A escuta ativa como elemento da oralidade

A globalização e o acesso às Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs) são ingredientes fundamentais que ampliam a interação verbal entre as pessoas, seja na escrita, na oralidade ou na multimodalidade.

As redes sociais estão aí para mostrar que praticamente não existem mais fronteiras para se “chegar junto” e mandar o recado. Tudo parece mais disponível e acessível.  

Quer saber mais sobre a escuta ativa como elemento da oralidade?
Então, confira o conteúdo sobre o tema!

A importância da escuta ativa como elemento da oralidade

A importância da escuta ativa como elemento da oralidade

No caso da escuta ativa na oralidade, a democratização do direito à fala via difusão midiática permitiu-nos entre outros acessos, mais e melhores condições para: 

  • manifestar o pluralismo de ideias e conhecimentos (como nos podcasts);
  • influenciar pessoas, expor talentos e fazer negócios (como os posts audiovisuais do Instagram, TikTok e YouTube); e
  • registrar e armazenar discursos orais e multimodais, que viabilizam (ou deveriam viabilizar) a comunicação cotidiana, em contextos mais informais ou mais formais (como os audios de WhatsApp).   

Mas quem nunca acelerou os áudios ou se perdeu no labirinto de informações da fala prolongada de um(a) interlocutor(a)?

Quem nunca se constrangeu (ou constrangeu alguém) por não se sentir genuinamente ouvido? Quem nunca perdeu oportunidades por não saber como lidar com práticas orais para construir relações, “vender seu peixe no elevador” (os famosos pitchs do marketing comercial)?

Algumas limitações ou dificuldades percebidas na oralidade têm a ver com a ainda escassa reflexão sobre um movimento cognitivo-discursivo tão importante: a escuta ativa.

Neste artigo, você vai saber o que é a escuta ativa, seus benefícios e algumas estratégias para orientar seus(suas) alunos(as) a praticá-la.

A respeito da oralidade

A oralidade, entendida como prática social cognitiva, interacional e situada histórica e ideologicamente, realiza-se por meio de gêneros orais, que medeiam a relação entre, pelo menos, um falante e um ouvinte ― ainda que esses dois papéis, em alguns contextos, sejam desenvolvidos por uma mesma pessoa, como quando alguém tem por prática um diário oral, a produção de vlog, etc.

Já a fala é um dos elementos da oralidade, que, segundo Marcuschi (2010), pode ser definida como: “[…] uma forma de produção textual-discursiva para fins comunicativos na modalidade oral”.

Assim como nas práticas de letramento, qualquer interação verbal na oralidade implica levar em conta algumas condições, como: 

Infográfico Escuta Ativa

Até mesmo em silêncio, o ouvinte produz sentido, pois na verdade está em seu discurso interior auto argumentando, isto é, analisando justificativas e lacunas nos enunciados do falante, checando as bases em que ele(a) se apoiar ao falar, avaliando com juízos de valor, tomando decisões, etc. Mas, principalmente, o ouvinte está ansiando por seu turno de fala. 

É por isso que, mesmo quando somos audiência de um programa de rádio, um podcast, uma telenovela, um jornal televisivo ou um filme, tentamos dialogar com os falantes de maneira assíncrona, mesmo que ele não nos responda.  

Essas condições de produção oral do discurso servem de base para pensarmos sobre a importância da escuta ativa como elemento fundamental da oralidade. 

O que é escuta ativa? 

O conceito de escuta ativa tem sido mais amplamente divulgado nas mídias virtuais pelas áreas de Marketing e Psicologia, devido às demandas de eficiência comunicativa no mundo dos negócios e de atenção às questões socioemocionais nas interações orais, temas que ganham cada vez mais relevância na contemporaneidade global e digital.

De maneira geral, a escuta ativa diz respeito à capacidade de o ouvinte escutar com atenção e empatia, de modo a conseguir interpretar e demonstrar interesse pelo que o falante diz.

Ela pode ser desenvolvida adotando-se um conjunto de comportamentos inter-relacionados, como:

Escutar com atenção

No momento em que o falante está expondo seu ponto de vista, é importante manter o foco no que está sendo dito e aguardar que todo o enunciado seja concluído.

Deve-se também evitar opinar, tentar completar a fala do locutor ou distrair-se com outras atividades (como mexer no celular, olhar em outras direções, emitir ruídos). 

Demonstrar interesse e empatia

Durante a fala do outro, o foco é fundamental, mas, como dissemos anteriormente, os elementos extralinguísticos, como expressões faciais, gestos, ruídos, entonações, também contribuem para a produção de sentidos.

