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Todo pai, mãe ou responsável sabe: na vida das crianças, cada dia pode trazer uma novidade. A expectativa é de recorrentes ineditismos: o primeiro dente, sorriso, som, palavra ou passo. Dizer que “o tempo passou rápido demais e o crescimento dos filhos veio como súbita ventania” também já é quase clichê. 

Relatos amplos e comuns por serem retrato de uma percepção geral: a velocidade incontestável do crescimento infantil, notadamente nos anos da primeira infância, dos 0 aos 6 anos de idade. 

Uma fase da vida em que as crianças possuem um amplo potencial de absorver informações e em que os aprendizados de que se utilizarão ao longo de toda a vida são captados. Porque as conexões cerebrais estão preparadas e aptas para isso.

Muitos consideram, então, que, por ser este o momento ideal para aprender, possa ser a fase perfeita para o ensino de um segundo idioma. Outros questionam-se se seria uma precipitação.

A verdade, de acordo com psicólogos e educadores, é que Yes, Sí, Oui: esse é o momento ideal.

Como funciona o cérebro de uma criança na primeira infância?

De acordo com Ana Carolina Cruz, Psicóloga Clínica e especialista em Neuropsicologia, desde o nascimento, o cérebro do bebê, a partir de sua relação com o mundo, começa a expandir e formar novas sinapses (conexão entre os neurônios, que permite a passagem de informações). 

É a partir destes estímulos recebidos, as redes de sinapses vão formando diferentes aprendizagens, sendo um processo que ocorre com maior intensidade nesta faixa etária. “Por isso, esta fase é conhecida como a da ‘grande janela de oportunidade do desenvolvimento”. A partir dos seis anos, essas formações de novas sinapses não se encerram, mas vão diminuindo progressivamente. 

Isto acontece para que as redes de aprendizagens já formadas se fortaleçam, e assim, esse cérebro possa amadurecer. 

Esta primeira infância é sim, portanto, a melhor fase para diferentes aprendizagens, inclusive o de diferentes idiomas porque é um cérebro muito ‘plástico’ e disponível ao novo”, explica Carolina.

Qual a idade mínima para aprender um novo idioma?

Para aproveitarem a flexibilidade e capacidade de absorção deste cérebro mais plástico, muitas escolas de idioma oferecem cursos praticamente desde o berçário. 

No curso de inglês Britanic, localizado no bairro de Setúbal, em Recife (PE), por exemplo, as aulas podem começar entre quatro e cinco anos de idade. 

O professor Fábio Oliveira explica que a instituição se utiliza do método comunicativo, que consiste no aprendizado do idioma por meio de associações e cujo enfoque é mais voltado para a apreensão do vocabulário e comandos com a utilização de suportes como imagens, vídeos, músicas, dentre outros. “O objetivo é que a criança aprenda a expressão, primeiramente, para depois entender melhor como utilizá-la”, explica.

Além do melhor aprendizado do vocabulário, o aluno que ingressa no estudo do segundo idioma desde cedo, também apreende um melhor repertório de habilidades não-verbais. 

“Quando uma criança de 7 anos que estuda desde pequena vê determinada imagem, ela, automaticamente, pode associá-la aos dois idiomas. Na cabeça dela, é uma coisa só, sem comparações. Diferente do que acontece com quem inicia o aprendizado na fase adulta”, explica Fábio.

Isto acontece, de acordo com a psicóloga Ana Carolina Cruz, porque se trata de um cérebro que tende a possuir mais vias de conexões neuronais. “Quanto mais vias de acesso se tem, mais rápido e a diferentes lugares você pode chegar, se fizermos um paralelo das redes neuronais com as vias de uma cidade, por exemplo. 

Há casos, porém, em que o bilinguismo pode provocar confusão linguística, podendo repercutir negativamente na aprendizagem. Estes casos, entretanto, estão mais relacionados a crianças com algum tipo de dificuldade cognitiva ou emocional, devendo ser olhados com cuidado”, alerta Ana Carolina.

Desenvolvimento linguístico e cultural

De modo geral, o bilinguismo também possui efeitos positivos no desenvolvimento linguístico e educacional das crianças. 

O professor Fábio relata que se, atualmente, as crianças iniciam sua inserção no segundo idioma a partir dos 4 anos, antigamente acreditava-se que a idade ideal seria a partir dos 6. “Como elas estão entrando nas escolas formais cada vez mais cedo, os cursos foram acompanhando esta modificação”, analisa.

Dentre as principais consequências disto está um maior desenvolvimento linguístico, educacional e até mesmo sociocultural. “O aumento das capacidades cognitivas ligadas a memória, atenção, raciocínio lógico e criatividade traz também uma maior habilidade de interação. Com este background, o aluno consegue apreender aspectos culturais inseridos nos tópicos estudados. Quando visitar pontos turísticos de um país, vai saber qual a moeda local, como pedir informações usando perguntas formais ou informais”, exemplifica.

Aprender um idioma, então, não se relaciona apenas com o falar uma nova língua, mas fazer diferentes associações mentais que envolvem aspectos verbais, não verbais da cognição, além do emocional, de acordo com Ana Carolina Cruz. 

Diante disso, ressalta que, para além das possibilidades cognitivas, há ainda a possibilidade de que a criança possa ampliar suas redes de socialização. “Ela acessará com maior facilidade novas pessoas e diferentes culturas”, destaca a psicóloga.

Em quanto tempo as crianças adquirirão a fluência?

Diante desta incursão tão inicial no estudo de um segundo idioma, a pergunta que fica é a partir de que idade uma criança que começou a estudar cedo desenvolve fluência. 

De acordo com o professor Fábio, isso depende muito da exposição ao idioma. “Se a criança só tem este contato com a língua nas duas horas e meias de aula por semana, levará um tempo maior para adquirir este domínio do que outra que possui esta frequência por meio de games, música, redes sociais, jogos, filmes ou séries. Esta última poderá, até, atingir certo nível de fluência com 10 anos de idade. Geralmente, entretanto, fica entre 12 e 15”, informa.

A contribuição dos pais na educação das crianças

Se a exposição a produtos culturais influencia de forma positiva o aprendizado das crianças, a contribuição dos pais também pode fazer diferença. Essa possibilidade, entretanto, esbarra em uma problemática tipicamente brasileira: a educação.

O professor cita uma pesquisa feita pelo instituto cultural British Council de 2020 e repetida em 2021, segundo a qual apenas 5% dos brasileiros conseguem manter uma conversação em inglês. 

“Aprofundando esse número, descobriu-se que apenas 1% da população possui fluência na língua. Então, de que forma, no âmbito familiar, os pais vão acompanhar esse processo de aprendizagem do seu filho ou contribuir para ele? Se o aluno está estudando sobre esportes, por exemplo, chega em casa e não consegue dialogar com os pais sobre a aula, o assunto só será retomado, de forma efetiva, quando ele retornar ao curso. Já quando a família consegue fazer perguntas e interagir com ele sobre o assunto, o processo potencializa-se”, afirma.

Patrícia Monteiro de Santana

Jornalista formada pela Universidade Federal de Pernambuco em 2000. Com atuações em veículos como TV Globo, Revista Veja e Diario de Pernambuco, além de atuante em assessoria de comunicação empresarial, cultural e política.