MENU

Mudanças Climáticas: conceitos científicos e reflexões sociais

15 de outubro de 2025,
E-docente
Mudanças Climáticas - conceitos científicos e reflexões sociais

A crise climática no quotidiano: uma realidade presente

As mudanças climáticas deixaram de ser somente um tema discutido em conferências científicas para se tornarem uma realidade presente no cotidiano de milhões de pessoas. Os fenômenos naturais relacionados às ondas de calor extremo, às secas prolongadas, às inundações e à intensificação de eventos climáticos severos já fazem parte do cenário de diversas regiões do Brasil e do mundo.

A mídia divulga recorrentemente muito sobre o sofrimento humano diante dos diferentes eventos climáticos, o desalento ao se perder tudo com as enchentes e a dor ao enterrar amigos e familiares vítimas de desastres.

Nesse contexto, compreender as bases científicas das mudanças climáticas e suas implicações sociais é um passo essencial para a formação cidadã e para a atuação crítica dos educadores da Educação Básica.

As bases científicas das mudanças climáticas

Do ponto de vista científico, o aumento das emissões de gases de efeito estufa — como o dióxido de carbono (CO₂), metano (CH₄) e óxidos de nitrogênio (NOx) — está diretamente relacionado às atividades humanas, especialmente à queima de combustíveis fósseis, ao desmatamento e à agropecuária intensiva.

O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, 2023) aponta que a temperatura média global já aumentou aproximadamente 1,2°C em relação aos níveis pré-industriais, e que há um risco crescente de ultrapassarmos 1,5°C nas próximas duas décadas, o que agravaria ainda mais as crises ambientais e sociais.

Leia mais: Mudanças Climáticas e o impacto socioambiental: uma abordagem lúdica e dialógica

As consequências desses desequilíbrios são múltiplas e vão desde as comunidades costeiras ameaçadas pela elevação do nível do mar, a perdas na biodiversidade, à insegurança alimentar e ao agravamento das desigualdades sociais. No Brasil, eventos como as enchentes no Rio Grande do Sul, a redução de chuvas na Amazônia e as queimadas descontroladas no Pantanal evidenciam que estamos diante de uma crise climática que impacta especialmente os grupos mais vulneráveis. Essas situações exigem não somente uma compreensão técnica do fenômeno, mas também uma reflexão crítica e ética sobre os modos de vida e produção vigentes.

Na perspectiva da Educação Ambiental crítica, educadores ambientais como Michele Sato, Moacir Gadotti e Carlos Frederico Loureiro apontam que a crise climática não é somente ambiental, mas também política e civilizatória.

Assim, é fundamental que os professores assumam um papel ativo na mediação de saberes que articulem ciência, cidadania e transformação social. A educação precisa ir além do discurso técnico e se tornar espaço de resistência, formação e cuidado com a vida em todas as suas formas. Confira mais neste artigo.

A ciência do clima: o que dizem os dados?

O papel do IPCC e as evidências robustas

Entender o funcionamento do clima envolve compreender as interações entre a atmosfera, os oceanos, os solos, os seres vivos e as atividades humanas. O IPCC, referência internacional sobre o tema, alerta que, sem a redução urgente das emissões globais de gases de efeito estufa, o planeta poderá enfrentar impactos irreversíveis.

Leia mais: Metodologias ativas e tecnologia na sala de aula pública: transformando a educação brasileira

O relatório de 2023 apresenta evidências robustas de que eventos como secas severas, ciclones tropicais mais intensos e colapsos nos ecossistemas estão se tornando mais frequentes.

Impactos climáticos no Brasil: desmatamento e emissões

No Brasil, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) vem monitorando padrões climáticos e alertando para a relação direta entre o desmatamento e o aumento da temperatura em regiões como a Amazônia.

Além disso, dados do Observatório do Clima, rede de organizações da sociedade civil brasileira, indicam que o Brasil foi responsável pela emissão de 2,3 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa em 2022, principalmente por conta do desmatamento ilegal e das queimadas.

É preciso traduzir esses dados em uma linguagem acessível e crítica para os estudantes. Trabalhar com infográficos, mapas, notícias e relatórios em sala de aula pode contribuir para o letramento científico e para o desenvolvimento do pensamento sistêmico. Afinal, compreender a ciência do clima é essencial para entender os desafios sociais e políticos que enfrentamos.

Reflexões sociais e ambientais: quem paga o preço?

Desigualdade climática e injustiças históricas

Embora as mudanças climáticas sejam globais, seus efeitos são sentidos de forma desigual. Populações empobrecidas, indígenas, ribeirinhos, quilombolas e moradores das periferias urbanas são os mais afetados, apesar de serem os que menos contribuem para o agravamento da crise. A desigualdade climática é um reflexo das injustiças históricas e da lógica predatória do sistema econômico dominante.

