Língua estrangeira

Quando alguém me pergunta sobre o meu nível de proficiência em português, eu, prontamente, respondo que sou fluente, pois essa é minha língua materna, que uso todos os dias para me comunicar com as pessoas.

Diferente da língua estrangeira, como o inglês, que informo possuir nível intermediário, por achar que não possuo um vocabulário tão vasto e sentir que, às vezes, tenho dificuldades em me expressar.

Mas, ultimamente, tenho pensado: Você já notou que também, em determinadas situações, temos dificuldades em nos expressar na nossa língua materna? Pois é, a comunicação não se restringe somente ao domínio da língua, mas engloba também variáveis emocionais, culturais e sociais.

Vamos refletir sobre o tema? Vamos analisar uma situação comigo?
Então, acompanhe o vídeo da Alice!

Alice (3 anos) mora na Inglaterra e ficou muito famosa entre os brasileiros pelos vídeos em que pronuncia palavras difíceis nas redes sociais – na época, com apenas 2 anos de idade. Ela foi alfabetizada em português, pois seus pais são brasileiros, e se encontra em processo de aquisição da língua estrangeira.

No vídeo é possível notar que, embora saiba se expressar bem em inglês, conheça a situação comunicativa, em que faz corretamente a pergunta para a Inteligência Artificial (IA) da Google e aguarda a resposta, ela não se sente segura com relação à escuta (listening), o que gera humor e muita identificação por parte das pessoas que estão aprendendo inglês ou outro idioma.

Esse exemplo mostra como a aprendizagem de um segundo idioma envolve modalidades da língua, em que você pode dominar um aspecto e não outro, e destaca que o aprendizado é constante, porque o mesmo ocorre conosco, em nossa língua materna.

Quer saber mais sobre a progressão da língua materna para a língua estrangeira?
Então, confira o conteúdo exclusivo sobre o tema!

Língua Materna

O papel cultural na aprendizagem de línguas

Como brasileiros, todos nós sabemos que temos diferentes palavras e maneiras para designar um acontecimento ruim. Seja na língua materna ou em uma língua estrangeira, a variedade de vocabulário para designar situações, sentimentos e coisas é bastante ampla, pois a língua está em constante transformação.

Refletir sobre ela é algo que nos leva a entender aspectos da cultura, da visão de mundo, de fragmentos históricos e de aspectos que são desenvolvidos e valorizados em determinadas regiões e cidades. 

Em um sentido amplo, é fácil notar que, de uns tempos para cá, além das gírias e dos regionalismos, vemos uma presença marcante de estrangeirismos, em especial do inglês, no nosso idioma. Apesar dos questionamentos e debates, a influência de outras culturas e suas línguas sobre outras, sempre fizeram parte do movimento histórico de evolução de uma língua.

No português do Brasil, por exemplo, temos múltiplas influências de diversas culturas que se refletem em palavras do nosso vocabulário, como por exemplo, futebol (inglês), chique (francês), capricho (italiano), guerrilha (espanhol), karaokê (japonês), blitz (alemão), quitanda (quimbundo-Angola), abadá (ioruba-Nigéria) capivara (tupi), entre muitas outras.

Essa diversidade faz parte da evolução de todas as línguas, em maior e menor grau. Elas ocorrem por diversos fatores, como dominações por guerras, migrações, globalização, uso de aplicativos e redes sociais, modismos, músicas etc.

Com isso, é possível constatar que os idiomas são moldados pelas influências de cada época, assimilando novas formas de expressão e comunicação, com elementos verbais e não verbais. 

Por exemplo, em plena era digital, vemos a proliferação de recursos de expressões, sons, gráficos e imagens, como os emoticons usados na comunicação por mensagem instantânea. Até mesmo eles são passíveis de serem ressignificados de acordo com a cultura. 

Por exemplo, o signo 🙏 é usado comumente no Brasil para representar fé e esperança, mas em países de língua inglesa é usado para selar um acordo (toca aqui – high five).

Como a língua afeta nossa visão do mundo

A língua de um povo pode ser tanto um instrumento de inclusão como de exclusão social. Saber se comunicar em um mundo repleto de desigualdade e pré-conceitos, é, ainda hoje, uma habilidade necessária para transpor barreiras impostas pelas culturas e sociedades.

