Energia e suas transformações: um enfoque interdisciplinar

A palavra energia, sem sombra de dúvidas, é muito frequente na fala dos brasileiros. Quase sempre relacionada à energia elétrica e às preocupações com as altas contas mensais, essa pauta é recorrente e causa preocupação em muitas famílias.
Dentro desse assunto e visando reduzir os valores pagos mensalmente, recentemente, as famosas placas solares ganharam protagonismo e tornaram-se o novo desejo de muitos.
O que é energia e suas transformações?
Mas será que a população compreende com clareza a amplitude do conceito de energia? Como estudantes da Educação Básica conseguem correlacionar os conceitos a ela atribuídos? Será que existe um olhar interdisciplinar nas reflexões sobre o estudo da energia?
Tendo esses questionamentos em mente, trabalhar com o alunado os conceitos de energia é fundamental para que eles possam compreender os fenômenos naturais e tecnológicos que moldam o mundo em que vivemos.
A onipresença da energia, em todas as formas de atividade, justifica a necessidade de um trabalho pedagógico cuidadoso na Educação Básica para a formação de cidadãos com uma visão ampliada e integral do mundo.
Tipos de energia e suas transformações
Unindo áreas, fortalecendo saberes.
Mostrar aos estudantes que o conceito de energia vai muito além do uso corriqueiro associado ao consumo doméstico é fundamental. Mediar momentos pedagógicos que estimulem a reflexão de que a energia também se manifesta na luz do Sol, no calor de uma fogueira, no movimento dos corpos e nos processos intracelulares que sustentam a vida convida os estudantes a ampliar o olhar dentro dessa temática.
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Romper com a visão limitada que muitos possuem de que energia se resume a acionar aparelhos eletrônicos ou a acender uma lâmpada é bastante necessário, assim como destacar que ela está presente em ações cotidianas como cozinhar alimentos, locomover-se ou praticar atividades físicas — e que todas essas práticas envolvem transformações e conversões de energia de uma forma para outra.
Toda essa diversidade de formas de manifestação da energia e de sua consequente transformação, resulta, por óbvio, em um olhar específico através das diversas áreas das Ciências da Natureza. Porém, pensar em estratégias interdisciplinares, a partir da integração entre diferentes áreas do conhecimento, possibilita também uma análise e reflexão mais rica e contextualizada, que aproxima os conteúdos escolares da realidade dos estudantes.
A articulação entre essas áreas por meio de uma abordagem interdisciplinar torna-se essencial também para promoção de uma aprendizagem que faça sentido para o aluno. Compreender a energia sob diferentes perspectivas amplia a capacidade crítica e favorece a tomada de decisões conscientes em contextos sociais, ambientais e tecnológicos.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) reforça essa integração ao propor que o ensino de Ciências da Natureza deve desenvolver habilidades que incluem a análise de problemas reais, a elaboração de argumentos com base em evidências científicas e a construção de soluções sustentáveis. Assim, trabalhar o conceito de energia integradamente promove uma formação mais completa, crítica e conectada com os desafios contemporâneos.
Por razões diversas, trabalhar o conceito de energia, dentro de cada componente curricular, isoladamente, é a maneira mais fácil para os professores. Porém, considerando a potência de um trabalho interdisciplinar diante dessa temática, que tal pensarmos em projetos coletivos que envolvam conteúdos para além dos componentes das Ciências da Natureza? Dê uma olhada nas propostas de projeto abaixo.

Projeto “Mapa Energético da Comunidade”
A ideia deste projeto é propor uma investigação do consumo de energia elétrica no entorno da escola, envolvendo disciplinas como Geografia, Física, Matemática, Biologia e Sociologia.
Através da aplicação de questionários, os estudantes podem levantar dados sobre os tipos de fontes energéticas utilizadas nas residências, o volume de consumo mensal e os hábitos da população local. Com base nos dados coletados e sob a condução dos professores, podem fazer cálculos de consumo em kWh, construir gráficos e mapear as fontes disponíveis na região.
