iracilda bonifácio, professora de escola do acre

Material de divulgação das editoras Ática, Saraiva e Scipione.
Não constitui documento oficial a respeito do PNLD.

Escola: um ambiente transformador na vida do estudante. Algumas escolas são consideradas inovadoras devido à forma como redefiniram o papel dos alunos no processo de aprendizagem.

Umas exploram seus espaços de modo criativo, outras colocam em prática novas abordagens pedagógicas. Mas, afinal: como transformar a escola em um ambiente dos estudantes?

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As transformações no contexto educacional demandam tempo e, principalmente, não são fruto unicamente de uma iniciativa individual do professor, como esperam alguns.

Elas nascem de um conjunto de esforços dos professores, dos estudantes, dos membros da equipe gestora, da família, do grupo de parceiros e amigos da escola.

Nesse ponto, é comum não saber como envolver todas essas pessoas em um projeto colaborativo para transformar a escola em um espaço dos discentes.

Esta tarefa não é simples e talvez represente o maior desafio dos profissionais da educação em seu trabalho diário. Mas, afinal de contas, não é de desafios que se faz um excelente trabalho educacional?

O primeiro passo é reconhecer o problema e estar disposto a mudar. Neste artigo, veja algumas ideias para começar a encarar esse desafio e fazer da escola um ambiente adequado aos estudantes.

A professora Iracilda Bonifácio, autora deste artigo, participou do projeto Era uma vez um professor. Confira a história os projetos da professora:

1. Humildade e disposição para aprender

Se é verdade que toda transformação requer vontade e disposição para alcançá-la, é significativo que ela comece com uma tomada de posição. Essa virada equilibra o desejo por mudanças com uma boa dose de disposição para aprender.

A escola é um espaço privilegiado de aprendizagem, por isso, todos os sujeitos que passam por ela necessitam estar receptivos a novas descobertas. E como todos os envolvidos podem descobrir o novo sem a disposição para reconhecer que sempre temos sempre algo a aprender?

Pensar a escola como ambiente do estudante não é um exercício de negação dos papéis dos outros sujeitos envolvidos na aprendizagem, mas sim um exercício de desprendimento e solidariedade. Acima de tudo, o reconhecimento de que todo o esforço que fazemos tem como objetivo o desenvolvimento dos estudantes. São eles a razão de todo o nosso trabalho!

É necessário que todo time escolar olhe em uma mesma direção, buscando aprender a dinâmica de funcionamento da comunidade escolar em que trabalham. Assim, cada um pode proporcionar o suporte necessário para que a instituição de ensino seja realmente um espaço de aprendizagem que tem o estudante como protagonista.

Os professores têm papel fundamental nessa mudança, mas necessitam de apoio para efetivá-la. São inúmeros casos que apontam como os docentes devem agir, colocando-os, quase sempre, como “culpados” pelos problemas escolares. Entretanto, isso não representa uma verdade, uma vez que o sucesso da escola está nas mãos de várias pessoas.

Para a escola fazer sentido para o estudante, precisa também fazer sentido para o professor. O início dessa mudança envolve disposição para recomeçar, reconhecendo que o “novo” sempre assusta, mas encará-lo é parte essencial do trabalho na escola.

2. Conhecer as demandas dos estudantes

Se queremos que o espaço escolar seja um ambiente dos estudantes, temos que aprender a ouvir. É necessário saber quais são as demandas dos estudantes e descobrir onde está o foco de seu interesse. Toda ação no ambiente escolar deve partir de um planejamento. Neste caso, o maior problema é que quase sempre há planos de ações “para” os estudantes e quase nunca “com” eles.

Propor uma roda de conversa franca em que os alunos possam falar sobre suas motivações pessoais, seus projetos para o futuro, seus interesses e habilidades é fundamental para o planejamento. O bate-papo é uma ação bastante simples, mas que gera um grande impacto de transformação no ambiente escolar.

Uma outra prática é solicitar que os estudantes pontuem situações que os incomodam. Incentive-os a pensar não apenas em problemas do ponto de vista físico ou de infraestrutura, mas também nas atitudes das pessoas. Convide-os a refletir sobre a maneira como se relacionam, em como se sentem diante desses problemas.