Dominar os símbolos linguísticos permite que você seja mais efetivo em sua comunicação, pois isso, necessariamente, amplia o seu repertório sociocultural, conferindo habilidades que permitem uma comunicação mais fluida e efetiva com seus interlocutores. 

Consequentemente, todo o processo é iniciado com base na língua materna, que é a referência que o sujeito possui para interpretar e se relacionar com o mundo. Logo, a estrutura gramatical de uma língua tem a capacidade de influenciar na nossa visão de mundo e nosso comportamento

Nesse sentido, uma determinada língua pode facilitar a aprendizagem em diversas áreas e aspectos. 

Existem alguns idiomas que, devido à estrutura das regras gramaticais na construção dos numerais, tornam os seus falantes mais propensos a aprendizagem de contagem e dos sistemas numéricos.

 Como, por exemplo, o japonês, que utiliza a potência de 10 (exemplo: 47 = quatro dez sete) ou o francês que usa operações de multiplicação e adição para contagem (exemplo: 92 = 4 x 20 + 12).

Há também idiomas que facilitam a localização geográfica e espacial, como por exemplo, o povo aborígene australiano KuuK Thaayorre, que utiliza pontos cardeais para indicar a localização de algo ou alguém. Ou seja, eles não utilizam direita e esquerda, mas sim sudoeste, leste, nordeste etc.

Logo, apropriar-se de signos linguísticos de outros idiomas permite que ampliemos nossas maneiras de entender o mundo, de relacionar fatos e de aprender mais sobre nós mesmos.

Língua materna e estrangeira

Vivendo em uma aldeia globalizada e usando uma língua franca

Segundo o imperador romano Carlos Magno, responsável por unir a maior parte da Europa ocidental e central, “ter um segundo idioma é ter uma segunda alma”. Nos tempos do império romano, o latim era a língua oficial. Ele influenciou e foi influenciado por diversas línguas que eram faladas ao longo do vasto império.

No mundo globalizado de hoje, com intensas trocas comerciais e culturais, aprender uma língua estrangeira tornou-se um aspecto importante para a formação das populações de uma nação. 

A língua inglesa tornou-se uma língua franca, ou seja, uma língua global como resultado de dois fatores principais: a extensão do poder colonial britânico, que teve seu auge no final do século XIX, e a hegemonia dos Estados Unidos como potência econômica no século XX.

Nessa perspectiva de língua franca, de acordo com a BNCC (2018), o inglês ganha um novo status, que implica em deslocar a língua de um modelo ideal de falante para um modelo mais real, considerando suas diferenças culturais e as variações linguísticas decorrentes das situações de uso e das comunidades que a falam. Esse fator favorece o ensino da língua inglesa com mais interculturalidade. 

O papel da língua materna na aprendizagem de idiomas

O processo de aprendizagem de um novo idioma se inicia com a bagagem que temos da nossa língua materna, o que pode nos conferir vantagens únicas, mas também desafios. Como brasileiros, falantes de língua portuguesa, temos uma riqueza fonética que nos permite emitir diferentes sons, o que pode ser um facilitador ao pronunciar palavras em outros idiomas.

Além disso, a origem latina do nosso idioma nos proporciona um conhecimento gramatical e de vocabulário que podem ser bastante úteis na aprendizagem do inglês, por exemplo. Pois, muitos termos técnicos da referida língua possuem raízes latinas, apresentando semelhanças ao português, como “communication” (comunicação) ou “information” (informação), por exemplo.

Existem algumas estratégias que podem ajudar no processo de ensino e aprendizagem de uma língua estrangeira. Mas, podemos adiantar que não existe uma fórmula mágica que faça alguém aprender um idioma em 30 dias. 

A aprendizagem de uma nova língua envolve variáveis que mudam de pessoa para pessoa, sendo necessário uma análise sobre preferências, maneiras de gerar engajamento, interesse pela língua, entre outros.

Não é uma tarefa simples, podemos citar algumas estratégias que utilizam o conhecimento prévio do estudante sobre a língua materna, para ajudar nesse processo. São eles: 

  1. Comparação 

Um elemento importante na progressão da língua materna para a língua estrangeira é a capacidade de comparar as estruturas linguísticas e identificar padrões entre os idiomas. Por exemplo, na língua portuguesa, usa-se a forma “estar + gerúndio” para expressar uma ação em andamento, como “estou estudando”.

