Mineiro de Montes Claros, Darcy Ribeiro nasceu no ano da Semana de Artes Modernas, 1922. Como costumava relatar, teve uma formação escolar inicial precária.

Já na universidade, em 1944, na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, graduou-se em Sociologia com especialização em Etnologia. Atuou em paralelo à militância política, e foi trabalhar com o Marechal Rondon como naturalista.

Teve papel fundamental na luta pela preservação da cultura indígena. Por outro lado, contribuiu com a reflexão e a ação sobre a educação quando, contratado por Anísio Teixeira, tornou-se diretor da Divisão de Estudos Sociais do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE) do Ministério de Educação e Cultura, em 1957.

Com Anísio, lutou pela escola pública, influindo na formulação e aprovação da 1ª Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que tramitava na Câmara dos Deputados.

A ideia de uma escola pública qualificada e republicana guiou seus passos públicos. Atuou em frentes extremamente relevantes, como a construção dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEP), na perspectiva de uma educação integral em tempo integral.

No ensino superior, teve a oportunidade de concretizar sua visão na Universidade de Brasília (UNb) e na Universidade Norte Fluminense (UENF), além de outras universidades fora do Brasil (em destaque as reformas universitárias na América Latina). Foi, ainda, relator da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), aprovada em 1996.

Política e educação marcantes

A trajetória política de Darcy na educação foi marcada por ser o primeiro reitor da Unb, após a incumbência dada pelo Presidente Juscelino Kubitschek, de planejar a Universidade de Brasília, em 1959, atraindo cientistas, pesquisadores e pensadores.

Em 1962, Darcy Ribeiro se tornou Ministro da Educação no Governo João Goulart, quando executou o primeiro Plano Nacional de Educação. Ainda no governo Goulart, um ano depois, Ribeiro tornou-se Chefe da Casa Civil.

No seu período de exílio, Darcy Ribeiro participou das reformas universitárias no Uruguai, Peru, Venezuela, Chile, dentre outros. Já de volta ao Brasil, tornou-se Vice-Governador do Rio de Janeiro em chapa com Leonel Brizola, sendo, em paralelo, Secretário de Estado de Cultura e coordenador do Programa Especial de Educação (PEE).

Nesse período, destaca-se a implantação de 117 CIEPs. Para Darcy, o sucesso de projeto de educação passava por uma escola de qualidade:

Espaço para a convivência e as múltiplas atividades sociais durante todo o largo período da escolaridade, tanto para as crianças como para as professoras. O Tempo indispensável, que é igual ao da jornada de trabalho dos pais, em que a criança está entregue à escola. Essa larga disponibilidade de tempo possibilita a realização de múltiplas atividades educativas, de outro modo inalcançáveis, como as horas de Estudo Dirigido, a frequência à Biblioteca e à Videoteca, o trabalho nos laboratórios, a educação física e a recreação. O terceiro requisito fundamental para uma boa educação é a Capacitação do Magistério. (RIBEIRO, 1995, p.22)

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A importância da reflexão intelectual

Darcy considerava central o papel da reflexão intelectual. Sobre a universidade, compreendia que ela seria construída como um modelo de promoção do desenvolvimento autônomo do país,  a partir da reflexão e da ação intelectuais. Segundo ele:

A Universidade de que precisamos, antes de existir como um fato no mundo das coisas deve existir como projeto, uma utopia, no mundo das ideias. Nossa tarefa, pois, consiste em definir as linhas básicas deste projeto utópico, cuja formulação deverá ser suficientemente clara e atraente para poder atuar como força mobilizadora na luta pela reforma da estrutura vigente. (RIBEIRO, 1975, p.172).

Darcy Ribeiro entendia a função social da educação como um agente do saber:

Saber é isto: uma força, uma arma. […]Ciência falsa e mediocridade nada são, nada podem. No caso da universidade, este desafio científico aponta para o dever de evitar que se cultive um saber fútil, inútil. Que seja esse saber brincadeira de tantos acadêmicos universitários, em que um escreve para o outro. (RIBEIRO, 1995, p. 20).

Em suas palavras:

Pele que encarnei e encarno ainda, com orgulho é a de educador, função que exerço há quatro décadas. Essa, de fato, foi minha ocupação principal desde que deixei a etnologia de campo. […] Outra pele que ostentei e ostento ainda é a de político. Sempre fui em toda a minha vida adulta um cidadão ciente de mim mesmo como um ser dotado de direitos e investido de deveres. Sobretudo o dever de intervir nesse mundo para melhorá-lo. […] O Brasil não deu certo. Ainda não deu. Nossos intelectuais, por isso mesmo, são urgidos a tomar posição política. A miséria é grande demais para que possam ficar alheios. […] É para lutar contra isso que faço política, movido por uma motivação essencialmente ética. Nunca fui um indiferente, ao contrário, meu pendor é para a indignação ante toda injustiça. (RIBEIRO, 1995, p. 21).


Referências bibliográficas

RIBEIRO, Darcy. A Universidade Necessária. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975.

O Brasil como problema. 1ª ed. Rio de Janeiro: Global, 1995.

 

Lia Faria

Pós-doutora em Educação pela Universidade de Lisboa (2012) e em Ciência Política pelo IUPERJ (2008); doutora em Educação (UFRJ/1996), mestre em Filosofia da Educação IESAE/FGV (1989), bacharel e licenciada em História (UFRJ/1971) e graduada em jornalismo (URFJ/1967). É professora associada de graduação e pós-graduação da UERJ/PROPED. Coordena o Laboratório Educação e República (LER) e atua na área de educação, com ênfase em história da educação, gestão dos sistemas educacionais e memória fluminense.