Independência ou Morte, do pintor paraibano Pedro Américo (óleo sobre tela, 1888). Fonte: Wikipedia.
  • 13 de maio;
  • 15 de novembro;
  • 7 de setembro;
  • Nenhuma das alternativas acima.

Se estas alternativas, acima, fizessem parte de um quiz sobre datas comemorativas, será que algum docente consciente da sua função socioeducacional e do seu papel enquanto colaborador na formação de cidadãos críticos e conscientes poderia considerar incorreta a resposta de algum estudante que selecionasse a letra D?

Antes da resposta a esta pergunta, talvez caiba a realização de uma pesquisa sobre o significado da palavra Independência.

De acordo com a Wikipedia, trata-se da “desassociação de um ser em relação a outro, do qual dependia ou era por ele dominado. É o estado de quem ou do que tem liberdade ou autonomia”. Segundo o dicionário Michaelis, por sua vez, consiste em “estado, condição ou característica daquele que goza de autonomia ou de liberdade completa em relação a alguém ou algo”.

7 de setembro: a história da independência

Vejamos, então: o dia 7 de Setembro, é considerado, nacionalmente, o da independência do país porque, supostamente nesta data, no ano de 1822, o então príncipe regente Pedro de Alcântara, filho de D.João VI – também conhecido, depois de sua coroação como D. Pedro I – proclamou o grito da independência às margens do Rio Ipiranga, na atual cidade de São Paulo.

Um movimento que aconteceu de maneira paralela aos movimentos de independência que aconteciam nas colônias da Espanha na América do Sul.

Em terras brasileiras, uma reação à tentativa portuguesa de, dentre outras iniciativas, rebaixar novamente o país à condição de colônia e exigir o retorno de D. Pedro à Lisboa, visando enfrentar a crise econômica portuguesa.

Uma sequência de acontecimentos que encaminhou o Brasil à ruptura com Portugal e à sua organização como monarquia em busca de reconhecimento internacional.

Independência: conceito relativo

Analisemos, detidamente, o final da sequência do parágrafo anterior. A afirmação indica o que viria no futuro desse acontecimento: a ruptura com Portugal teve como consequência a necessidade de outras formas de vínculo ou dependência dos próprios lusitanos ou de outros países sob o eufemismo do conceito de reconhecimento.

Na verdade, a independência brasileira só foi reconhecida pelos portugueses três anos depois do brado de D. Pedro I, por meio de um acordo realizado entre os dois países e mediado pela Inglaterra. Como consequências deste processo de autonomia, destacamos, dentre outros, alguns pontos:

  1. Endividamento do Brasil para pagar a indenização acordada com os portugueses;
  2. Ampliação do sistema escravocrata conforme os interesses da elite econômica do Brasil;
  3. Estabelecimento de uma monarquia (a única na América do Sul).

A raiz da não independência

Quando muitos questionam as origens de tantas desigualdades e contrastes do país e da longeva dependência do exterior (no mês de junho, a Dívida Pública Federal externa – DPFe – estava em R$ 234,04 bilhões) esquecem de que todo este panorama político social teve início bem antes do que consideramos como o mundo contemporâneo.

Se adotarmos como abrangência temporal o dito “descobrimento” do país, enxergaremos as raízes bem profundas desta problemática. Centralizando a análise, entretanto, no período posterior ao momento em que o país se torna “independente”, podemos dizer que, sim, apesar de assim proclamado, ele verdadeiramente, nunca o foi.

Afinal, que independência é esta que o colocou à mercê do seu antigo “tutor” por questões financeiras? Não apenas naquele momento, mas adiante no tempo e com alternância constante entre os credores.

Desigualdade para todes

Além disso, que país pode ser considerado independente quando, em virtude da “independência”, a ampliação do sistema escravocrata que atendia os interesses de uma elite econômica trouxe consequências reverberadas para séculos adiante?

