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Vamos iniciar este texto com uma importante reflexão sobre tristeza nas escolas. Algumas das mais belas obras-primas de diversas manifestações artísticas flertam intimamente com a tristeza.

E, seja na literatura, música ou no audiovisual, as que mais costumam emocionar são as que tangem sensações universais. 

E, talvez, algumas das emoções humanas mais devastadoras sejam as “prima-irmãs” que chamamos de culpa, arrependimento ou remorso. O dito “e se…”, quando sabemos que já não há mais nada a ser feito. 

Neste sentido, o mês de setembro chega com uma já tradicional e imprescindível campanha de prevenção ao suicídio e de promoção da saúde mental: o Setembro Amarelo

Quer saber mais sobre como abordar a tristeza nas escolas no Setembro Amarelo? Então, confira o conteúdo que preparamos para você!

A tristeza nas escolas no Setembro Amarelo

Se já sabemos que o ato de dar fim à própria vida é a quarta principal causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos no mundo, faz-se essencial entender como levar esta temática para o ambiente em que muitas destas pessoas passam a maior parte do seu tempo: as instituições de ensino.

Em ponto de ebulição

É humano, natural, fisiológico e esperado: os períodos da adolescência e juventude costumam ser marcados pela intensidade. Alegria, decepção, tristeza, amor ou euforia ganham tons mais fortes.

Então, mesmo na infância ou na vida adulta, é sempre importante lidar conscientemente com cada sentimento, nada mais essencial do que desenvolver habilidades socioemocionais quando, internamente, tudo está em ebulição.

Este tipo de habilidade é aperfeiçoado com o desenvolvimento da inteligência emocional, demonstrada a partir dos comportamentos que apresentamos em relação tanto a nós mesmos quanto aos outros.

Por isso, a importância de se estimular este tipo de inteligência: para que crianças, adolescentes e jovens consigam entender os próprios sentimentos e o dos outros, podendo gerenciar suas emoções e buscar ajuda, quando necessário.

Não basta, entretanto, ter exemplo ou apoio profissional no ambiente familiar ou na terapia. É fundamental que também haja um trabalho direcionado a este alcance na escola.

Conversar, conversar e conversar durante o setembro amarelo

Uma coisa é certa: evitar conversar visando à proteção, por receio de enfrentar um “assunto delicado” ou por insegurança na abordagem, não funcionam como prevenção ao suicídio.

Afinal, muitas vezes, o silêncio é o combustível para a propagação, a gradação e a combustão de desejos e sentimentos escondidos.

Dialogar sobre essa temática é a melhor forma – e muitas vezes única – de identificar o que está acontecendo para que se tome alguma iniciativa. Caso a criança, adolescente ou jovem expresse algo neste sentido, outra informação: não desconsidere nem minimize a vontade ou a intenção.

Além disso, falar sobre o assunto desde cedo, tanto em casa quanto na escola, permite a criação de uma rede de apoio sólida em torno dos jovens.

Setembro Amarelo: o ambiente escolar

De acordo com Paula de Tássia, psicóloga clínica, especialista em terapia de família e casal, um aspecto importante a ser trabalhado nas instituições de ensino é a qualificação da comunidade escolar para identificação e manejo destes comportamentos suicidas.

“Existem estudos que relacionam estes ambientes a índices menores caso propiciem programas que possam desenvolver comportamentos pró sociais e que permitam este comportamento em grupo, fortalecendo o desenvolvimento da expressão emocional, de forma que os estudantes possam reconhecer e levar a sério seus sentimentos, compartilhando-os com pessoas que irão oferecer acolhimento, respeito e ajuda”, explica.

Outra estratégia, relembra a psicóloga, é divulgar serviços de saúde para funcionários, colegas mais próximos e pais quando houver tentativa ou consumação de suicídio.