No inglês, a construção equivalente é “to be + verb + ing” – “I am studying”. Ao analisar essas diferenças e semelhanças, o estudante pode entender melhor as nuances da nova língua e minimizar erros.

  1. Expansão de vocabulário 

Um passo crucial na progressão para a língua estrangeira é a ampliação do vocabulário. É possível aproveitar o conhecimento da língua materna para identificar palavras cognatas – aquelas que têm origem comum entre os idiomas.

Por exemplo, na transição do português para o inglês, “hospital” é uma palavra que mantém a forma e significado em ambos os idiomas. Além disso, explore recursos como dicionários bilíngues e aplicativos de aprendizado de idiomas, que podem fornecer traduções e definições úteis.

Intensificando a aprendizagem de inglês com estratégias e recursos

Um aspecto importante para aprendizagem de um idioma é a prática da compreensão auditiva. Ela é uma habilidade essencial para se comunicar efetivamente em uma nova língua.

Em inglês, além do professor, ela pode ser aprimorada com o uso de aplicativos, como por exemplo, Hello Talk, Wlíngua ou Duolingo, e materiais de áudio, como podcasts, músicas ou programas de rádio. 

Além disso, você pode aumentar a familiaridade do estudante com o idioma, incentivando a escuta de podcasts populares, como “English Experts Podcast” (professor brasileiro) ou “Daily Easy English Expression Podcast” (professor americano).  

Ao expor o estudante regularmente a esses materiais, ele se familiarizará com as especificidades do idioma, como ritmo, entonação e vocabulário, aumentando o seu poder de compreensão.

Adicionalmente, é importante também praticar a fala. Para desenvolver essa habilidade é essencial praticar regularmente.

Por isso, sempre que possível busque proporcionar momentos para que os estudantes conversem entre si, façam simulações de situações em sala de aula, mas também pratiquem com falantes nativos do idioma, como é possível no aplicativo Hello Talk

Isso permitirá que o estudante aplique o vocabulário e as estruturas gramaticais aprendidas, além de ganhar confiança na comunicação oral.

Já a escrita pode ser auxiliada com o uso de celulares ou na sala de informática (caso haja uma na sua escola), pois o recurso de idioma desses aparelhos oferece correção e feedback sobre erros ortográficos, bastando baixar o inglês para usá-lo no teclado. 

O trabalho individual ou em grupo pode envolver a escrita de pequenos textos sobre tópicos de interesse, como músicas, games ou jogadores de futebol, por exemplo. 

Tais exercícios de escrita ajudam a consolidar o conhecimento gramatical do estudante e expande o seu vocabulário. E, nesse contexto, a leitura é crucial para ajudar nesse processo. Sempre que possível traga letras de músicas, trechos de filmes e de livros e peça para que os estudantes escrevam resumos ou reflexões sobre eles. 

Essa prática constante ajudará na assimilação de regras gramaticais e na incorporação de expressões.

Anos finais: Intensificando a aprendizagem com o livro didático

Combinado com os recursos e estratégias apresentados, a utilização de um material didático é importante para ajudar a consolidar e sistematizar o processo de multiletramento que envolve a aprendizagem da língua inglesa. 

Na obra Anytime! Always ready for education, da editora Saraiva, os autores Amadeu Marques, Ana Carolina Cardoso, Luana Araújo e Mariana Bartolo, apresentam recursos pensados para a realidade da escola pública brasileira.

A obra, do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, que está disponível para escolha no âmbito do PNLD 2024, é um ótimo exemplo de como articular as práticas sociais contextualizadas para desenvolver as capacidades de compreensão e produção em língua inglesa. 

Além disso, ela utiliza a língua materna, de maneira sistematizada, a favor da aprendizagem da língua inglesa. O processo é realizado de maneira gradativa, ou seja, o nível de complexidade e a presença da língua inglesa vai aumentando ao longo dos anos, sendo mais presentes no 8° e 9° ano. Nesse sentido, temos como exemplo, a unidade de abertura do livro do 7° ano:

Nele, notamos que o foco da proposta é debater o inglês no mundo, a importância da aprendizagem dessa língua e aspectos da interculturalidade – tão importante para a aprendizagem de uma língua estrangeira.

