25 de maio, 2021 - Por e-docente
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É impossível responder essa pergunta sem trazer à luz o conceito primordial de Marx, que convocou a muitos para uma reflexão e debate promovendo a conscientização crítica. Marx dizia: “O indivíduo é o ser social”. Sim, isso mesmo que você leu. O homem e a mulher são por natureza animais sociais, pois eles não podem ser privados de estarem em sociedade.
O exemplo prático dessa afirmação de Marx pode ser facilmente percebido na vida de Kaspar Hauser. Hauser foi criado no isolamento e privado de educação, viveu de maneira reprimida e condicionada. Percebe-se, em sua trajetória, que a mente humana registra o conhecimento e constantemente o utiliza na vida prática. Kaspar Hauser, uma vez privado de uma língua e da interação comunicacional com o outro, não pode ser um sujeito pleno, pois sua mente estava intacta dessa relação. O isolamento social, desde criança, provocou em Kaspar essa inaptidão para a vida.
A Sociologia entende que o processo de socialização é definido pela assimilação que um determinado indivíduo faz da moral, dos hábitos e da cultura do grupo social no qual está inserido. A partir dessa concepção, vemos tantas outras histórias que povoam a nossa mente, como mostra a filmografia mundial: Tarzan, Moogli, O Garoto Selvagem.
Decerto, o Ser Humano é social, pois não pode viver sozinho, ele precisa conviver em Sociedade sempre. Os gregos já defendiam que a cidade (Pólis) foi criada para e em função do Ser Humano, uma tentativa forçada para atender a necessidade de viver o lado social.
Somos criadores e criaturas desse sistema social que nos protagoniza e nos antagoniza ao mesmo tempo. Tudo e todos no que entramos em contato passam a ser parte inerente da nossa formação como humanos e da nossa vivência.
Diferente dos animais que possuem uma inteligência concreta que responde para a necessidade primária da sobrevivência e para a adaptação da biosfera, nós, homens e mulheres, temos uma inteligência abstrata incapaz de ser alcançada, moldada e até transformada (pelos menos as pensantes, que não habitam o senso comum). Essa inteligência do ser humano (sabe que sabe) é capaz de mudar o mundo e dar a ele o que ele deseja para a sua sobrevivência, inclusive, de mudar a biosfera em antroposfera.
Constantemente, em minhas aulas, afirmo que o fazer do homo sapiens o leva ao menos a dois resultados: a elaboração de objetos e de ideias. Esses dois resultados formam a cultura e podem mudar a biosfera. Se somos capazes de tamanha mudança é porque vivemos e impactamos na sociedade onde estamos inseridos.
E o mágico dessa relação de protagonistas e antagonistas de nossa própria história é revelado nas simples palavras de Boaventura Souza Santos, quando ele afirma que “Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades”.
A partir disso, entendemos alguns questionamentos que trazemos em nossa caminhada. Por que as pessoas pensam e agem de forma tão diferente umas das outras? Por que o que parece certo para uma pessoa é totalmente errado para outra? É comum ter dúvidas sobre a sociedade em que vivemos, dessa forma, a Sociologia tem o objetivo de responder essas questões e ensinar o funcionamento das interações pessoais.
Se a Sociologia é a ciência que estuda a sociedade e as regras de seu funcionamento, que avalia a interação entre os indivíduos e seus desdobramentos na formação de grupos, associações e instituições, então podemos entender que estudar sociologia é importante, porque introduz noções de cidadania que nos ajudam a responder situações sociais que causam inquietação e insegurança a todos.
Leia também: Ciências humanas na educação básica: desafios e possibilidades.
É por meio dessa disciplina que a busca pelo conhecimento dos fenômenos sociais, do comportamento das instituições e das relações de convivência entre os seres humanos começam a ser desvendadas e colocadas em pauta para debate e transformação social (se necessário).
Somos seres sociais, pois em algum momento, tivemos ou teremos contato com outro ser humano ao longo da vida. Para viver em sociedade, é necessário que sejam estabelecidas normas e regras de convivência. Se olharmos para história, veremos as pautas sociológicas estudadas e sua importância até os dias atuais. (Isso é pauta para outro texto).
O que podemos afirmar é que desde a idade medieval com a discussão do uso da terra, de direitos e da criação do estado, até a concepção da atual imersão tecnológica que vivemos, temos a presença da Sociologia. Uma ciência nova e que se renova nos trazendo reflexões com o passar do tempo. Entender isso é uma prerrogativa para poucos.
Segundo Wim Veen e Ben Vrakking, a tecnologia funciona como um mecanismo ou uma mola propulsora de modificações importantes no comportamento, aprendizagem é a forma de produção de conhecimento das gerações que se formam dentro desta cultura. Ao estudar esses processos de mudança, se estabelece a aprendizagem como meio básico para lidar com os meios de transformação. A educação, a tecnologia e os processos de mudança são vistos como partes de um mesmo ecossistema, o que dá agilidade e dinamismo a estas questões e propõe reestruturações importantes para a educação.
PNLD 2021 – Objeto 1: Acesse a obra “Da Escola Para o Mundo – Ciências Humanas e Sociais Aplicadas“.
Trazendo um resumo: a Sociologia é viva, nos humaniza e nos ensina como vivíamos, vivemos e nos aponta caminhos para como viveremos, se assim desejarmos. Então por que estudar Sociologia no Ensino Médio? Pois é nesse período que os adolescentes começam a estruturar e configurar seus planos e projetos de vida. Ter acesso a uma ciência tão ampla, permitirá que esse jovem possa amadurecer e crescer adquirir a sabedoria necessária para se formar e preparar-se para a vida adulta.
Um dos objetivos da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 1996) é a de formar cidadãos conscientes e prepará-los para o mercado de trabalho. A educação, por meio da Sociologia, é importante para o cotidiano, para as vivências extraescolares e para a vida profissional desses que começam sua trajetória no mundo.
Apreender o comportamento dos indivíduos enquanto sociedade é necessário, pois com isso o aluno tem as seguintes percepções:
– Todas as ações individuais são determinadas pelas imposições sociais;
– Não se pode tirar conclusões baseadas no achismo e em conceitos infundados;
– É preciso se posicionar e contribuir para resolução dos problemas que se apresentam na sociedade (mesmo escolhendo não escolher);
– Somos todos parte de um mecanismo maior, que podemos ser nele protagonistas, antagonistas ou meros coadjuvantes sociais.
– Podemos ser o agente que muda o mundo e contribui com soluções para os desvios que não permitem aos seres humanos viverem de maneira mais harmoniosa.
Justamente por deixar os jovens tão esclarecidos de si e do contexto do mundo em que vivem que, talvez, essa disciplina imponha tanto medo em alguns políticos que vivem querendo boicotá-la e tirá-la do Ensino Médio. Afinal, pessoas esclarecidas não são facilmente manipuladas e tão pouco doutrinadas por meio do senso comum e das fake news tão corriqueiras em nossos tempos.
Por Nilson Antônio Guzzo Junior
Mestre em Novas Tecnologias Digitais para Educação
Licenciado em Filosofia e Geografia
Pós-Graduado em Gestão Mercadológica do Turismo, Hotelaria e Eventos;
Turismólogo