dia do psicopedagogo: quem é esse profissional

Quantos de nós já tivemos vários estudantes “desafiadores”, daquele tipo que não importa o que fazemos para captar sua atenção?

Interessante é que há diversas categorias de estudantes que podem apresentar desafios: aqueles que parecem apáticos, os muito agitados, os desinteressados ​​e aqueles que têm dificuldades em compreender as discussões realizadas pelos professores.  

A recente pandemia, por exemplo, trouxe inúmeros reflexos para a sala de aula, principalmente no que diz respeito à socialização de alunos, resultando em muitos desafios mais para a escola.

Mas, qual é a nossa atitude quando nos deparamos com tais situações? Apenas conversamos informalmente com outros colegas de profissão? Reclamamos com nossos familiares? Informamos à direção da escola, que, muitas vezes, aplica punições a esses estudantes (principalmente aos agitados)? Conversamos com os familiares desse estudante? Ou o encaminhamos ao psicopedagogo? Mas você sabe quem seria esse especialista?

Psicopedagogos: quem são?

Apesar de esse nome ser comum entre as diversas conversas que ocorrem no meio escolar, muitos de nós não conhecemos esse profissional a fundo, principalmente tendo em vista a sua importância na vida dos estudantes.

Como professores, muitos de nós não estamos preparados para lidar com toda e qualquer adversidade que surja no ambiente de aprendizagem, por isso, não podemos ser os únicos responsáveis pelo sucesso ou pelo insucesso de nossos aprendizes.

O psicopedagogo é um dos diversos atores no processo pedagógico que pode contribuir decisivamente para o avanço dos discentes:

[…] Isto também contribui para que se possa situar a psicopedagogia como uma área de conhecimento interdisciplinar. Neste sentido temos que a psicopedagogia, além de ter o seu referencial na Psicologia e na Pedagogia, ela também considera as valiosas contribuições de outras áreas de conhecimento como a Antropologia, a Sociologia, a Fonoaudiologia, a Medicina, a Neurologia, a Linguística. Desta forma se valoriza a construção de uma educação mais ampla que integre as diversas áreas de conhecimento, na construção dos saberes do aluno. (PERES; OLIVEIRA, 2007, p. 116)

Ou seja, percebemos que a psicopedagogia já parte de uma visão inter e multidisciplinar, atuando em conjunto com referenciais de diversas áreas.

Seguindo esse preceito, no processo de atuação junto ao aluno, o profissional psicopedagogo também terá a companhia dos demais atores do processo, como familiares responsáveis pelo discente, professores, equipe diretiva, orientador pedagógico e todos os que puderem contribuir em sua atuação.

Mas, afinal, o que faz esse profissional psicopedagogo? Ele atua apenas com crianças? São apenas os estudantes desafiadores que serão abordados pelo psicopedagogo? Veremos as respostas para essas e outras questões ao longo do texto.

A psicopedagogia e as suas funções

Apesar de reconhecermos o psicopedagogo como um profissional importante na caminhada do estudante, a psicopedagogia ainda não é uma profissão regulamentada. Temos um projeto de lei que visa tal regulamentação, o PL 1675 de 2023, ainda tramitando no Congresso.

O projeto, no atual estado em que se encontra, defende que poderão atuar como profissionais dessa área:

  • pessoas formadas especificamente na graduação de Psicopedagogia;
  • pessoas formadas em Psicologia e/ou Pedagogia e Licenciatura – que tenham concluído curso de especialização em Psicopedagogia com duração mínima de 600 horas.

Há uma discussão, ainda, se fonoaudiólogos com pós-graduação em Psicopedagogia também poderão atuar na área.

No que diz respeito à atuação do psicopedagogo, é importante partirmos das situações relatadas no início deste texto.

Quando nós, como professores, identificamos alguma dificuldade de aprendizagem por parte de algum aluno, precisamos buscar caminhos para que ele seja atendido de forma a sanar aqueles obstáculos que o impedem de progredir.

Tais alterações podem ser de caráter emocional, cognitivo, físico etc. e precisam ser verificados por pessoas habilitadas a isso. Estudantes que mudam de escola, por exemplo, necessitam de apoio para adaptação, como vemos no texto “Adaptação escolar: um olhar sobre a esfera afetiva e social”.

reflexão dia do psicopedagogo

Nesse momento, a participação do psicopedagogo é essencial, já que ele terá os instrumentos adequados para fazer esse diagnóstico e atuar em conjunto com outros atores para auxiliar na progressão desse discente.

Há casos em que a própria escola já possui em seu quadro o psicopedagogo, o que facilita essa atuação conjunta e permite um conhecimento mais aprofundado do profissional no que se refere à realidade da instituição.

Porém, a ausência desse ator na escola não impossibilita sua atuação, que pode ocorrer pontualmente. Nesses casos, a equipe pedagógica da escola entra em contato com o psicopedagogo clínico, que traçará suas estratégias de atendimento àquele aluno ou àquele grupo de alunos, inclusive visitando e coletando informações sobre a escola e o contexto em que se encontra o discente.

A avaliação e o público atendido

Após a identificação da dificuldade do estudante e do encaminhamento para o atendimento do psicopedagogo, este procederá com a avaliação, utilizando instrumentos adequados à idade e ao contexto em que estiver inserido.