Propõe-se um debate sobre situações do dia a dia e como o inglês poderia melhorar as experiências ali retratadas. Perceba que há uma prevalência da língua portuguesa, cujo intuito é de trabalhar os conhecimentos prévios, a comparação e a capacidade dedutiva do estudante para interpretar informações de fácil entendimento contidas no texto.  

Além disso, a preocupação em proporcionar uma familiarização com a língua inglesa é estendida à uma seção, exclusiva para o 6° ano, chamada “Classroom Language”.

Ela traz atividades que apresentam vocabulário e expressões que visam preparar os estudantes para o dia a dia em sala de aula. Essas atividades são propostas em língua portuguesa para permitir que os estudantes expressem melhor suas ideias, pontos de vista e que discutam mais profundamente o tema abordado. 

Além disso, com o objetivo de intensificar a aprendizagem, a obra apresenta uma proposta estruturada para trabalhar a leitura, a escrita e a oralidade. O processo tem divisão em três etapas, para auxiliar o estudante a compreender, organizar e incorporar os elementos de utilização antes, durante e depois da ação.  

O exemplo da imagem acima é da seção “Let’s Listen”, específica para desenvolver as habilidades de oralidade. Na primeira etapa, ela apresenta atividades que ativam o conhecimento prévio dos estudantes a respeito do assunto do texto oral e/ou antecipam vocabulário novo e relevante para sua compreensão, preparando os estudantes para o que vão ouvir.

Na sequência, na segunda etapa, ela apresenta textos orais autênticos, de falantes nativos e não nativos de inglês, de diferentes países, e oferece atividades variadas de compreensão oral. E para finalizar, na terceira etapa, ela propõe uma discussão quanto ao assunto do áudio e proporciona oportunidades de produção oral e de desenvolvimento da argumentação.

Por meio da realização dessas atividades, os estudantes vão realizando comparações, expandindo o vocabulário e incorporando noções sobre a estrutura gramatical, associando às diferentes situações de uso da língua.

Adicionalmente, a obra da editora Saraiva, apresenta uma seção voltada para trabalhar os conhecimentos linguísticos, chamada “Language Study”, que apresenta propostas de aplicações práticas, relacionadas aos pontos estudados.

Adicionalmente, a seção chamada “Let’s Practice” apresenta atividades complementares, com o objetivo de fazer com que os estudantes utilizem as estruturas gramaticais adequadas às situações de uso, de forma contextualizada.

Para tornar o desafio de aprender a língua inglesa de maneira leve e divertida, além de favorecer a assimilação dos objetos de conhecimento estudados, a obra apresenta também uma seção lúdica, com atividades que envolvem jogos e brincadeiras que favorecem a interação entre os estudantes e aplicação do que foi estudado ao longo das unidades.

O objetivo das atividades da seção “Play Time!” é estimular a interação, a cooperação, a oralidade, e permitir a criação de um ambiente descontraído e divertido em sala de aula.

Além disso, entendendo a importância da progressão da língua materna para a língua estrangeira, a obra apresenta diversos Objetos Educacionais Digitais (OED) que auxiliam na sua prática docente. São recursos como áudios, carrossel de imagens, gifs animados, entre outros, que são ótimos insumos para trabalhar os conhecimentos sobre a língua inglesa em sala de aula.

Juntados os pontos

A progressão da língua materna para a língua estrangeira é uma aventura emocionante e desafiadora. É possível aproveitar a base da língua materna para realizar comparações entre as estruturas linguísticas, expandir o vocabulário, praticar a pronúncia, entre outras possibilidades.

A utilização dos conhecimentos prévios e a contextualização com aspectos da interculturalidade permite que você auxilie o estudante na construção de alicerces que lhe permitam desenvolver a língua inglesa e atuar no mundo globalizado do século XXI. 

Agora que você já conhece o potencial que uma língua possui para influenciar a nossa visão de mundo e nosso comportamento, convidamos você a embarcar nessa jornada, e contribuir ainda mais para que os estudantes possam ampliar seus repertórios e colaborar na construção de um mundo melhor.

Gostou de saber sobre a progressão da língua materna para a língua estrangeira? Então, confira nosso conteúdo sobre a importância do Pensamento Computacional no Ensino Fundamental!