Uso da inteligência artificial na educação
reflexos da inteligência artificial na educação

Provavelmente, você está, neste momento, lendo este texto em uma tela de seu smartphone; há chances, ainda, de você estar próximo à sua Smart TV, assistindo a séries on-demand enquanto seu aspirador de pó robô, smart, limpa sua casa.

Ah, e caso tenha dúvidas sobre o que significa esse “on-demand”, pode ter solicitado ajuda à Siri, ou à Alexa, ou a qualquer outro assistente também “smart”.

Também já deve ter se surpreendido com sugestões de produtos que aparecem em sua rede social que eram exatamente o que você queria comprar… Já convivemos há algum tempo com os aparelhos chamados “inteligentes” no nosso dia a dia e com os algoritmos que nos encaminham a produtos, serviços e conteúdos de nosso interesse, sem nos darmos conta de que todas essas tecnologias trazem consigo o desenvolvimento baseado na inteligência artificial (IA).

Afinal, o que é inteligência?

Antes de tratarmos especificamente da IA, pensemos no significado do primeiro termo dessa sigla: inteligência. Para você, que lida com educação, o que é ser inteligente?

  1. O aluno que tira nota alta na prova?
  2. Aquele que consegue dar respostas rápidas a questões colocadas em sala de aula?
  3. O que consegue decorar facilmente quais as principais estradas que levam a Sinop, no Mato Grosso?
  4. O que escreve bem uma redação formal, respeitando as regras da língua?

São muitos entendimentos sobre esse conceito, cada qual relacionado à sua formação, à sua vivência, à sua criação.

Agora, reflitamos: o aluno que tira notas baixas porque não consegue decorar o conteúdo ou não escreve bem, mas é o craque no futebol não tem inteligência? Aquele que é o mais talentoso na hora de compor paródias ou fazer piadas, mas tira nota baixa em matemática, deve ser taxado como o aluno-problema?

O que reúne vários outros amigos e consegue se comunicar de forma clara e objetiva não tem uma inteligência admirável? E aquele que é campeão de slam no seu bairro, mas não consegue estruturar uma redação em português formal?

São questões a se fazer num país em que temos, aos domingos, uma competição em que crianças com altas habilidades são testadas em provas nas quais precisam soletrar palavras de trás para a frente, fazer cálculos matemáticos de cabeça, encontrar a peça que melhor se encaixa a um quebra-cabeça.

Para refletir

É esse o tipo de inteligência que se quer explorar para que uma sociedade avance? Exaltar a superdotação em rede nacional é algo interessante e que promove uma discussão necessária na sociedade acerca de uma neurodiversidade pouco abordada pelo poder público, mas não seria melhor oferecer situações reais de vida, contextualizadas, em que essas crianças pudessem mostrar como suas habilidades podem fazer a diferença para a conexão de ideias e a oferta de soluções não usuais? Então, volto à questão já posta neste texto: o que é ser inteligente?

Inteligência Artificial e sua capacidade de simulação do que é humano

“Mas e a tal da inteligência artificial, Tiago?” Estamos chegando lá. Mas ainda quero levá-los a mais algumas reflexões: o seu aparelho celular é realmente inteligente? E a Alexa? E a sua TV?

Na verdade, como já comentei no início do texto, esses aparelhos são programados com softwares que se utilizam de inteligência artificial estreita (Rahman, 2022), que têm a tarefa de exercer algumas funções específicas, não funcionando bem para realizar outro tipo de atividade.

Essas são algumas tecnologias que nos surpreendem, claro, principalmente por interagirem conosco em nossa própria língua, sem a necessidade de comandos complexos ou linguagens de programação específicas.

Tais simulações de tarefas humanas, até o momento, permanecem sendo apenas simulações, já que, desde a criação do termo IA por Alan Turing (Possa, 2023), testes são realizados para que se verifique a capacidade de uma máquina se fazer passar por um ser humano.

Com a chegada de softwares mais acessíveis, como o Chat GPT, que permitem uma conversação direta com o usuário, será que essa simulação já é possível? O assombro de alguns é justificável?

Como potencializar inteligências com as novas tecnologias?

