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O desenvolvimento da consciência ambiental nos Anos Iniciais: estratégias pedagógicas e impacto na formação cidadã 

O Desenvolvimento da Consciência Ambiental nos Anos Iniciais

Falar de educação ambiental nos Anos Iniciais deixou de ser uma escolha pedagógica opcional para tornar-se uma obrigação legal e um compromisso ético com as novas gerações.

Neste artigo, confira as bases legais que orientam a educação ambiental, entenda como se dá constituição do sujeito ecológico e conheça algumas estratégias metodológicas para o trabalho com essa temática na sala de aula. Vamos nessa?

Bases Legais da Educação Ambiental: Da Constituição à BNCC

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 225, estabelece que todos têm direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado e impõe ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Esse trecho, muitas vezes visto apenas como um princípio jurídico, precisa ser traduzido para a prática escolar, na qual valores, conhecimentos e atitudes se formam desde cedo.

Leia mais: Educação Ambiental e Educação para o Consumo: Pilares da Sustentabilidade nas Escolas Públicas

A Lei nº 9.795/1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), reforça que a Educação Ambiental (EA) é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente em todos os níveis e modalidades, de forma articulada e transversal. Isto vai além de simplesmente criar uma disciplina isolada, pois a formação deve integrar a temática ambiental em diferentes áreas do conhecimento, permitindo que o aluno perceba conexões entre os conteúdos e o mundo ao seu redor.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental aprofundam essa visão, determinando que a EA deva ser crítica, participativa e comprometida com a transformação social. Aqui, ganha destaque a necessidade de relacionar questões ambientais com temas como desigualdade social, saúde pública e direitos humanos, evitando reduzir o debate a ações pontuais e descontextualizadas, como a simples coleta de lixo na escola.

A Inclusão da EA nos Anos Iniciais pela BNCC

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) também traz contribuições importantes, sobretudo nas competências gerais que tratam de responsabilidade e cidadania, empatia e cooperação, além do conhecimento do mundo físico e natural. Nos Anos Iniciais, essas competências são traduzidas em práticas que ajudam a criança a compreender seu papel como agente transformador no ambiente em que vive. A escola, nesse sentido, torna-se um espaço de aprendizagem e exercício da cidadania ambiental.

Ao compreender essa base legal e normativa, o professor ganha segurança para trabalhar o tema, sabendo que está respaldado por políticas públicas e documentos oficiais. Mais que isso, percebe que a EA não é um “acréscimo” ao currículo, mas um eixo estruturante que dialoga com todos os componentes, ajudando a formar alunos capazes de pensar criticamente e agir de forma responsável.

Essa clareza normativa também facilita o diálogo com a gestão escolar, com a comunidade e as famílias, pois fundamenta o trabalho pedagógico em leis e diretrizes reconhecidas nacionalmente. Ao apresentar projetos e atividades, o professor pode evidenciar que suas ações estão em sintonia com um projeto de educação que é, ao mesmo tempo, legalmente respaldado e socialmente necessário.

No entanto, ter garantias legais não basta: é preciso transformar esses fundamentos em experiências significativas para as crianças.

Isto será abordado no tópico a seguir, que tratará da formação do sujeito ecológico, figura central para compreender o verdadeiro alcance da educação ambiental nos Anos Iniciais.

A Formação do Sujeito Ecológico na Educação Infantil e Anos Iniciais

A educadora Isabel Cristina de Moura Carvalho cunhou a expressão sujeito ecológico para descrever a pessoa que conhece informações sobre o meio ambiente, além de ser aquele que constrói uma identidade comprometida com sua preservação e transformação.

Essa formação vai além da transmissão de conteúdo, uma vez que envolve criar oportunidades para que a criança perceba a si mesma como parte da natureza, compreendendo que seu bem-estar está intrinsecamente ligado ao equilíbrio ambiental.

A Importância da Visão Sistêmica e do Engajamento Crítico

Nos Anos Iniciais, essa percepção é construída por meio de experiências concretas e significativas. Crianças que participam de uma horta escolar, que observam as mudanças no ciclo das plantas ou que acompanham o cuidado com animais desenvolvem vínculos afetivos e cognitivos com o ambiente.

Leia mais: O brincar e a natureza: ludicidade e consciência ambiental na educação infantil

Não se trata de romantizar a natureza, mas de integrar o aprendizado escolar com a vida real, em consonância com a educação ambiental crítica proposta por Carlos Frederico Loureiro, que enfatiza o papel da consciência e da participação ativa na transformação da realidade.

A visão sistêmica, defendida por Fritjof Capra, é essencial nesse processo. Ao apresentar o mundo como uma rede de relações interdependentes, o professor ajuda a criança a perceber que pequenas ações individuais têm impacto coletivo, e que problemas ambientais não estão isolados de questões sociais e econômicas. Por exemplo, discutir o desperdício de água na escola pode levar a reflexões sobre escassez hídrica em comunidades vizinhas e sobre o direito universal ao acesso à água potável.

Outro ponto relevante é a construção de valores e atitudes desde cedo. Crianças em fase de alfabetização já são capazes de compreender conceitos como cuidado, respeito e cooperação. Incorporar esses valores nas atividades escolares significa trabalhar simultaneamente o desenvolvimento socioemocional e a formação cidadã, dois aspectos indissociáveis na proposta da EA.

Vale lembrar que formar sujeitos ecológicos implica também estimular a curiosidade e a capacidade de questionamento. Perguntas como “Para onde vai o lixo que jogamos fora?” ou “O que acontece quando chove muito em nossa cidade?” podem desencadear investigações interdisciplinares e engajamento genuíno.

