23 de fevereiro, 2021 - Por e-docente
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No imaginário das crianças e da imensa parte dos adultos, mora um estereótipo de cientista clássico: de cabelos meio desajeitados, óculos, jaleco e rodeado de vidrarias, microscópios e equipamentos em seu laboratório. Além disso, é bem possível que seja um homem e branco. Esse “cientista imaginário” é construído lentamente ao longo dos contatos que temos com a Ciência, seja na escola, na mídia, nos filmes, nos livros etc.
Ao longo da história, sabe-se que a pesquisa científica foi majoritariamente atribuída aos homens, e que as grandes cientistas mulheres foram colocadas à margem das publicações e dos louros dos avanços na área. Além disso, o perfil para ciência sempre foi vinculado às elites que podiam pagar pela cara e restrita formação acadêmica.
O experimento na Ciência é um recurso necessário para a verificação das hipóteses elaboradas pelos cientistas, quando essas são possíveis de serem testadas. Os resultados de um experimento científico podem ser muito diversos, negando, confirmando ou modificando a hipótese inicial. Para que a sua confiabilidade seja a mais alta possível, é comum que alguns procedimentos façam parte dos experimentos, a fim de controlar o máximo de variáveis.
Um exemplo deles é a manutenção de um grupo-controle. Por exemplo, se quisermos saber se a quantidade de certo nutriente favorece o crescimento de uma planta, será preciso fazer um experimento modificando a quantidade do nutriente normalmente disponibilizada para ela, mas também é indispensável manter outra planta com a quantidade tida como normal deste mesmo nutriente.
Somente modificando essa única variável entre experimento e controle, mantendo ao máximo todas as outras – temperatura, umidade, luminosidade, espaço etc. – poderemos fazer afirmações mais seguras caso os resultados desse experimento se mostrem divergentes. Podemos citar outros procedimentos importantes que aumentam a confiabilidade dos experimentos nas Ciências da Natureza, como a randomização (escolha aleatória de participantes) e o método duplo-cego (em que nem os cientistas e nem os participantes sabem se fazem parte do grupo-experimental ou do grupo-controle).
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Contudo, quando falamos de experimentação na escola, é importante distinguir a finalidade do experimento científico entre os pares do seu papel como recurso didático e educacional. Comumente, os experimentos na escola, as chamadas “experiências”, são utilizados como estratégias para validar a explicação teórica do professor, para demonstrar e certificar fenômenos naturais. Também se acredita que, fazendo experimentos, os alunos “descobrem coisas” e “fazem ciência”, mas não é bem isso que a literatura em ensino e aprendizagem de Ciências na escola vem nos mostrando nas últimas décadas. Para que uma experimentação seja também uma boa situação de aprendizagem, é importante que os alunos atuem de forma mais ativa nessa atividade, de modo que possam ir além de observar e registrar o que viram. Por isso, para ampliar o potencial educativo dos experimentos na escola, é indispensável que as alunas e os alunos:
Obviamente, esses encaminhamentos devem fazer parte de um planejamento maior do professor. Se o experimento deve ser uma ferramenta para pensar sobre os fenômenos e sobre como se faz Ciência, os docentes precisam autorizar que os alunos tenham um papel ativo nessas atividades. Para isso, aqui vão algumas condições importantes:
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Aqui cabe retornar a algo importante já citado no início do texto: a compreensão que temos da Ciência se constrói a partir das experiências que temos com ela, inclusive na escola. Estudos apontam que as brincadeiras na infância, por exemplo, acentuam a desproporção entre homens e mulheres na ciência. Meninos costumam ser mais encorajados a experimentar, desmontar, investigar, enquanto as meninas são mais estimuladas ao cuidado e à humanização.
Isso impacta o cenário de escolhas para as carreiras e reflete a maior quantidade de engenheiros, médicos e arquitetos homens e de pedagogas e enfermeiras mulheres, por exemplo. Os experimentos na escola também possuem, portanto, uma importância significativa para a democratização da Educação em Ciência. Não propriamente a sua mera proposição, mas também a sua forma de encaminhamento. Experimentos na escola não devem se limitar a motivar os alunos, a serem atividades lúdicas ou simples demonstrações. Deve ser um recurso para favorecer o entendimento dos fenômenos naturais, mas, principalmente, para compreender a natureza e o funcionamento da ciência.
Mestre em Ensino e História das Ciências e Matemática e Especialista em Ciência e Tecnologia pela Universidade Federal do ABC – UFABC. Biólogo, Professor de Ensino Médio, Coordenador Pedagógico, membro do Grupo de Pesquisa em Ensino de Ciências e suas Complexidades, da Universidade Federal do ABC.