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O projeto pode culminar com uma análise crítica sobre as desigualdades no acesso à energia e seus impactos socioambientais, promovendo o protagonismo dos estudantes na elaboração de campanhas de conscientização.
Essa proposta dialoga diretamente com a BNCC, ao tratar do consumo consciente e responsável, e com competências específicas das Ciências da Natureza voltadas para a análise de sistemas naturais e humanos.
Projeto “Da Fotossíntese ao Painel Solar: a luz como fonte de vida e tecnologia”
este projeto, os alunos podem explorar o papel fundamental da energia solar tanto nos processos biológicos quanto nas tecnologias sustentáveis, a partir da integração de saberes da Biologia, da Física, da Química, da História e das Artes Visuais.
O projeto pode iniciar com o estudo da fotossíntese como mecanismo de captação de luz pelos organismos autotróficos e avançar para a compreensão do funcionamento das células fotovoltaicas utilizadas em painéis solares. Além da parte teórica, podem ser realizados experimentos com fornos solares, montagem de pequenos sistemas de energia renovável e produção de maquetes explicativas. Os estudantes também podem construir uma linha do tempo sobre o uso da energia solar ao longo da história da humanidade.
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Essa proposta promove o desenvolvimento de competências da BNCC relacionadas ao pensamento científico e à compreensão dos processos de transformação da natureza para fins tecnológicos.
Projeto “Energia que alimenta: das calorias ao combustível”
A partir do estímulo de um olhar integrado sobre a energia presente nos alimentos, no corpo humano e na produção de biocombustíveis, este projeto busca envolver Biologia, Química, Física, Educação Física e Matemática.
Os alunos podem iniciar analisando o valor calórico dos alimentos, compreendendo questões relacionadas ao metabolismo energético e calculando o gasto calórico requerido para a realização de diferentes atividades físicas. Paralelamente, os estudantes podem ser guiados na investigação de processos de produção de energia a partir da biomassa, como o etanol, o biogás e o biodiesel. Além disso, uma proposta que agregará ainda mais potência ao trabalho relaciona-se à discussão do consumo atual de alimentos para fins energéticos por adolescentes e atletas.
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A finalização do projeto pode ocorrer com uma exposição das produções no espaço escolar para apreciação de toda a comunidade escolar. Esse projeto estimula a construção de uma consciência crítica sobre saúde, sustentabilidade e tecnologia, bem como a compreensão da vida e da transformação da matéria.
Projeto “Matriz Energética Brasileira: escolhas que movem o país”
Neste projeto, os estudantes serão convidados a investigar a composição da matriz energética brasileira, identificando as principais fontes de energia utilizadas no país, suas origens (renováveis ou não renováveis) e os impactos sociais, econômicos e ambientais associados a cada uma. A proposta pode envolver componentes curriculares como Geografia, Física, Química, Biologia, História e Sociologia.
Inicialmente, os alunos devem ser orientados a pesquisar dados atualizados da matriz energética nacional, com base em fontes seguras, como os fornecidos pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A partir disso, os estudantes devem construir painéis comparativos entre diferentes fontes de energia (hidrelétrica, termelétrica, eólica, solar, biomassa e nuclear), avaliando critérios como custo, eficiência, emissão de poluentes, impacto ambiental e distribuição regional.
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Com base nos dados levantados, os docentes podem convidar os alunos para a realização de uma análise crítica sobre os desafios e contradições da matriz brasileira. Os alunos podem ainda discutir, por exemplo, como a dependência da energia hidrelétrica afeta populações ribeirinhas, indígenas e quilombolas ou como a expansão de parques eólicos e solares pode gerar desenvolvimento regional e inclusão social.
A equipe docente pode promover debates que envolvam questões de justiça ambiental, acesso desigual à energia, conflitos fundiários e dilemas entre crescimento econômico e preservação ambiental.