Dessa forma, a formação do sujeito ecológico é um processo contínuo, que não se encerra com um projeto ou uma atividade. Ao longo dos Anos Iniciais, as experiências precisam se somar, reforçando o sentido de pertencimento e responsabilidade, até que cuidar do ambiente se torne um hábito natural e consciente.

Essa continuidade se consolida quando as práticas pedagógicas são bem planejadas, criativas e conectadas à realidade dos alunos, tema que abordaremos no próximo bloco.

Estratégias Pedagógicas e Metodologias para a Educação Ambiental (EA)

Para transformar a teoria em prática, é preciso que a educação ambiental esteja presente no cotidiano escolar de forma planejada, interdisciplinar e adaptada à realidade dos alunos. Priscylla Karoline de Menezes, em seu material didático voltado à EA, destaca a importância de projetos que integrem diferentes áreas do conhecimento e que sejam vivenciados dentro e fora da sala de aula.

A Interdisciplinaridade na Prática: Projetos e Atividades Lúdicas

A interdisciplinaridade é um ponto-chave. Em Matemática, é possível trabalhar a medição de consumo de água na escola; em Ciências, observar ciclos naturais; em Artes, produzir cartazes e maquetes sobre ecossistemas; em Língua Portuguesa, criar histórias e poesias sobre a relação homem-natureza. Assim, a EA não aparece como um tema “extra”, mas como fio condutor de aprendizagens diversas.

Projetos interdisciplinares fortalecem essa integração. Exemplos práticos incluem:

  • Hortas escolares e jardins sensoriais.
  • Monitoramento da qualidade da água de um rio próximo.
  • Campanhas de redução do uso de plástico e descarte correto.
  • Ações de compostagem com os resíduos orgânicos da escola.

Esses exemplos permitem aplicar conhecimentos de várias disciplinas enquanto se promove a conscientização ambiental. A participação da comunidade nesses projetos amplia o impacto, mostrando aos alunos que a escola é parte de um tecido social mais amplo.

Metodologias lúdicas também têm papel fundamental nos Anos Iniciais. Jogos educativos, dramatizações, contação de histórias e trilhas exploratórias estimulam a curiosidade e o envolvimento, tornando o aprendizado mais significativo. Essas estratégias favorecem que conceitos abstratos, como biodiversidade ou ciclo hidrológico, sejam compreendidos de forma concreta e prazerosa.

Importante destacar que a avaliação dessas ações não precisa se restringir a provas ou trabalhos escritos. Mudanças de comportamento, novas ideias trazidas pelos alunos e o engajamento nas atividades são indicadores valiosos de aprendizagem e de desenvolvimento da consciência ambiental. Além disso, a continuidade das práticas, com revisitação periódica dos temas, garante que o aprendizado se fixe e evolua.

Ao planejar metodologias e projetos, é importante lembrar que a EA é tanto um conteúdo quanto uma postura pedagógica. O professor que dá o exemplo, que reduz o uso de papel, que valoriza a cooperação e que busca soluções coletivas para os problemas cotidianos, transmite mensagens tão fortes quanto qualquer conteúdo formal.

Conclusão: A Educação Ambiental como Eixo de Cidadania

A educação ambiental nos Anos Iniciais deve cumprir seu papel de formar cidadãos críticos, sensíveis e atuantes. Muito além de preparar para o futuro, ela atua no presente, transformando a relação das crianças com o mundo e contribuindo para uma sociedade mais justa, solidária e sustentável.

Minibio do autor 

Vinicius Cavichioli Rodrigues é mestrando em Gestão Ambiental pelo Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), formado em Jornalismo pela Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) e em Gestão Ambiental pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH/USP), além de ser Especialista em Desenvolvimento Sustentável. Com mais de doze anos de experiência na área ambiental, tem vivência tanto no setor público quanto no privado. Atuou como docente em cursos profissionalizantes no SENAC e na graduação de Engenharia Ambiental na Universidade de Santo Amaro (UNISA), disseminando esse conhecimento e abordando temas alinhados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, sempre com foco na temática ambiental. Recentemente trabalhou como Gestor de Unidades de Conservação no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Atualmente, é Analista de Meio Ambiente na JBS, desempenhando suas atividades na Unidade de SUAPE. 

Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Versão final homologada, Brasília, 2017. Disponível em: www.gov.br/mec/pt-br/escolaemtempointegral/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal.pdf. Acesso em: 10 ago. 2025. 

BRASIL. Lei n.º 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 abr. 1999. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm. Acesso em: 10 ago. 2025. 

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CP n.º 2, de 15 de junho de 2012. Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 18 jun. 2012. Disponível em: portal.mec.gov.br/dmdocuments/rcp002_12.pdf. Acesso em: 10 ago. 2025. 

CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. “O sujeito ecológico: a formação de novas identidades na escola.” In: PERNAMBUCO, Marta; PAIVA, Irene (Orgs.). Práticas coletivas na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2013. v. 1, p. 115–124. 

LOUREIRO, C. F. B.; LAYRARGUES, P. P.; CASTRO, R. S. (orgs.). Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2005. 

CAPRA, Fritjof. As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável (Inglês: The Hidden Connections). São Paulo: Cultrix, 2002. 

MENEZES, Priscylla Karoline de. Educação ambiental [recurso eletrônico]. Recife: UFPE, 2021. (Coleção Geografia). ISBN 978-65-5962-057-9. Disponível em: https://www.ufpe.br/uab. Acesso em: 10 ago. 2025

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