Depois de identificados possíveis temas, convide os alunos a decidir quais das atividades serão efetivamente trabalhadas. Para isso, abra um espaço para o debate e para expressão de diferentes opiniões.

Os educadores precisam se mostrar abertos a ouvir o que os estudantes têm a dizer. Essa interação denota respeito aos estudantes e demonstra empatia na tentativa de construir um ambiente de aprendizagem mais significativo.

3. A escola com a mão na massa: estabelecendo conexões entre saberes

Desde cedo somos ensinados a separar o conhecimento em determinadas “caixinhas”, algumas valoradas como “mais” ou “menos” importantes. Contudo, e se em vez de separá-las, a escola valorizasse a conexão desses saberes?

Se queremos que a escola seja o ambiente dos estudantes, devemos colocar as ideias em prática. Unir conhecimentos diferentes gera uma porção de ideias novas. É inestimável o quanto temos a aprender com essa interação de conhecimentos. Estamos falando de abandonar preconceitos e ideias cristalizadas, abrindo a mente para o que o outro tem a nos ensinar.

Ao propor uma aprendizagem que se pauta não na mera explanação de conteúdos, mas na resolução de problemas reais, torna-se possível dialogar com o mundo fora da escola. Os estudantes, assim, são desafiados a vivenciar o conhecimento conectado a outros saberes.

4. Foco na valorização do estudante

Em vez de “ensinar tudo a todos”, o professor pode focar em valorizar os eixos de interesse de cada um, mostrando que estabelecem conexões com outros saberes. Alguns estudantes, por exemplo, podem ter dificuldades consideráveis com a escrita, mas serem exímios com lógica e pensamento matemático. A ideia é descobrir esses talentos e conectá-los a outros saberes.

A partir de vários eixos de interesse dos estudantes, todas as áreas do conhecimento podem ser trabalhadas de modo que a aprendizagem se torne um processo muito mais prazeroso. Por que não unir poesia à matemática? A geografia à química? A história à física? Conectar os eixos de interesse onde se encontram os grandes potenciais de aprendizagem dos estudantes é muito valioso.

Isso requer que os profissionais da educação busquem também por conhecimentos de outras áreas para desenvolver suas atividades em sala de aula. Ao reconhecer que os domínios das diversas áreas do saber estão totalmente interconectados, o professor pode identificar os eixos de interesse dos estudantes com maior facilidade, construindo um aprendizado com base em uma relação mais colaborativa.

5. Aprender a estabelecer parcerias

Ninguém consegue fazer grandes mudanças sozinho. Devemos construir o caminho enquanto caminhamos, estabelecendo laços de cooperação e parceria com pessoas que possam somar à experiência de vida de nossos estudantes.

Se, por exemplo, desenvolvemos um Projeto de Educação Ambiental, de Incentivo à Leitura ou de Robótica e Reciclagem, é fundamental fazermos parcerias com pessoas que trabalham nessas áreas.

É preciso reconhecer que a escola não está isolada do mundo, uma vez que se faz necessário levar os estudantes a circularem pelos espaços da cidade. Assim, é possível levar para a escola pessoas que dialoguem com eles sobre as grandes questões de seu entorno.

Ao possibilitar esses momentos de troca, os estudantes poderão desenvolver o senso de responsabilidade e uma íntima conexão com sua comunidade.

Uma boa prática para o estabelecimento de parcerias é o incentivo ao voluntariado. Ao pensarem soluções para os problemas de sua comunidade, os estudantes poderão não apenas encontrar uma forma para se livrar de problemas como o bullying, mas também de perceber seu lugar no mundo e seu papel nas transformações sociais.

6. Trabalho feito: é hora de compartilhar os resultados!

Grandes projetos são altamente inovadores, mas acabam perdendo força quando limitados ao espaço da própria escola. A ideia, então, é compartilhar os resultados para inspirar outras pessoas!