Até mesmo a forma como se desenrolou o fim da escravidão foi ponto de desenvolvimento para um sistema fadado ao sofrimento dos que por meio dele já eram oprimidos.

A abertura das grades e portões só transportou os confinados a outros tipos de aprisionamento. Sem grilhões, mas também sem abrigo ou meio de subsistência, os ex-escravos agora eram reféns da insegurança alimentar e física.

Muitos dos redutos onde estes se refugiaram ainda hoje são espaços de concentração de pessoas com menos oportunidades, mais sujeitos à violência e à submissão. Quem, então, ficou independente? Mesmo os mais privilegiados continuaram na dependência de aportes financeiros e estruturais de quem estava melhor localizado ou era (é) detentor de maior poder.

Dever cívico x autoritarismo

De volta ao futuro, ops, presente, as nesgas de autoritarismo, dependência e submissão seguem através dos séculos e apresentam-se, ainda hoje, das mais variadas formas. Inclusive, figurativas. Não por acaso os desfiles de 7 de setembro costumam consistir em cerimônias cívicas com desfile de tropas militares, exibição de armamentos, artefatos de guerra e afins.

Uma alusão à defesa e à soberania do território nacional, obviamente, mas também (e não há como fugir a esta interpretação)  a noções de dominação/opressão, por meio da força. Até um passado bem recente, inclusive, mesmo as cores da bandeira brasileira passaram a carregar o fardo desta associação.

Apesar de vocês

O brasileiro é, antes de tudo, um forte, já se disse. O estereótipo deste típico habitante das terras tupiniquins consiste, também, em arquétipos que vão além da força. A propalada alegria, leveza e simpatia dos filhos deste solo gentil possui fama internacional. Se a data de 7 de setembro consiste em feriado nacional, aproveitemos, pois.

Sugestões para aproveitar a data

Nos muitos arredores de um país tão rico e diverso, não faltam possibilidades para aproveitar uma data em que não é preciso ir ao trabalho. De acordo com o clima, características e tradições de cada uma das vastas regiões brasileiras, é possível encontrar muitas maneiras de fazer desta uma data com memórias a serem guardadas ou simplesmente descansar.

Parques e praças

Além do óbvio descanso em meio à natureza em um dia no qual algumas opções de lazer não estão disponíveis, muitos espaços públicos abertos possuem várias alusões à história do Brasil, tal como monumentos, bustos, esculturas ou outras referências a personagens e momentos simbólicos.

Uma boa oportunidade, também, de procurar descobrir quem foram e o que fizeram, realmente, muitos dos homens eternizados figurativamente ou como nomes de ruas/avenidas. Há, muito provavelmente, surpresas nem sempre agradáveis, mas indispensáveis para quem exerce o pensamento crítico.

Museus

Estes tipos de equipamentos públicos/privados são sempre uma maneira de disseminação de conhecimento. Além dos voltados à história relatada nos livros a respeito do país, os mais direcionados à fruição artística também são uma boa sugestão de passeio. Afinal, arte é liberdade. E liberdade também é pressuposto da independência.

Pesquisa em livros/sites

Mesmo para os não amantes da literatura em livro físico, há, atualmente, variadas formas de se informar, crítica e independentemente, a respeito da história do seu país.

Sites, portais ou trabalhos acadêmicos podem servir como fonte (cuidado com a procedência destes veículos!) de curiosidades e versões alternativas (considerando-se o lado oposto da história comumente contada pelos vencedores) sobre vários períodos históricos nacionais.


Para os amantes dos livros, seguem algumas sugestões:

  • Darcy Ribeiro – Viva o Povo Brasileiro
  • Escravidão – Trilogia de Laurentino Gomes
  • História do Brasil para Ocupados – Luciano Figueiredo (org.)
  • Histórias Não (ou mal) contadas – Rodrigo Trespach (Autor)
  • Brasil: Uma biografia – Lilia Moritz Schwarcz e Heloisa Murgel Starling