É comum que todo novo conhecimento traga desconforto, e, a cada nova tecnologia, uma parcela da sociedade tende a fazer previsões ora catastróficas, ora redentoras. Foi assim com a imprensa, com a TV, com o computador, com o celular portátil.

Não quero dizer aqui que todas essas tecnologias trouxeram exatamente o mesmo impacto à sociedade, apenas são exemplos de momentos em que nos deparamos com questões parecidas com as atuais e colocadas nas aspas do início do texto.

No caso da educação, temos, ainda, diversos outros fatores que trazem incertezas quanto ao uso de novas tecnologias, como infraestrutura escolar, conflitos geracionais, formação de professores e de todos os atores do processo educacional etc.

Acredito que muitos de vocês, assim como eu, até hoje ainda presenciam em escolas e universidades discussões básicas sobre a validade do uso de computadores em sala de aula.

Por mais que esse uso, ainda mais após o período pandêmico, tenha sido mais integrado às ações pedagógicas, será que ele explora todas as potencialidades da comunicação em rede? A forma como interagimos com nossos alunos busca aproveitar e desenvolver suas múltiplas inteligências?

A tal ubiquidade de que trata Santaella (2013) está sendo aproveitada para fazermos a revolução educacional de que tanto se fala?

Mais um parágrafo com mais perguntas que respostas… não tem jeito… vivemos em um momento de transição, em que muitos de nós, formados pelo menos parcialmente na era analógica, lidamos com uma enxurrada digital.

Perguntas corretas para respostas mais assertivas

Além de ser difícil de trazermos respostas prontas para questões que ainda estão sendo formuladas, percebemos a necessidade cada vez mais latente de sabermos criar as perguntas corretas. E é aí que entramos mais claramente no título deste texto. Quais impactos a IA pode trazer para a educação?

Perceberam? Buscamos até aqui a criação de uma base reflexiva até chegarmos à discussão principal. Lá vêm mais perguntas: o que é estudar atualmente? Que tipo de educação desejamos? A inteligência artificial poderá nos ajudar nessa nova configuração social ou atrapalhar?

Caminhos possíveis para o uso da Inteligência Artificial em sala de aula

Uma das mais comentadas ferramentas atualmente é o chat GPT. Apesar de a IA estar presente em nossas vidas em diversos momentos, a grande novidade é a simulação de uma conversa que essa ferramenta permite, com resultados instantâneos e personalizados.

Diferentemente de sites de busca como Google, Bing etc., o Chat GPT é capaz de manter uma conversação com o usuário e atender a pedidos específicos, inclusive retomando trechos de respostas oferecidas e os reformulando de acordo com a demanda.

Além disso, como IA, é capaz de aprender com cada perfil de usuário, podendo ser treinado com fins específicos. Por exemplo, podemos alimentá-los com diversos textos de Paulo Freire e criar comandos específicos sobre esses textos. Assim, teremos resultados precisos sobre aquilo que desejamos.

O acesso amplo e o grande alcance dessa IA de conversação traz muitas preocupações por parte de professores e toda a comunidade escolar, já que incentivaria o plágio por parte dos alunos e afetaria até mesmo a capacidade criativa deles, oferecendo respostas prontas e muito parecidas com as que um humano poderia formular.

Então, como agir? Alguns professores, temerosos, tentam esconder a ferramenta, recusando-se a trabalhá-la com seus alunos, da mesma forma que já se tentou proibir o acesso à internet em sala de aula. Seria essa a melhor solução?

É possível lutar contra os avanços tecnológicos simplesmente por achar que eles podem fornecer respostas que deveriam partir do intelecto humano? Como repensar o nosso papel como atores do processo educativo nesse novo contexto?

Mais perguntas, né? Acredito que seja este o X da questão: a nova escola precisa se estruturar muito mais em torno das perguntas do que das respostas. Integrar as inteligências humana e artificial é o grande desafio atual, já que, na maioria das vezes, a grande dificuldade é saber o que se quer como resposta.

