Inteligência de dados? Para Castells (2007), o ponto inicial para uma análise do complexo processo de formação das sociedades, economia e culturas emergentes passa pela revolução tecnológica da informação.

E esse fato pode ser facilmente constatado na atualidade, pois, com um simples clique, a informação pode ser acessada facilmente por qualquer dispositivo conectado à internet. 

Nas últimas décadas, a revolução digital tem incitado diversas mudanças na sociedade. A maneira como interagimos e, consequentemente, aprendemos, tem sido potencializada pelos recursos digitais, e os sistemas computacionais têm fomentado o tratamento de dados em grandes quantidades, em apenas alguns instantes.

Você já ouviu falar sobre “machine learning”, “big data” e “mineração de dados”? Sabe como isso pode ajudar na gestão educacional?

Essas áreas, concentradas na grande área de ciências de dados, estão em ascensão em diversos setores da economia, justamente porque envolvem o gerenciamento muito ágil de um volume enorme de dados produzidos pelas culturas criativas, participativas e midiatizadas.

Em outras palavras, elas tratam de coletar, armazenar e organizar todos esses dados por meio de diretrizes com critérios previamente estabelecidos para transformar esses dados em informações úteis que possam gerar ações e melhorar resultados, uma vez que se tem mais subsídios para a tomada de decisões.

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Em suma, a ciência de dados na educação pode ser entendida como o desenvolvimento de métodos que coletam, mensuram e acompanham a evolução dos dados oriundos de ambientes educacionais e também administrativos, com a finalidade de entender melhor os estudantes, personalizar a aprendizagem, identificar os cenários em que eles aprendem e maximizar a eficiência da gestão (Daniel, 2016).

Gerenciamento de dados na escola

Resumidamente, devido à natureza do trabalho desempenhado pelas escolas, uma grande quantidade de dados é gerada diariamente.

  1. Lista de frequência,
  2. atividades enviadas,
  3. atividades entregues,
  4. diário de classe,
  5. mudanças no cronograma de aulas,
  6. ficha de acompanhamento dos estudantes,
  7. cardápio da cantina,
  8. material de escritório,
  9. reuniões e conselhos de classe,
  10. além de desempenho por estudantes, turma, segmento, tipo de avaliação, componente curricular, entre outros. 

Ainda hoje, muitos dados gerados por cada ação no ambiente escolar são subaproveitados, seja do ponto de vista pedagógico ou da gestão administrativa da instituição.

Contudo, com o avanço tecnológico de sistemas, aos poucos, percebe-se o potencial existente na automação da obtenção dessas informações que auxiliam na tomada decisões mais assertivas.

Dessa maneira, pode haver benefícios tanto para as decisões de um professor, que percebe a necessidade de revisar um tema específico para um grupo de estudantes com dificuldades ou que não compareceu à aula, até a um gestor que decide um percurso de formação continuada para os professores, focado nas debilidades apresentadas pela escola no exame nacional do SAEB.

Ferramentas para gestão educacional digital e dados de aprendizagem.

A pandemia de COVID19 fez com que houvesse uma busca por suportes tecnológicos em todo o mundo. Apesar da dificuldade de acesso, presente em muitas regiões do planeta, o processo tem sido amplamente usado para manter o vínculo e dar continuidade com o processo de ensino e aprendizagem.

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Ferramentas tecnológicas para gestão educacional

Nesses ambientes virtuais, os professores incluem dados, visualizam documentos de colegas, atualizam o diário de classe, compartilham informações e boas práticas, incluem atividades, agendam uma videoconferência, interagem com os estudantes, entre outras práticas que se tornaram comum.

Mesmo assim, essas informações podem ser armazenadas facilmente em aplicações gratuitas de repositórios online, como Google Drive ou Microsoft OneDrive. 

Ao adotar um sistema de gestão educativa como o Google Classroom ou o Moodle, por exemplo, é possível acessar todas as informações referentes às notas por estudante ou por turma. 

Com o passar do tempo, cria-se um registro dessas interações, conteúdos e avaliações. Por conta disso, pode facilitar muito no caso da chegada de um novo professor, pois ele poderá acessar o histórico da turma ou de um estudante em específico e conseguir diagnosticar a situação da classe com muita precisão.

Métricas qualitativas para tomadas de decisões

Assim, a partir de algumas evidências coletadas, é possível analisar o que está ocorrendo e, com isso, criar ações que permitam melhorar aspectos de aprendizagem antes do mês acabar. 

Exemplo: se, em uma turma, 30% dos estudantes tem um desempenho abaixo da média, é possível analisar as questões e criar um reforço com tutores para tentar resolver a lacuna de aprendizagem, ou pode-se constatar no histórico dos últimos 2 anos que o problema pode estar na formulação do enunciado. 