“É, de maneira geral, transformar esse ambiente para que ele possa proporcionar o relacionamento social, o sentimento grupal de cuidado, um lugar onde os jovens que estejam em sofrimento não sejam estigmatizados e sintam-se acolhidos por toda a comunidade escolar, incluindo os outros adolescentes”, salienta.

Contribuição da equipe pedagógica

Os professores e toda a equipe pedagógica têm papel imprescindível. E cabe a eles a observação cotidiana e a busca pela maneira mais adequada de lidar com esta temática no dia a dia, de acordo com a faixa etária dos estudantes.

Ao contrário do que se pode pensar, trata-se de uma abordagem que pode ter início ainda no momento da educação infantil.


Educação infantil – até 5 anos de idade

Apesar de, nesta faixa etária, as crianças ainda não conseguirem estabelecer uma conversação mais elaborada sobre os seus sentimentos, é importante estimular que falem sobre o que sentem, as emoções que as dominam.

Quanto mais cedo tiverem o hábito de externar, mais facilidade em compartilhar seus problemas e dramas pessoais terão no futuro.

Utilizar-se de personagens de livros, filmes, gibis e desenhos animados para tanto, pode ser um caminho interessante.

Ensino fundamental – 6 a 14 anos

Nestas idades, as crianças já desenvolvem sentidos de identificação com seus heróis ou personagens preferidos.

Então, exibir filmes, contar histórias e conversar sobre os sentimentos das personalidades auxilia neste processo. A animação Divertidamente, da Disney, por exemplo, aborda o tema da inteligência emocional.

Na trama, Riley, uma garota de 11 anos de idade, muda de cidade e, consequentemente, uma confusão na sala de controle do seu cérebro deixa os sentimentos de Alegria e a Tristeza de fora, afetando a vida da protagonista.

Além da exibição, demonstração e conversas sobre o que foi visto, é possível também elaborar atividades lúdicas mais interativas como realização de desenhos e murais de mensagens. Isso possibilita o desenvolvimento de competências socioemocionais como a gentileza, o respeito e a clareza.


Ensino médio – a partir dos 15 anos

Para esta faixa etária, além da exibição de filmes e livros temáticos, outras indicações são os grupos de discussão, que possibilitam a criação de um espaço de diálogo e troca.

Além de favorecerem a explanação, podem fazer surgir sensações de acolhimento e identificação. Importante que este momento de debate seja mediado por alguém experiente, capaz de identificar momentos oportunos para fazer observações e apontar os eventuais fatores de risco.

O Setembro Amarelo para além da sala de aula

Para que toda a comunidade escolar esteja ativa na luta pela promoção da saúde mental e prevenção do suicídio, algumas premissas são essenciais.

Uma delas é que as abordagens adotadas dialoguem com todo o âmbito local e que fique claro para o público-alvo que as iniciativas não se configuram como um julgamento de suas atitudes. Algumas iniciativas podem colaborar com esse processo:

Seminários, palestras e workshops

Falar sobre o assunto de forma aberta e transparente é preceito básico. Contar com a colaboração de alguém que possa abordar o tema imbuído de um viés profissional pode ser ainda mais exitoso.

É um momento em que profissionais da área de psicologia e que trabalhem na prevenção do suicídio podem expor os fatores de risco e ensinar os estudantes a identificá-los em si e nos outros.

Uma oportunidade, ainda, de apontar possíveis soluções, alternativas e caminhos para transpor o problema, tais como acompanhamento psicológico e psiquiátrico, exercícios físicos e mudanças de hábitos.

É interessante, ainda, que esses encontros possam contar com a presença de pais ou responsáveis, seja virtual ou presencialmente.

Cartazes em toda a escola do setembro amarelo

Além da escuta e do diálogo, uma outra atividade que pode contribuir para a expressão das emoções e sentimentos é a escrita. Muitas vezes, conseguimos extravasar sensações ou elaborar melhor um pensamento ao colocá-los no papel.