Enquanto está em silêncio, o ouvinte pode usar a linguagem corporal (como balançar a cabeça em concordância ou discordância, sorrir, franzir as sobrancelhas) para demonstrar sua compreensão ou sinalizar que precisa de mais informações.

Deve-se, porém, ter cuidado para não manifestar avaliações depreciativas, que constranjam ou inibam o falante.

Checar o entendimento do que foi dito

Para que a comunicação seja eficaz, o ouvinte deve intervir apenas após a conclusão dos enunciados do falante, fazendo uma síntese dos pontos relevantes para confirmar, corrigir ou completar interpretações.

Isso pode ser feito fazendo-se perguntas fechadas, que o falante possa responder com “sim” ou “não” e continuar seu turno de fala. 

Dar feedbacks 

Por fim, é importante que o ouvinte dê sua resposta ao que foi dito, quando pode expor sua opinião esforçando-se por considerar a visão do outro, dar sugestões, etc.

Dessa maneira, a pessoa que foi ouvida pode confirmar a escuta, perceber melhor se o objetivo da interação foi alcançado. 

Benefícios da escuta ativa 

A escuta ativa garante vários benefícios para a comunicação eficiente e eficaz, tais como:

  • Promove, aperfeiçoa e estreita as relações sociais, principalmente em grupos.
  • Melhora a qualidade da interpretação das informações.
  • Amplia a competência argumentativa.
  • Otimiza o tempo.
  • Minimiza ou evita conflitos.
  • Desenvolve habilidades socioemocionais, como respeito, empatia, (auto)confiança, autocrítica.
Como trabalhar a escuta ativa com os(as) alunos(as)

Como trabalhar a escuta ativa com os(as) alunos(as)

Agora que você já entendeu a importância da escuta ativa, confira sugestões de como trabalhá-la no eixo de oralidade: 

  • Promova atividades de escuta e síntese oral de produções áudio e audiovisuais.
  • Observe e lembre os(as) alunos dos movimentos da escuta ativa sempre que possível, ressaltando a importância tanto em contexto mais formais quanto nos mais informais, como nas interações espontâneas em sala de aula.
  • Compartilhe com os(as) alunos(as), quando possível, a função de avaliadores nas apresentações de trabalhos orais da turma. Assim poderão exercitar a audiência e arguir os colegas com estando em posição de maior responsabilidade. Para tanto, a elaboração coletiva de critérios de análise sob sua tutoria e mediação são fundamentais.
  • Seja você mesmo ouvinte ativa(a) dos(as) alunos(as), procure consultá-los e desenvolver metodologias e atividades que também considerem o repertório cultural e os interesses da turma no programa da disciplina. É importante que, após a consulta, você realmente cumpra ou justifique as adaptações ao que foi combinado. 

Dica de ouro: continue acompanhando o e-docente para ter sugestões mais específicas sobre o trabalho com o eixo da oralidade em cada etapa da Educação Básica conforme a Base Nacional Comum Curricular (BNCC)

Para saber mais

ANGELO, Cristiane Malinoski Pianaro; COSTA, Luciane Trennephol da; ANDRADE, Sérgio de. Princípios para o Ensino de Oralidade na Base Nacional Comum Curricular. Curitiba/PR, Revista X, v. 16, n. 6, p. 1476-1492, 2021. 

Dunker, Christian. O palhaço e o psicanalista: como escutar os outros pode transformar vidas / Christian Dunker, Cláudio Thebas. – São Paulo: Planeta do Brasil, 2019. Disponível em: https://ligasolidaria.org.br/site/wp-content/uploads/2020/04/Dunker-O-Palhac%CC%A7o-e-o-Psicanalista.pdf. Acesso em: 10 nov. 2022. 

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 10. ed., São Paulo: Cortez, 2010. 

VOLOCHINOV, Valentin. Marxismo e Filosofia da Linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Notas, tradução e glossário Sheila Grilo e Ekaterina Vólkova Américo. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2018.

Gostou de saber mais sobre a escuta ativa como elemento da oralidade? Então, confira nosso conteúdo sobre oralidade letrada na sala de aula: que gêneros ensinar!

Izabela Pereira de Fraga é doutoranda e mestre em Educação (PPGEdu/UFPE), na linha de pesquisa Educação e Linguagem, investigando práticas de letramento acadêmico. É também licenciada em Letras Português e Espanhol (UFRPE). Atua como revisora de textos em português. Tem experiência com formação inicial e continuada de professores da Educação Básica com ênfase na área de Língua Portuguesa. É integrante do Grupo de Pesquisa em Alfabetização, Linguagem e Colonialidade (GPEALE), vinculado à Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ) e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e registrado no CNPq. E-mail: izabela.fraga@ufpe.br