Atividades para o dia nacional do livro

Por ser tão onipresente no cotidiano pedagógico, o livro impresso, suporte textual por excelência do ambiente escolar, pode acabar tendo sua importância menosprezada ou, dizendo de outra forma, pode acabar ocupando um lugar corriqueiro, de mero objeto anacrônico, uma vez que a cultura digital impõe cada vez mais a leitura fragmentada exclusivamente pelas telas.

Cabe, então, no Dia Nacional do Livro, propor reflexões sobre a valorização de sua presença na escola, em especial do livro literário, convidando os alunos para sua apreciação, análise e, até mesmo, produção.

Antes de avançarmos, é importante retomar um ponto que citamos no parágrafo anterior. A menção à cultura digital de modo algum busca reforçar um discurso tecnofóbico, como se a leitura em suportes digitais não fosse uma possibilidade viável.

Em muitos contextos, na falta de livros físicos para todos os alunos, a leitura individual pela tela de celulares e tablets ou coletiva através da aparelhos de projeção acaba sendo uma saída prática para que os alunos tenham contato com determinada obra. Por outro lado, vale reconhecer que uma das principais características do modo de leitura online é, para o bem e para o mal, a hiper fragmentação do texto.

Graças ao recuso de hiperlinks e à facilidade em integrar diferentes linguagens no mesmo texto, estamos, a todo tempo, pulando entre um parágrafo, um vídeo, uma imagem, um comentário, voltando ao texto original ou, muitas vezes, nos perdendo dele no meio do caminho.

A tecnologia pode democratizar o acesso a determinados conteúdos, ampliando a facilidade com que acessamos obras de autores de todo o mundo, mas também facilita a dispersão da atenção, fragmentando o foco para muitas direções.

Por isso, pensar a importância do livro em sala de aula no dia nacional do livro não é atentar contra as facilidades dos suportes digitais, mas reconhecer suas limitações e adequações a cada contexto. Esclarecimentos feitos, voltemos ao livro impresso!

Dia Nacional do Livro: Desenvolvendo a aproximação com uma obra

Presente na rotina dos alunos desde a mais tenra idade, começando, talvez, pelos modelos feitos de borracha ou pano e, posteriormente, para os livros ilustrados, até chegar aos compostos majoritariamente de textos verbais, o livro parece dispensar apresentações.

Seu manuseio pode parecer óbvio, seus recursos simples de serem decodificados e as estratégias para sua análise aparentemente fáceis. Mas nem sempre é assim.

Pela familiaridade que nós, professores, temos com livros, podemos acabar intuindo que nosso aluno, imerso na escolarização, também terá relação semelhante. Os livros, tanto didáticos quanto paradidáticos, permeiam as salas de aula desde o início da Educação Básica até o final do Ensino Médio.

Ainda assim, cabe a nós atentar para práticas de letramento que podem nem sempre ser razão de privilégio justamente por causa dos pressupostos que se levantaram a respeito dessa relação estudante-livro.

Aprofundando essa reflexão no dia nacional do livro, podemos dialogar com o conceito de Letramento Literário, popularizado por Rildo Cosson, que, basicamente, trata do “processo de apropriação da literatura enquanto linguagem”[1].

Segundo o autor, a sequência básica de tal processo passa por quatro etapas, organizadas da seguinte maneira:

motivação, que é o momento em que se prepara e estimula o aluno para a leitura do texto literário; introdução, quando o texto é apresentado aos leitores; leitura, que é a leitura acompanhada do texto; e interpretação, que compreende a construção do sentido do texto pelo encontro pessoal do leitor com a obra e registro dessa construção em um outro texto.” (COSSON, 2020, p. 226)

Nessa sistematização, chama a atenção que bem antes da leitura propriamente dita, há movimentos de motivação e introdução do texto literário, etapa pré-leitura que pode-se usar bem para que o aluno explore, com a mediação docente, diversos elementos do livro, como:

  • capa,
  • contracapa,
  • sinopse,
  • sumário,
  • informações sobre autoria e ilustração.

Ainda nessa etapa, hipóteses podem ser levantadas sobre o conteúdo da obra a partir dessas informações analisadas previamente, entendendo que tal exploração não se encerra quando a leitura começa, ela permeia toda a experiência do leitor até a conclusão do livro.

Atenção a forma como abordamos as práticas de leitura!

Embora, em alguns contextos, essa atenção para o modo de apresentação e organização textual possa parecer pouco relevante, ainda mais com alunos mais velhos, vale reforçar que nossos pressupostos sobre as experiências de leitura de cada turma não podem ser a única fonte balizadora das práticas que mediaremos.