Serão verificadas características tanto individuais quanto sociais do avaliado, a fim de perceber como se dá a relação dele com aqueles que o cercam.

reflexão dia do psicopedagogo

Nesse momento, o contato não ocorre apenas com o aluno, mas com todos os outros envolvidos no processo: professores, diretores, orientadores, familiares.

Assim, o trabalho psicopedagógico consegue coletar o máximo de informações para que se possa realizar uma avaliação conjunta, multidisciplinar, chegando a resultados muito mais precisos e embasados.

No trabalho direto com crianças, o psicopedagogo se utiliza de recursos bastante lúdicos, como jogos, desafios, brincadeiras, em que o avaliador possa perceber as potencialidades e dificuldades do avaliado. Assim, o estudantes consegue ter uma relação mais natural no processo, sem nem mesmo perceber que está sendo avaliado.

No caso de adolescentes e adultos, há instrumentos de avaliação mais pontuais, como questionários e entrevistas, já que conseguem se expressar de maneira mais precisa do que as crianças.

A psicopedagogia preventiva

Assim diante das diversas possibilidades de intervenção psicopedagógica, podemos constatar, que no Brasil os recursos mais utilizados para a avaliação na instituição têm sido as entrevistas, as observações, os inventários, as pesquisas, as dinâmicas grupais e em especial os jogos pedagógicos. Contudo a importância da ação psicopedagógica preventiva deverá sempre considerar a subjetividade do aluno, bem como as particularidades de cada situação, além da complexidade dos fatores que a permeiam. (PERES; OLIVEIRA, 2007, p. 121)

Além de destacarem os principais recursos de avaliação no Brasil, as autoras chamam a atenção para a importância de ações psicopedagógicas preventivas, que buscam evitar que problemas ocorram, atuando junto ao ambiente, aos familiares e aos profissionais para que ajam de maneira adequada no acolhimento e no recebimento de estudantes, respeitando a diversidade do público e a peculiaridade de cada um.

Trazendo um exemplo bem específico: em vez de uma instituição escolar aguardar que algum estudante surdo se matricule, ela pode atuar, com a orientação de um psicopedagogo, para que todo o ambiente seja inclusivo, acolhedor, com aulas de Libras para todos os ouvintes; trazendo espaços que privilegiem a linguagem visual, profissionais de apoio que saibam se comunicar em Libras etc.

Assim, em vez todos na escola terem que “correr” para tornar o ambiente inclusivo no momento em que o primeiro aluno surdo se matricula, já haverá toda uma instituição preparada para recebê-lo.

O acompanhamento após a avaliação

Tendo coletado as diversas informações em contato constante com todos os atores do processo educacional, o psicopedagogo estará munido de resultados que poderão ser relatados e discutidos com esses mesmos atores, a fim de que cada qual atue dentro de sua área para traçar estratégias que ajudem a transpor o obstáculo para a aprendizagem inicialmente identificado.

Essas ações podem incluir mudanças na estrutura física das salas de aula, elaboração de plano de ensino individualizado (PEI), criação de novas rotinas familiares, dentre outras, por isso a importância do trabalho conjunto neste momento.

Ou seja, é uma troca que se retroalimenta e que se altera diante de cada constatação frente às novas realidades que se apresentam.

Mas, e as possibilidades?

Sabemos que muitos que nos leem podem estar se perguntando se, na grande maioria das instituições escolares do Brasil, esse acompanhamento é possível diante de tantos problemas que enfrentamos na educação, tanto pública quanto privada.

Essa preocupação é válida e nós também a temos, já que conhecemos a realidade do ensino no país, com muitos casos de infraestrutura precária, salas superlotadas e falta até mesmo de professores, quanto mais de psicopedagogos…

Mas, diante de tudo isso, ainda somos pessoas que acreditam que o conhecimento é o melhor caminho para superar as dificuldades existentes.

Quanto mais informações tivermos sobre os profissionais capacitados e os caminhos que podemos seguir em busca de uma educação de qualidade, mais fortes estaremos para essa luta. E um grande aliado que temos e que precisa ser conhecido e reconhecido é o psicopedagogo.

Lutemos juntos por essa escola mais sensível, atenta, humana, que invista na autoestima e na autoconfiança de todos que dela fazem parte. Se isso é utopia, que continuemos utópicos.

Referências

BRASIL. Senado federal. Projeto de Lei nº 1.675 de 2023. Dispõe sobre o exercício da atividade de Psicopedagogia. Brasília: Senado federal, 2023. Disponível em: https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/156730?_gl=1*1u9s5so*_ga*ODM4MzM2NzAyLjE2OTQ4MDQxMTE.*_ga_CW3ZH25XMK*MTcwMDc2Mjc1MC4zLjEuMTcwMDc2Mjc5MS4wLjAuMA.. Acesso em: 23 nov. 2023.

PERES, Maria Regina; OLIVEIRA, Maria Helena Mourão Alves. Psicopedagogia: limites e possibilidades a partir de relatos de profissionais, Ciências & Cognição, vol. 12, 2007. p. 115-133. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/cc/v12/v12a12.pdf. Acesso em: 23 nov. 2023.