Ferramentas de IA para educação

Tanto do ponto de vista do professor, quanto do aluno, podemos pensar nas possibilidades que existem para a personalização do ensino, com utilização das diversas ferramentas de IA disponíveis gratuitamente na rede, potencializando a criatividade e ampliando os horizontes de pesquisa.

A cada dia, surgem inúmeros novos programas baseados em IA, por isso, veremos, a seguir, apenas alguns deles, a fim de mostrar rapidamente, de forma objetiva, suas funcionalidades e aplicações no processo de ensino-aprendizagem.

ferramentas de inteligência artificial na educação

Podemos perceber, com os poucos exemplos acima, que a principal vantagem no uso de ferramentas com IA é a personalização tanto do ensino quanto da aprendizagem, sempre em parceria com a tecnologia, explorando o que ela oferece de melhor para que possamos resolver problemas essencialmente humanos.

Foi assim com “papel e caneta para auxiliar a memória; alavancas para acentuar a força; e armas para defesa contra predadores.” (Rahman, 2022, p. 19). As tecnologias avançam a cada dia e precisamos delas nos apropriar para que busquemos o seu melhor (e mais inteligente) uso.

Mais do que aplicar as ferramentas de IA: explorar as potencialidades dos alunos

Porém, para que todas essas potencialidades sejam bem exploradas e o impacto da IA na educação seja positivo, há a necessidade de uma grande reestruturação na forma como vemos a sala de aula e o processo de ensino-aprendizagem.

Não é possível que, em plena era da inteligência artificial, pessoas ainda sejam avaliadas por sua capacidade de decorar informações… Para que a revolução realmente aconteça e a integração das inteligências humana e artificial ocorra, sem que deleguemos todas as nossas atribuições à máquina, como muitos temem, todos os atores do processo educacional precisam estar atentos a essas mudanças tecnológicas e de demandas da sociedade.

São necessárias, então, políticas públicas em educação que garantam reformulação na formação inicial e continuada, com foco na valorização da diversidade, na personalização do ensino, para que todos, alunos, professores e toda a comunidade escolar se sinta contemplada nas discussões dentro das escolas e universidades.

Algumas propostas de atividades com o Chat GPT na disciplina de Língua Portuguesa podem ser encontradas no capítulo “Inteligência Artificial e o futuro das produções textuais: entre a realidade e o sonho”, que está em nosso Caderno Pedagógico.

Conclusão

Bom, todas essas mudanças não são simples de implementar. Ainda há muito a se descobrir e a se discutir acerca da IA e de tudo que ela poderá trazer para as nossas vidas, tanto pessoais quanto profissionais.

Você, leitora, leitor, estando aqui, já mostra uma disposição para buscar soluções e se tornar aliada ou aliado na busca por uma nova educação, que contempla esse novo perfil de aprendizado.

Tratamos aqui de um pequeno recorte, e nos propormos a promover algumas reflexões iniciais, as quais serão importantes para as discussões que vão surgir em textos próximos neste blog.

Seguiremos buscando uma educação criativa, revolucionária, emancipatória, que, apesar da inserção cada vez mais cotidiana das máquinas em sua metodologia, crie engrenagens para melhor integração das inteligências humanas, em seus diversos aspectos, valorizando diferenças que, em destaque e provocando reflexões, tragam-nos uma sociedade mais justa, consciente, verdadeiramente inteligente.

Referências

POSSA, Julia. De Turing ao ChatGPT: conheça história da IA, que nasceu como arma de guerra, GizBR, Site Uol, 9 jun. 2023. Disponível em: https://gizmodo.uol.com.br/de-turing-ao-chatgpt-conheca-historia-da-ia-que-nasceu-como-arma-de-guerra/. Acesso em: 10 set. 2023.

RAHMAN, Was. Inteligência artificial e aprendizado de máquina. Tradução: Lana Lim e Anna Lim. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2022.

SANTAELLA, Lucia. Desafios da ubiquidade para a educação, Revista Ensino Superior Unicamp, v.9, p.19-28, 2013. Disponível em: https://www.revistaensinosuperior.gr.unicamp.br/edicoes/edicoes/ed09_abril2013/NMES_1.pdf. Acesso em: 10 set. 2023.