Além disso, antes de escrever, muitas vezes faz-se necessária uma pesquisa a respeito da temática. Espalhar cartazes ou pequenos textos no ambiente escolar é um ótimo ponto de partida para os alunos. Além de produzirem, eles terão acesso a pesquisas alheias e um lembrete diário a respeito da temática em seus trajetos na escola.

Incentivo ao acompanhamento profissional

Ao identificar eventuais integrantes da comunidade escolar portadores de qualquer tipo de problema psicológico, a escola tem obrigação de conversar com seus familiares no intuito de direcioná-los para um acompanhamento profissional.

Isso é imprescindível para que a pessoa receba um tratamento adequado e eficiente.

Como identificar problemas psicológicos nos estudantes no setembro amarelo?

Nestes casos, o tempo pode ser fator determinante. Quanto mais cedo forem identificados os primeiros sinais, mais rapidamente a pessoa poderá ser encaminhada para um tratamento profissional.

Não há, exatamente, um conjunto de sinais específicos (até porque as enfermidades podem ser variadas) que se manifestem. Além disso, generalizações podem ser perigosas e improcedentes. Algumas situações, entretanto, costumam ser mais comuns:

  • falta de interesse pelos estudos e de comprometimento com as responsabilidades diárias; consequente queda no rendimento escolar;
  • abandono do convívio social e amizades;
  • manifestação de sentimentos de desesperança, desamparo e desespero, depressão e presença de “dependência química”;
  • uso de expressões de que a vida não vale a pena ou de que está muito difícil viver;
  • engajamento em comportamentos que coloquem a própria vida em risco;
  • desorganização com situações cotidianas;
  • alterações significativas de comportamento;
  • desinteresse nas atividades habituais que antes eram prazerosas;
  • declínio geral nas notas e faltas repetidas sem justificativa;
  • irritabilidade, agressividade ou agitação;
  • alterações no sono e consequente sonolência durante as aulas;
  • abordagem constante do tema morte;
  • comunicação não verbal como olhares, gestos, maneira de falar e postura também devem ser observados.


Gostou de saber mais sobre como abordar a tristeza nas escolas no Setembro Amarelo? Então, confira o nosso artigo sobre inclusão escolar e saúde mental no processo de aprendizagem!

Patrícia Monteiro de Santana é jornalista formada pela Universidade Federal de Pernambuco em 2000. Com atuações em veículos como TV Globo, Revista Veja e Diário de Pernambuco, além de atuante em assessoria de comunicação empresarial, cultural e política.

Material paradidático sobre saúde mental no setembro amarelo

Para estudantes:

“A menina que não escutava”, Helena Britto Pereira. Os seis contos da trama aborda temas como a dificuldade de comunicação, a separação dos pais, a morte, a vaidade, o poder e o narcisismo.

“Os Nerds”, Gisele Gama Andrade. A publicação trata do tema do bullying.  Na trama, aspectos como responsabilidade com os estudos e respeito aos colegas.

“Confissões de um adolescente depressivo”, Kevin Breel. A trama aborda temas como depressão suicida com leveza e inteligência. 

“Guarda-chuva – O mágico protetor contra a depressão”, Marcos L.A. A protagonista do livro, Ben-Hur, descobre no guarda-chuva recebido como herança que, mais do que protegê-lo da chuva ou do sol, continha os segredos contra a depressão. 

Para Professores

“O Demônio do Meio-dia: uma Anatomia da Depressão”, Andrew Solomon.

Importante referência sobre a depressão, para leigos e especialistas. O autor intercala relatos pessoais de sua batalha contra a doença com depoimento de vítimas da depressão e opiniões de especialistas. 

“A Redoma de Vidro”, Sylvia Plath. Inspirada no verão de 1952, quando Plath tentou suicídio, a obra mostra a jovem personagem Esther Greenwood  ir parar em uma clínica psiquiátrica. 

“Viver é a melhor opção”, de André Trigueiro. O jornalista reúne elementos de convicção baseados em estudos recentes da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde para afirmar a importância da prevenção do suicídio.

Cartilha do Centro de Valorização da Vida (CVV).