Para isso, é essencial que os estudantes sejam parte ativa na divulgação dos projetos desenvolvidos na escola. Muitas vezes, nos esquecemos desse detalhe importante. Sempre é tempo de aprender a estabelecer redes de compartilhamento de experiências a partir das vivências dos estudantes.

Os alunos possuem muitas histórias para contar. Por isso, é importante que eles participem não apenas do processo de concepção das ideias, mas sobretudo da divulgação de suas descobertas.

O protagonismo dos estudantes ganha um toque especial nesta etapa de compartilhamento. O desafio principal desta fase é descobrir, com os estudantes, formas de compartilhar a história do projeto. Que tal promover um debate para que eles definam como suas famílias, amigos, escola e comunidade poderão conhecer mais sobre o trabalho que fizeram?

Conheça as estratégias

É possível criar um vídeo, promover um evento, escrever e publicar um livro, fazer um festival de música, uma feira de ciências, um encontro de escritores, uma startup ou uma feira para a divulgação dos produtos criados por eles. Enfim, o céu é o limite!

Com os estudantes envolvidos em todas as etapas do projeto, o compartilhamento dos resultados ganha ainda mais força. Ao se colocarem como sujeitos da própria aprendizagem, os estudantes se tornam ao mesmo tempo aprendizes e professores. Isso porque aprendemos muito mais quando compartilhamos o que descobrimos! 

O resultado não é apenas um movimento de pertencimento à escola, mas também é uma ótima oportunidade para os estudantes se sentirem reconhecidos por seu trabalho, fortalecendo os laços entre eles e sua comunidade.

Mais que isso, esse é o momento propício para inspirar novas ações. Ao compartilhar os resultados de seus trabalhos, outros estudantes podem olhar para a histórias desses jovens e dizer: “Se eles fizeram, nós também podemos”!

7. De volta ao círculo: buscando inspiração para novos projetos

Esta fase é a última, mas isso não quer dizer que o processo termina aqui. É preciso perceber que a transformação da escola em um ambiente dos estudantes vai muito além da reorganização de seus espaços, ela perpassa por uma mudança de atitude.

Podemos começar deixando de conceber o processo educacional apenas como uma reta, com um ponto de partida e outro de chegada. Que tal percebê-lo como uma espiral, que parte de um determinado lugar, é impelida a cumprir determinado circuito e avançar, incitando sempre ao recomeço em busca de novas descobertas?

Isso requer que voltemos ao primeiro tópico: humildade para aprender. Nem sempre encontramos as respostas que buscamos, às vezes, as perguntas é que fazem valer a pena a caminhada. Algumas vezes, quando as encontramos, essas respostas nos surpreendem.

Em outras, a jornada nos fortalece. Em todo processo cometemos erros. O desafio é decidir o que faremos com eles: vamos sublimá-los ou aprender com eles?

Certamente, nossos estudantes têm uma fina percepção para nos ajudar a construir novas formas de ajustar as velas. Ou nos ajudar a enxergar tesouros encobertos que passaram despercebidos.

Por isso, um momento de autoavaliação ao final de cada projeto é essencial! É preciso voltar ao círculo para encontrar propostas de novos desafios e ampliar as experiências desenvolvidas na escola!

Conclusão

Apesar dos desafios, transformar a escola em um ambiente dos alunos é uma das grandes demandas educacionais de nosso tempo. Para alcançá-la, porém, não existem fórmulas mágicas. É preciso dar o primeiro passo!

Para isso, a grande palavra de ordem é a colaboração! Nenhuma mudança real surgirá a partir de uma iniciativa individual. É preciso que esse projeto de mudança seja conhecido e abraçado pelo maior número de pessoas da comunidade escolar.

Que tal começar essa jornada ouvindo o que nossos estudantes têm a nos dizer? Que sonhos acalentam, o que sentem em relação ao mundo, o que desperta seu interesse? Certamente, quando estivermos com nossos ouvidos sensíveis ao que eles nos trazem de novo, poderemos compreender o real sentido de nosso lugar enquanto educadores.

Uma outra forma de transformar a escola em um ambiente impulsionador de saberes do aluno envolve a consideração de inovações. Algumas inovações são muito apropriadas para o contexto escolar do Ensino Fundamental.

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