Greta Thunberg, jovem ativista sueca, tem sido uma das vozes mais influentes na denúncia das injustiças. Seu movimento Fridays for Future mobilizou milhões de jovens no mundo todo e trouxe visibilidade para a urgência da ação climática. Em sua participação na Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP25), Greta afirmou: “Vocês dizem que amam seus filhos acima de tudo, e ainda assim estão roubando o futuro deles diante de seus olhos”.

Desafios de políticas públicas no Brasil

No Brasil, o Plano Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), instituído pelo Decreto nº 9.578/2018, estabelece diretrizes para a mitigação dos impactos climáticos. Contudo, muitas dessas políticas ainda enfrentam desafios de implementação efetiva. É nesse contexto que a atuação de ONGs como o Instituto Socioambiental (ISA), o Greenpeace Brasil e o ClimaInfo se destaca, ao pressionarem por políticas públicas, promoverem educação ambiental e denunciarem retrocessos legislativos.

Fonte: Organização das Nações Unidas. Campanha Ambição Climática).  
Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/242958-campanha-pela-ambi%C3%A7%C3%A3oclim%C3

Educação como ferramenta de transformação

A educação ambiental na base curricular

A Educação Ambiental, conforme já definida no passado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), na Política Nacional de Educação Ambiental (Lei nº 9.795/1999) e mais recentemente na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), deve ser integrada aos currículos escolares de forma transversal, permanente e contínua.

Essa perspectiva vai ao encontro da abordagem defendida por Michele Sato, que propõe uma educação ambiental sensível, poética e política, conectada com os territórios e com as realidades vividas pelas comunidades.

Práticas pedagógicas para o engajamento juvenil

Para os professores da Educação Básica, o desafio está em promover práticas pedagógicas que aproximem os estudantes da problemática ambiental sem cair em discursos alarmistas ou fatalistas. Projetos interdisciplinares, rodas de conversa, uso de documentários, simulações e oficinas práticas podem tornar o tema mais próximo e mobilizador.

É fundamental desenvolver a empatia, o pensamento crítico e o engajamento juvenil. As experiências de escolas que adotam hortas escolares, monitoramento da qualidade do ar, agroecologia, uso sustentável da terra, visitas a reservas florestais ou ações de reflorestamento local, demonstram que é possível construir alternativas educativas transformadoras.

Essas iniciativas fortalecem o protagonismo estudantil e se alinham aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), em especial o ODS 13, que trata da ação contra a mudança global do clima.

Fonte: Organização das Nações Unidas. Campanha Ambição Climática).  
Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/252972-clima-concentra%C3%A7%C3%A3o-de-gases-de-efeito-estufa-na-atmosfera-atinge-novo-recorde-em-2022

Conclusão: educar para a vida e a justiça socioambiental

As mudanças climáticas representam um dos maiores desafios do século XXI e enfrentá-lo parece tão difícil que muitos ficam paralisados e deixam a desistência tomar conta. A luta exige um olhar atento, interdisciplinar e ético. A escola, como espaço de construção de conhecimento e cidadania, tem papel protagonista e é fundamental nesse processo.

É necessário que os professores sejam corajosos, insistentes e preparados para lidar com essa temática de forma esperançosa, crítica, atualizada e comprometida com a justiça socioambiental. É urgente problematizar o sistema capitalista e sua relação com as mudanças climáticas e a devastação ambiental.

Mais do que simplesmente informar, levando uma série de dados alarmantes para sala de aula, é preciso formar. É necessário dar sentido e pensar estratégias coletivas. O tempo de agir é agora! A educação, especialmente aquela feita com sensibilidade e compromisso com a transformação social, pode ser uma das mais potentes ferramentas para cultivar futuros sustentáveis e conscientes. Educar para o clima é também educar para a vida.

Referências 

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Ministério da Educação, 2018.  

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Meio Ambiente e Saúde. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Fundamental, 1997.  

BRASIL. Lei nº 12.187, de 29 de dezembro de 2009. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12187.htm. Acesso em: 21 jul. 2025. 

BRASIL. Decreto nº 9.578, de 22 de novembro de 2018. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/decreto/d9578.htm.  

GADOTTI, M. Educação e sustentabilidade: um novo paradigma para o futuro da educação. São Paulo: Instituto Paulo Freire, 2009. 

GREENPEACE BRASIL. Página institucional. Disponível em: https://www.greenpeace.org/brasil/.  

INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS (INPE). Portal institucional. Disponível em: https://www.gov.br/inpe/pt-br.  

INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL (ISA). Portal institucional. Disponível em: https://www.socioambiental.org/.  

IPCC (The Intergovernmental Panel on Climate Change). Relatório de Síntese do Sexto Relatório de Avaliação – AR6 Synthesis Report. Intergovernmental Panel on Climate Change, 2023. Disponível em: https://www.ipcc.ch/ 

OBSERVATÓRIO DO CLIMA. Análise das emissões de GEE no Brasil (1970–2022). Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), 2023. Disponível em: https://seeg.eco.br/. Acesso em: 21 jul. 2025. 

ORGANIZAÇÃO METEOROLÓGICA MUNDIAL (OMM). Concentração de gases de efeito estufa bate novo recorde em 2022. Nações Unidas Brasil, 2023. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/252972-clima-concentração-de-gases-de-efeito-estufa-na-atmosfera-atinge-novo-recorde-em-2022.  

SATO, Michèle. Educação ambiental: apaixonadamente pesquisadora. Revista Educação Ambiental em Ação, ano 2, n. 5, 2001. 

SATO, Michèle. Educação ambiental como uma ecologia política dos saberes. In: LOUREIRO, C. F. B. et al. (Orgs.). Educação ambiental: pesquisa e desafios. Campinas: Autores Associados, 2004. 

THUNBERG, Greta. Discurso na COP25. Madrid, 2019. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Eo_mxvGnq8 

Minibio do autor

Danilo Carvalho é graduado em Ciências Biológicas (Licenciatura Plena) pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), com mestrado e doutorado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), além de pós-doutorado pela Texas A&M University, nos Estados Unidos. É professor da UFPE desde 2016, com atuação no Colégio de Aplicação e no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Biologia do Centro Acadêmico de Vitória (CAV-UFPE). Possui experiência nas áreas de Ensino de Biologia, Formação de Professores, Estágio, Gestão Acadêmica e Escolar, bem como Consultoria Educacional junto ao Ministério da Educação. Acumula artigos com ênfase em metodologias e estratégias didáticas para o ensino de Ciências e Biologia, bem como ensaios pedagógicos e diversos textos instrucionais publicados no campo da Educação. 

Crie sua conta e desbloqueie materiais exclusivos

Voltar
Complete o cadastro para receber seu e-book
Já possui uma conta?Acessar conta
ACREALAGOASAMAPÁAMAZONASBAHIACEARÁDISTRITO FEDERALESPÍRITO SANTOGOIÁSMARANHÃOMATO GROSSOMATO GROSSO DO SULMINAS GERAISPARÁPARAÍBAPARANÁPERNAMBUCOPIAUÍRIO DE JANEIRORIO GRANDE DO NORTERIO GRANDE DO SULRONDÔNIARORAIMASANTA CATARINASÃO PAULOSERGIPETOCANTINSACREALAGOASAMAPÁAMAZONASBAHIACEARÁDISTRITO FEDERALESPÍRITO SANTOGOIÁSMARANHÃOMATO GROSSOMATO GROSSO DO SULMINAS GERAISPARÁPARAÍBAPARANÁPERNAMBUCOPIAUÍRIO DE JANEIRORIO GRANDE DO NORTERIO GRANDE DO SULRONDÔNIARORAIMASANTA CATARINASÃO PAULOSERGIPETOCANTINS

Veja mais

Lição de casa: ajuda ou atrapalha?
22 de outubro de 2025

Lição de casa: ajuda ou atrapalha?

A controvérsia da lição de casa no ambiente escolar A pergunta que intitula este texto vem gerando debates no Brasil...
Políticas públicas de saúde mental nas escolas
21 de outubro de 2025

Políticas públicas de saúde mental nas escolas

A urgência de políticas públicas de saúde mental no brasil Quando uma realidade ultrapassa barreiras geográficas mais próximas estendendo-se por...
O desenvolvimento da oralidade: muito além do “aprender a falar” na educação infantil
17 de outubro de 2025

O desenvolvimento da oralidade: muito além do “aprender a falar” na educação infantil

A crença popular: escola e o impulso da fala A experiência empírica vivenciada por muitos pais, educadores ou pessoas que...
O desafio e a arte de ser professor no século XXI
16 de outubro de 2025

O desafio e a arte de ser professor no século XXI

“O cérebro eletrônico faz tudo Faz quase tudo Mas ele é mudo (...)” (Gilberto Gil) A revolução tecnológica e a...
Mudanças Climáticas: conceitos científicos e reflexões sociais
15 de outubro de 2025

Mudanças Climáticas: conceitos científicos e reflexões sociais

A crise climática no quotidiano: uma realidade presente As mudanças climáticas deixaram de ser somente um tema discutido em conferências...