Como desdobramento dessas análises, o desempenho por turma mostrará que determinada escola precisa de programas voltados para motivar o estudante a gostar de matemática ou de formações continuadas que mostrem a didática do ensino da área com outra perspectiva, por exemplo. 

Interação, participação e gestão da aprendizagem

Um outro aspecto relevante está associado ao compartilhamento com os responsáveis da agenda dos estudantes ou diário de classe, permitindo uma comunicação direta e constante com eles.

Primeiramente, sabe-se da importância do envolvimento da comunidade escolar para o processo de ensino e de aprendizagem, razão pela qual os dados referentes às faltas, atrasos, entregas de atividades, criação de portfólios são primordiais para incentivar o apoio e o acompanhamento dos responsáveis e até mesmo fazer inferências sobre a pendência de alguma atividade ou de faltas constantes por meio da visualização e da confirmação de leitura dos pais.

Com a gestão dos dados, torna-se mais eficiente identificar e agir preventivamente, evitando que o estudante realmente deixe a escola. Tais dados, fomentando a tomada de decisões, permitem que a educação esteja mais próxima do cidadão, mais integrada à sociedade.

Além disso, com a base de dados compartilhada com a população é possível receber contribuições, com informações importantes e promover uma gestão participativa. 

Em resumo, a gestão dos dados nos sistemas digitais permite identificar, com maior rapidez, aspectos que geralmente levam um tempo maior se feitos intuitivamente sem esses suportes.

Ou seja, além da economia de tempo, os professores e gestores têm em mãos evidências que contribuem para compreender o contexto (acertos, erros, frequência, participação etc.).

Finalmente, a partir da análise dessas informações e métricas, fica mais fácil realizar o acompanhamento e chegar à identificação do problema, para assim criar ações para resolvê-lo.

O uso de dados na educação no Brasil

Com o crescimento exponencial da geração de dados pelas pessoas, através dos dispositivos e dos sistemas, as tecnologias associadas à ciência dos dados apresentam-se como novas oportunidades para análise, entendimento, modelagem e predição de diversas variáveis presentes em grande volume de dados. 

Em outras palavras, a interpretação dos dados para realizar análises preditivas e/ou diagnósticas já está sendo usada no Brasil para os processos de intervenções pedagógicas, políticas educacionais e, até mesmo, decisões sobre a manutenção ou interrupção de certos investimentos na área de educação.

De forma prática, arquivar informações relativas ao desempenho do estudante é obrigação das instituições de ensino.

Ou seja, toda escola e, consequentemente, as redes de ensino, geram um grande volume de dados em seu funcionamento diário, como por exemplo, número de matrículas, evasão e abandono, faltas individualizadas, conteúdos trabalhados, fluxo escolar e notas em avaliações externas e internas, entre outros. 

Porém, as equipes diretivas que fazem a gestão educacional movimentam, além dos dados relacionados ao ensino e à aprendizagem, aspectos como:

  • estrutura física das escolas,
  • quadro de profissionais,
  • distorção idade-série,
  • projetos educacionais em execução,
  • estudantes com necessidade de transporte,
  • identificação de políticas de acessibilidade, entre outros, que permitem otimizar os investimentos e melhorar os resultados.

Percebendo tais evidências, algumas instituições e redes do país têm buscado integrar essas informações em um único sistema, que permite extrair com maior agilidade e precisão tais informações.

É o caso dos estados de São Paulo (Di@rio de Classe) e Paraíba (Sistema Saber), por exemplo. Eles utilizam sistemas para tornar os dados armazenados em evidências capazes de melhorar a gestão e o processo educacional.

Por fim, cabe destacar que o cruzamento de dados com portais como IBGE, INEP, MEC e FNDE possibilitam uma análise bem fundamentada, racional e com uma visão sistêmica, abrangente para a tomada de decisões. 

Conclusão

Logo, a ciência de dados é uma ferramenta fundamental para informar novas estratégias e decisões acerca de quais projetos levar adiante. Foca especificamente no desenvolvimento de que tipo de ação vale mais a pena investir e/ou em que público-alvo se deve focar esforços, por exemplo.

Finalmente, isso permite aumentar a compreensão sobre o contexto e também a qualidade das experiências de aprendizagem. 

Você conhece alguma outra experiência? Tem alguma dica de sistema? Alguma contribuição ou dúvida? Deixe seu comentário logo abaixo e nos ajude a construir uma educação em conjunto!

Gostou de ler sobre o tema? Então saiba mais sobre o professor do presente e o ambiente virtual!

Referências Bibliográficas

Daniel, B. K. (Ed.). Big Data and Learning Analytics in Higher Education: Current Theory and Practice. Springer, 2016.

Castells, M. A. Sociedade em rede. A era da informação: economia, sociedade e cultura. São Paulo: Paz e Terra, 2007.

Kamil Giglio

Assessor Pedagógico das Editoras Ática, Saraiva e Scipione