia situações mais comuns, como cair, machucar-se ou sentir uma indisposição, além do temor de animais e de trovão.

“A leitura de um bom livro é um diálogo incessante: o livro fala e a alma responde”.

André Maurois, romancista