As festividades, como o carnaval, são, de uma maneira geral, manifestações culturais enquanto celebrações de crenças, de marcos históricos, religiosos ou sociais, que trazem identidade às comunidades.  

Portanto, quando trazemos as festas para a escola, é preciso que a conheçamos como parte de uma cultura. É preciso investigá-las e determinar de forma clara quais serão as nossas intenções para, a partir disso, elaborar uma sequência didática com o intuito de dar significado pedagógico à festa.

No entanto, opondo-se a uma concepção estanque de cultura, é preciso termos consciência de que a cultura é produzida por nós, está em constante construção e conhecê-la é uma forma de preservá-la. Mas, a depender do modo como entendemos a valorização de manifestações culturais, podemos evidenciar práticas e pensamentos preconceituosos. Portanto, a cultura é sempre nossa, deve ser construída e respeitada por todos e todas. 

Diante do já colocado, é evidente que pedir às crianças que venham fantasiadas na sexta-feira, antes dos feriados carnavalescos, não é exatamente realizar um trabalho sobre o carnaval como manifestação cultural. 

Como trabalhar o carnaval em sala de aula?

Já dissemos que a cultura está em constante construção e reconstrução, portanto pode ser um bom começo, para o trabalho com essa ideia, a relação entre o carnaval e o tempo. 

É muito comum pedirmos aos estudantes que perguntem aos mais velhos como brincavam o carnaval quando crianças e, a partir dessa pesquisa, comparar com as manifestações carnavalescas contemporâneas.  

Mas sugiro que devamos começar sobre as vivências de carnaval dos nossos alunos e alunas, que relatem e registrem suas vivências e depois coletem experiências de outros tempos. Assim, poderão comparar e destacar transformações e permanências, sem necessariamente apresentar juízos de valor.

Dependendo da faixa etária, essa comparação poderá ser enriquecida pela busca de razões das transformações, como tipos de fantasias e adereços, canções, locais das festividades etc. 

Quando sugerimos que nossos alunos e alunas façam entrevistas, precisamos instrumentalizá-los e, para isso, uma boa forma poderá ser a elaboração de perguntas coletivamente. Assim, será possível fazer com que pensem o que querem saber e qual é a melhor forma de perguntar. 

Não podemos esquecer que é muito importante coletar nome e idade. E o registro? Também é algo a ser trabalhado e muitas alternativas podem ser apresentadas: um estudante pergunta e outro escreve, o entrevistado responde por escrito, as respostas podem ser  gravadas e  até filmadas, entre outras possibilidades.  

Ter várias opções poderá ser muito importante para atender alunos e alunas com diferentes necessidades. Organizar as diferentes experiências cronologicamente será um facilitador para que os estudantes pensem sobre as transformações e permanências do carnaval. 

Abordar as diferentes formas de curtir o Carnaval

Moramos em um país formado por muitas culturas, e tratar a cultura no plural, pode significar muito na formação de nossos alunos e alunas. Garantir o olhar para essa pluralidade não é algo simples, embora fundamental.

A partir do registro proposto no item anterior, sobre como os estudantes vivem as manifestações carnavalescas, outra pergunta poderá desorganizar muitas ideias: todos os brasileiros festejam o carnaval da mesma forma? 

A partir dessa provocação, um convite pode se instaurar: vamos, então, investigar? 

Mas, antes, cada estudante poderá registrar sua resposta a essas perguntas. E, depois da pesquisa feita, comparar os conhecimentos que tinham a respeito do assunto com o que passaram a saber com a descoberta. 

É nosso papel fazer com que nossos alunos e alunas percebam que estão aprendendo e reflitam sobre os benefícios de construir novos conhecimentos, de ampliar os repertórios socioculturais. 

Cada estudante poderá buscar as manifestações carnavalescas de um estado brasileiro. A montagem de um grande painel com desenhos e escritas será um apoio para a conversa sobre as muitas culturas brasileiras e como somos parte de tudo isso.

Abordar os sons do carnaval

Outra abordagem sobre a diversidade de festejos carnavalescos, no Brasil, poderá ser a musicalidade. Cada canto do Brasil tem um gênero de música a ser explorado pelos estudantes: marchinhas, batucadas, samba-enredo, afoxé e muitos outros. 

O painel sugerido no item anterior poderá servir de apoio para o registro de diferentes músicas de carnaval. Mais uma forma de visualizar a diversidade cultural brasileira. 

Abordar a origem do carnaval

Mais uma vez, sugiro que respondam à pergunta antes da pesquisa. Conhecer o que os nossos alunos e alunas trazem pode ser um instrumento valioso para conhecermos nossos estudantes, seus repertórios e suas visões de mundo.

Dependendo da faixa etária, com a qual esteja trabalhando, sugiro: 

  • Leitura para o grupo sobre a história do carnaval e registro de fatos que tenham chamado a atenção. Não se trata de um registro geral, mas de algo que seja considerado importante ou diferente para, depois, comunicarem seus registros à classe.
  • Leitura dos alunos e alunas de um breve texto que exponha parte da história do carnaval e levantamento de informações surpreendentes. Se todos e todas compartilharem as surpresas, boa parte do texto será explorada. Uma boa sugestão de texto é Origens do Carnaval
  • Pesquisa coletiva: essa é uma forma de evitar a simples reprodução, a famosa prática do “copia e cola” ou, a depender do letramento digital, o par “ctrl c + ctrl v”. Os alunos e alunas deverão buscar duas informações sobre a origem do carnaval ou sua história em revistas, livros ou na internet. Coletivamente, todos compartilham seus registros e produzem um texto também coletivo. Quando pronto, o grupo poderá identificar o que está faltando, o que há a mais para pesquisar e completar o texto em outro momento. 

Abordar a escolha das datas do carnaval

Todos sabemos que o carnaval é uma data móvel e pode ser um desafio fazer com que os estudantes percebam isso, pesquisando datas de carnavais em diferentes anos. A partir dessa constatação lançar o desafio: como esse cálculo é feito? 

Depois da descoberta, poderão desafiar os adultos que vivem ao seu entorno a responderem à pergunta e constatarão que pouca gente sabe fazer esse cálculo e poderão ensiná-las. 

Essa proposta atende alunos a partir do 5º ano. Com isso, perceberão como é gostoso aprender, mas também é muito gostoso ensinar.

Para esse tópico, sugiro como leitura o texto Carnaval 2021: entenda por que data do feriado muda a cada ano

Mariângela Bueno

Graduada em História e Pedagogia, trabalha com formação de professores e professoras em redes privadas e públicas na área das Ciências Humanas e Sociais e, nessa área, é selecionadora do Prêmio Educador Nota 10 desde 2018.