Para pensarmos em educomunicação, em primeiro lugar, precisamos nos debruçar sobre o termo seu significado.

O que é educomunicação?

A educomunicação junta em si dois conceitos bem conhecidos de todos nós, educação e comunicação. Duas áreas do conhecimento importantíssimas nas sociedades contemporâneas, que trazem o debate sobre como construímos a identidade de cada um de nós.

Em documentos do Ministério da Educação, parte-se da premissa de que a produção contemporânea é essencialmente simbólica e para que possamos conviver socialmente. Por isso, precisamos do domínio de várias linguagens, que são os instrumentos de comunicação e de negociação de sentidos. 

Diante dessa importância das duas áreas, a educomunicação pode ser entendida como um campo de ação que está na interface entre a educação e a comunicação, e busca uma renovação de práticas sociais e pedagógicas que permitam a ampliação das possibilidades de expressão de todos os indivíduos, em especial a infância e os jovens.

A educomunicação busca, então, articular os sujeitos sociais nesse espaço da interface entre educação e comunicação, olhando para diferentes dimensões, tais como: leitura crítica da mídia, produção midiática realizada por crianças e jovens, gestão da comunicação em espaços educativos.

A educação à distância pode ser considerada como educomunicação?

Ao considerar essas diferentes dimensões, a educomunicação vai muito além de uma mera preocupação com uso de tecnologias na educação. Não considera uma perspectiva utilitarista das mídias, uma perspectiva reducionista, como se simplesmente utilizarmos algumas tecnologias digitais em educação, em nossas práticas pedagógicas, pudesse provocar uma grande transformação nos processos educacionais. 

Nesse ponto, precisamos também repensar o conceito de tecnologia, que sempre tivemos ao longo da história da humanidade. O papel, o lápis, o mimeógrafo também são uma tecnologia. Hoje, temos o desenvolvimento considerável de novas tecnologias de comunicação e informação e digitais. 

Essas tecnologias digitais convivem com as outras tecnologias, que não deixarão de existir. Em nossas práticas sociais e pedagógicas, utilizamos todas, dependendo dos diferentes contextos e de nossos diferentes objetivos em cada momento. Sendo assim, o centro da transformação não são as tecnologias. Elas são somente uma parte de todo processo comunicativo e educacional que vivenciamos em nossas escolas e demais espaços educativos. 

O que seria o essencial na transformação necessária na educação contemporânea?

Esse é exatamente o ponto em que entra o papel da Educomunicação. O essencial é a nossa construção coletiva de processos dialógicos, a nossa compreensão da escola enquanto um ecossistema comunicativo aberto, amplo, com diferentes saberes a serem partilhados, com aprendizagens a serem construídas coletivamente, por todos os sujeitos envolvidos no processo.

O mais importante não é se a escola tem ou não tecnologias digitais ou tecnologias tradicionais. O ponto focal é como realizamos nosso trabalho pedagógico com essas tecnologias. Pouco adianta distribuir notebook a todos os(as) estudantes, se não trabalharmos junto com os(as) professores(as) a importância de uma mediação construtiva com seus/suas estudantes.

Pouco adianta que possamos utilizar celulares em sala de aula, se não conseguirmos que os(as) alunos(as) assumam seu protagonismo social, assumam seu lugar de fala e produzam conteúdos relevantes a partir do lugar social que ocupam.

O papel dos educadores na educomunicação

Nosso trabalho enquanto educomunicadores deve estar focado na perspectiva da construção da autonomia dos(as) estudantes, da produção intelectual de alunos(as) e professores(as), da construção de uma escola que se percebe enquanto produtora cultural, enquanto produtora de sentidos para a sociedade em que está inserida. 

A Educomunicação é um campo de ação que nos leva a buscar uma transformação social, com qualidade de vida para todos, onde cada um assume seu papel de protagonista e constrói a sociedade junto aos coletivos aos quais pertence. 

Simone Batista

Graduada em Pedagogia (UNICAMP), com mestrado e doutorado em educação (FEUSP). É professora universitária e integrante da equipe de formação permanente de professores da Secretaria Municipal de Educação de Santos/SP.