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Há muito a historiografia luta para que entendamos que a história é construída por muitos, que é construída com inúmeros fatos e que esses se relacionam e que precisamos buscar essa compreensão.

Portanto, é um olhar que rebate a ideia de heróis e heroínas. É um olhar, também, que traz a ideia de que a história é sempre contada por alguém e que pode ter uma ou mais versões. 

Diante dessas ideias, o trabalho escolar voltado para uma só data e em um único personagem não cabe mais. Esses novos caminhos é o que buscaremos neste breve texto.

Para começar: entenda a história

A Conjuração Mineira, ocorrida no século 18, foi uma das revoltas, e não a única, organizada contra a coroa portuguesa. 

Seus integrantes eram homens de diferentes ofícios da elite das Minas Gerais e entre eles Joaquim José da Silva Xavier, também conhecido como Tiradentes. 

Esse movimento contestava a relação metrópole e colônia e expressava uma enorme insatisfação com os impostos cobrados pela coroa a partir do ouro encontrado, mas não só pelo alto percentual dos impostos, protestavam, também, contra a forma violenta como esses eram cobrados. 

Esses homens defendiam ideias republicanas, ideias de autonomia econômica e política da colônia. É comum os termos inconfidência e conjuração serem usados como sinônimos. 

Atenção, não são!

Inconfidência se trata de quebra de sigilo; revelação, de segredo; já conjuração refere-se à associação de indivíduos a alianças, a uma conspiração. Portanto, aqui trataremos muito mais da Conjuração Mineira.

A história de alguém

A abordagem sobre esse dia poderá ser iniciada com o conhecimento sobre quem foi esse homem, Joaquim José da Silva Xavier, apelidado de Tiradentes que morreu em 21 de abril de 1792.

Porém, o trabalho com essa biografia não deve iluminar as formas como esse personagem foi morto, mas o porquê foi morto. É preciso enfatizar, também, sobre o que lutava e com quem lutava. E sobre essa luta, ainda, é preciso saber o que esses homens desejavam e quem se beneficiaria com os ideais que pregavam.  

Enfim, cabe a nós professores e professoras, trazermos um olhar crítico sobre o momento histórico com o qual trabalhamos.

Portanto, a data celebrada é a data que representa um movimento de muitos e não a morte de um único homem.

O desafio

Perguntas podem levar os alunos e alunas a refletirem:

  • Por que esse homem foi morto?
  • Quais ideias defendia?
  • Estava sozinho nessa luta?
  • O que você acha sobre alguém não poder dizer ou expressar seus pensamentos?
  • O que você acha sobre alguém ser morto ou ser expulso de seu país por pensar diferente do governo da época?

Essas perguntas tiram o foco da pessoa e trazem conceitos como liberdade e justiça para o centro da conversa. E, logicamente, o aprofundamento dessas ideias dependerá da faixa etária com a qual você estiver trabalhando.

Contextos explicam muito

A compreensão da Conjuração Mineira é bastante complexa, mas isso não quer dizer que alguma abordagem não possa ser feita.

Para compreender a luta desses homens, é preciso que estudantes tenham alguma noção sobre a relação de uma metrópole (Portugal) e sua colônia (Brasil). 

A partir dessa relação (estabelecida pelo pacto colonial), é possível investir no significado de autonomia, de ser capaz de optar sobre o que é melhor ou não para o local onde vivem.

Esse contexto pode explicar parte dessa luta, mas também é preciso abordar o contexto social brasileiro dessa época. 

O Brasil era um país escravagista e não há registros efetivos que esses homens lutassem pelo fim da escravidão. Considerando que mais de 60% da população das Minas Gerais, no século 18, era composta por negros e negras escravizados, o que é possível inferir? A partir dessa ideia, é possível um significativo exercício de reflexão sobre a luta desses homens: lutavam por quem?

Representações iconográficas: um alerta

O ensino de História preza muito o uso de diversas fontes históricas e, dentre elas, a iconográfica. Mas, no caso da Conjuração Mineira, é preciso muita atenção. 

Muitos estudos apontam as semelhanças entre Tiradentes e Cristo em várias representações, e sabemos que não há relato sem intenções. 

Além desse aspecto, há uma dramaticidade impressa nas representações que levam à ideia de heroísmo de um só homem.

Nossas lutas

Um momento desse trabalho, em sala de aula, poderá ser o levantamento de aspectos da sociedade em que vivemos e que precisam ser melhorados ou superados. 

Aspectos que precisam fazer parte de nossas vidas para que a sociedade seja mais igualitária, mais justa. Esse trabalho poderá contemplar as seguintes etapas:

  • Debater sobre qual será o tema da “luta” e terem como desafio chegarem a um consenso.
  • Discutir sobre quem se beneficiaria com essa luta. É uma luta que atende a poucos ou a muitos?
  • Estabelecer o que “a luta” pretende. Qual é o maior objetivo?
  • Divididos em equipes, elaborar uma bandeira que represente essa ideia.
  • Eleição de qual bandeira melhor representa o “movimento”.
  • Elencar as ações que devem acontecer para a solução do que levantaram.

Esse trabalho pode se desenvolver a partir de um problema vivido na escola e não um problema de âmbito social. Poderá estar voltado a alguma ocorrência que esteja quebrando a harmonia da unidade escolar como: bullying, lixo no chão, respeito aos funcionários da unidade… 

O central é que percebam que para a resolução de um problema que envolve um grupo de pessoas, é preciso que um maior número de envolvidos se comprometam com a luta para a solução.

Para saber mais:

Schwarcz, Lilia M. e Starling, Heloisa M.. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

Bueno, Eduardo. Brasil: uma história – a incrível saga de um país. São Paulo: Editora Ática, 2003.

Mariângela Bueno é Graduada em História e Pedagogia, trabalha com formação de professores e professoras em redes privadas e públicas na área das Ciências Humanas e Sociais e, nessa área, é selecionadora do Prêmio Educador Nota 10 desde 2018.