papel do professor na curadoria dos materiais pedagógicos

Começando meu planejamento. Vou utilizar o livro didático, pois precisamos fechar o capítulo da semana… Ah, mas também temos um texto interessante na apostila… Vou usar ainda alguns materiais do site e-docente, que estão bem atualizados.

Agora que me lembrei: o Enzo, da 238, tinha indicado a letra de uma música legal que eu não conhecia… Mas a coluna do Julian Fuks da semana também está perfeita para o tema da semana… Ih, tinha me esquecido de que está na época em que investigaremos aquela página do Instagram para analisar as estratégias de comunicação dos influenciadores digitais…

É, como podemos perceber, já se foi o tempo em que seguíamos apenas com um ou outro material em nossas aulas, a fim de cumprir o planejamento de cada dia. Para além de livros didáticos oficiais e apostilas próprias, hoje temos uma infinidade de fontes nas quais podemos nos nutrir de novos materiais e enriquecer nossas aulas.

Sim, muitas escolas acabam “amarrando” as estratégias e predefinindo com quais materiais devemos trabalhar, mas sempre há espaço para trazermos novidades que mantenham nossas propostas mais interessantes e adequadas ao grupo com o qual estivermos trabalhando.

Alguns podem estar falando: “ah, sempre trabalhamos com materiais extras, como jornais, revistas etc.”.

Com certeza, nós, professores, sempre inquietos, usamos recursos novos, inusitados, criativos. Porém, atualmente, temos uma facilidade de acesso nunca antes vista, com possibilidades de edição e adequação riquíssimas.

Mas vale ressaltar que, da mesma maneira que essa infinidade de dados disponíveis nos inspira, ela também pode nos paralisar. Afinal, como diz a canção: “o que é que eu vou fazer com essa tal liberdade?”.

O que é ser professor?

Importante ampliarmos essa discussão com o questionamento: o que é ser professor para você? Qual a nossa função em sala de aula?

E mais: como nossa profissão se modifica e se encontra nos dias de hoje? Ter em mente as respostas para essas perguntas é muito importante, já que, dependendo daquilo em que você acredita, a diversidade de materiais disponíveis faz maior ou menor diferença.

Se você acha que o professor deve apenas seguir materiais oficiais e cumprir planejamentos, numa relação unidirecional, sem levar em consideração as necessidades dos alunos, realmente não faz muita diferença o aumento do menu de materiais disponíveis.

Mas, se você consegue enxergar potencial educacional até mesmo em um programa de TV, em uma postagem no Twitter (me recuso a chamá-lo de “X”. rs.), em um “erro de português” intencional numa propaganda numa rede social para causar engajamento, o mundo atual, com tantas possibilidades ao nosso redor, é um prato cheio.

Importante deixar claro: não acho que é apenas responsabilidade do professor essa renovação de postura, como enfatizo no artigo “A culpa é do professor! A necessária atenção a todos os atores do processo educacional”.

Voltemos, então, à importante discussão sobre a nossa busca por diversidade e contextualização do ensino dentro de realidades tão variadas em nosso país.

Diversidade e criatividade: desafios do professor

Como comentamos anteriormente, adaptações de materiais para serem trabalhados em sala de aula sempre aconteceram, já que nós, professores, sempre precisamos ter a criatividade aguçada em nosso dia a dia. Mas, agora, com internet móvel e smartphones disponíveis, nosso alcance passa a ser maior.

Andando na rua e vendo um outdoor interessante, podemos tirar uma foto; lembrando de uma música ou de uma propaganda antiga que esteja no contexto da aula, podemos buscá-la no Youtube; ouvindo o aluno falar sobre determinado conteúdo que tenha a ver com o que estamos tratando na disciplina, é só buscá-lo na internet.

Ou seja, a transformação de qualquer material em objetos de aprendizagem (LEFFA, 2006) é muito mais imediata e prática.

Porém, essa flexibilidade e essa sensibilidade para tornar os planejamentos permeáveis não são automáticas na nossa atuação.

O professor, em seu dia a dia, pode passar por obstáculos que o impedem de adotá-las, como falta de tempo, engessamento do planejamento da escola, desgaste por conta da carga excessiva de trabalho etc.

Mas vale sempre deixar aqui tais reflexões, tanto dos problemas que assolam nossa profissão, impedindo-nos de avançar em busca de uma pedagogia libertadora, quanto das possibilidades que nos cercam caso consigamos ter condições ideias (ou pelo menos mais próximas das ideais) de trabalho.

O trabalho de curadoria

Atuar como curador não significa deixar de lado as obrigações e as orientações oficiais sobre nossa atuação. Muito pelo contrário.

A partir de descritores gerais como os da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), podemos criar, selecionar, combinar materiais que estejam mais integrados a cada realidade em que trabalhamos. Partimos de uma orientação comum, geral, até o trabalho com um material próprio, específico. Afinal…

  • “O ato de “curar” está relacionado com o zelo, cuidado e atenção com alguma coisa.
  • Etimologicamente, a palavra curadoria tem origem do latim “curator”, que quer dizer “aquele que administra”, “aquele que tem cuidado e apreço“.”

Vemos acima uma definição simples do que seria essa curadoria, sobre a qual vimos falamos ao longo deste breve texto. Apesar de simples, ela nos traz algumas palavras ricas em representação:

Quanto mais zelo tivermos, mais atentos estaremos na busca de materiais que façam sentido na vida de cada turma no momento em que estivermos desenvolvendo nossa disciplina.

O cuidado nos fará trabalhar voltados a selecionar manualmente cada conteúdo, pensando não apenas em cumprir tarefas e planejamentos, mas em desenvolver o que de melhor estiver ao alcance da turma.

A curadoria nos permite ter atenção para que não nos deixemos levar pelas inúmeras tarefas que nos são impostas no dia a dia, em meio a materiais que, criados por pessoas distantes de nossa realidade, não atendem a nossos objetivos como professores.

Zelo, cuidado, atenção mostram que temos apreço por nossos alunos, pela educação, por nossa profissão. Olhar para todos como pessoas únicas e que podem contribuir de maneira significativa para a promoção de discussões caras à sociedade.

Em meio ao mar de possibilidades, não é fácil fugir de inundações, de “canoas furadas”. Remar contra a maré é algo que nós, professores, fazemos há muito tempo e que nos deixa ofegantes, buscando novos cilindros de oxigênio que nos deem novos ares.

Referências

LEFFA, Vilson J. Nem tudo que balança cai: objetos de aprendizagem no ensino de línguas. Polifonia. Cuiabá, v. 12, n. 2, p. 15-45, 2006. Disponível em: https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/polifonia/article/view/1069/841. Acesso em: 18 nov. 2023.