O projeto pode resultar em momentos de elaboração e apresentação de propostas de reestruturação ou diversificação da matriz energética brasileira, considerando critérios de sustentabilidade, justiça social e viabilidade técnica.
Projetos dessa natureza dialogam com diversas competências da BNCC, como a Competência Geral 10 (agir com responsabilidade social e ambiental), a Competência Específica 4 de Ciências da Natureza (analisar o uso das tecnologias e seus impactos) e a Competência Específica de Geografia 5 (compreender os fluxos e redes de energia e suas implicações geopolíticas).
As metodologias propostas para a execução dessas vivências pedagógicas favorecem o desenvolvimento de habilidades de pesquisa, ensino por investigação, argumentação, leitura de dados e tomada de decisão, aproximando o conhecimento escolar das grandes questões contemporâneas que envolvem o futuro energético do Brasil.
Conclusão
Neste projeto, os estudantes serão convidados a investigar a composição da matriz energética brasileira, identificando as principais fontes de energia utilizadas no país, suas origens (renováveis ou não renováveis) e os impactos sociais, econômicos e ambientais associados a cada uma. A proposta pode envolver componentes curriculares como Geografia, Física, Química, Biologia, História e Sociologia.
Inicialmente, os alunos devem ser orientados a pesquisar dados atualizados da matriz energética nacional, com base em fontes seguras, como os fornecidos pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A partir disso, os estudantes devem construir painéis comparativos entre diferentes fontes de energia (hidrelétrica, termelétrica, eólica, solar, biomassa e nuclear), avaliando critérios como custo, eficiência, emissão de poluentes, impacto ambiental e distribuição regional.
Com base nos dados levantados, os docentes podem convidar os alunos para a realização de uma análise crítica sobre os desafios e contradições da matriz brasileira. Os alunos podem ainda discutir, por exemplo, como a dependência da energia hidrelétrica afeta populações ribeirinhas, indígenas e quilombolas ou como a expansão de parques eólicos e solares pode gerar desenvolvimento regional e inclusão social.
A equipe docente pode promover debates que envolvam questões de justiça ambiental, acesso desigual à energia, conflitos fundiários e dilemas entre crescimento econômico e preservação ambiental.
O projeto pode resultar em momentos de elaboração e apresentação de propostas de reestruturação ou diversificação da matriz energética brasileira, considerando critérios de sustentabilidade, justiça social e viabilidade técnica.
Projetos dessa natureza dialogam com diversas competências da BNCC, como a Competência Geral 10 (agir com responsabilidade social e ambiental), a Competência Específica 4 de Ciências da Natureza (analisar o uso das tecnologias e seus impactos) e a Competência Específica de Geografia 5 (compreender os fluxos e redes de energia e suas implicações geopolíticas).
As metodologias propostas para a execução dessas vivências pedagógicas favorecem o desenvolvimento de habilidades de pesquisa, ensino por investigação, argumentação, leitura de dados e tomada de decisão, aproximando o conhecimento escolar das grandes questões contemporâneas que envolvem o futuro energético do Brasil.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018. Disponível em: https://basenacionalcomum.mec.gov.br. Acesso em: 16 jul. 2025.
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Minibio do autor
Danilo Carvalho é graduado em Ciências Biológicas (Licenciatura Plena) pela Universidade Federal de Mato Grosso, com mestrado e doutorado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), além de pós-doutorado pela Texas A&M University, nos Estados Unidos. É professor da UFPE desde 2016, com atuação no Colégio de Aplicação e no Programa de Pós-graduação em Ensino de Biologia do Centro Acadêmico de Vitória (CAV-UFPE). Possui experiência nas áreas de Ensino de Biologia, Formação de Professores, Estágio, Gestão Acadêmica e Escolar, bem como Consultoria Educacional junto ao Ministério da Educação. Acumula artigos com ênfase em metodologias e estratégias didáticas para o ensino de Ciências e Biologia, bem como ensaios pedagógicos e diversos textos instrucionais publicados no campo da Educação.
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