Eu já encontrei alunos de Ensino Médio, por exemplo, que não sabiam o que significava “aquele número em cima de algumas palavras”, ou seja, alunos que estão quase concluindo uma trajetória de, no mínimo, doze anos de Educação Básica e não sabiam o significado de notas de rodapé!

Além do momento dedicado a explorar e interpretar a organização textual de um livro, há também que se reconhecer o valor da leitura em um suporte impresso.

A experiência sensorial, tangível presente no manuseio de um livro contribui para a fixação da atenção e o desenvolvimento da concentração.

Tal constatação foi ratificada por recente posicionamento do governo sueco, que optou por abrir mão de materiais didáticos totalmente digitais e investirá no retorno de livros impressos para seus estudantes[2].

Segundo a pedagoga sueca Inger Enkvist, também professora catedrática emérita na Universidade de Lund, “os alunos têm atualmente menos capacidade de concentração. Dedicam menos esforço para escrever bem, porque programas de ortografia automática fazem a escrita parecer mais fácil do que é”.

Dia Nacional do livro: Explorando livros e incentivando a leitura em sala de aula

Para além da cuidado com a apresentação e investigação do livro, há muitos caminhos que podem incentivar não só a leitura em sala de aula, mas também a valorização da autoria discente.

Assim como a etapa pré-leitura é fundamental para a aproximação do aluno com o livro, a etapa de leitura, feita em sala, coletivamente, também tem uma inestimável importância.

Por causa da rotina acelerada em que acabamos entrando na escola, podemos achar que ler em voz alta, com os alunos mais velhos, é desnecessário, como se tal prática fosse significativa apenas nos anos iniciais, durante o processo de alfabetização.

Entretanto, ler com os alunos, ouvir suas expectativas, sugerir leituras colaborativas, apontar a importância das acentuações na prosódia e das pontuações na entonação, todos esses movimentos, que enfatizam a prática da oralidade em sala de aula, também contribuem para que o aluno se familiarize com as estratégias de leitura e reconheça no livro um suporte de conhecimento relevante, ao invés de algo somente imposto pela escola.

Em seguida, na parte pós-leitura, muitas atividades podem expandir as discussões feitas e contribuir para que o aluno exerça sua subjetividade em diálogo com a obra explorada.

Mais estratégias de incentivo à leitura

Pode-se organizar oficinas de fanfics, com orientações para que a turma produza novas versões para o final da história e exponha em algum local de destaque para que o restante da escola leia.

No caso da leitura de texto poético, pode-se organizar um sarau para a apresentação de poemas dos estudante, com a participação, inclusive, dos familiares dos estudantes-autores como público.

Além da oficina e do sarau, pode-se, também, pensar na possibilidade de convidar autores contemporâneos para visitar a escola e conversar com os alunos.

Graças às redes sociais, hoje está muito mais fácil realizar esse tipo de convite e, caso a visita não seja viável, é possível pensar em uma conversa à distância por videochamada, em que os alunos se reunirão na sala de leitura ou no auditório e trocarão ideias, online, com o autor ou autora.

Em turmas com alunos mais jovens, atividades de ilustração costumam ser muito produtivas devido à ludicidade envolvida, ao poder sugerir que os estudantes produzam novas capas para o livro ou representem trechos da obra de um modo que chame a atenção de futuros leitores.

Pensando no diálogo com a cultura digital, atualmente, faz bastante sucesso o movimento do “booktok”, conteúdo produzido, majoritariamente, por jovens leitores indicando livros na rede social Tiktok.

Dentre as estratégias de incentivo à leitura, alguns perfis contam parte do enredo de alguma obra como se estivessem falando de um caso pessoal, para, em seguida, relevar que se trata de uma obra de ficção, o que desperta a curiosidade e interesse pelo livro.

Essa iniciativa pode ser adaptada para o contexto escolar, sugerindo que alunos gravem pequenos vídeos com o intuito de incentivar um público da mesma idade para a leitura de determinada história.

Conclusão

Como vimos nessa reflexão sobre o dia nacional do livro, pensar a importância dos livros na escola passa pela compreensão de suas vantagens e especificidades em relação a suportes digitais, e pela importância de, detidamente, desenvolver práticas pré-leitura, práticas mediadas de leitura em sala de aula e práticas pós-leitura, em que o aluno possa se perceber não só como um leitor competente, mas também como um incentivador de leituras e até mesmo autor literário.

Um conjunto de experiências que, com certeza, contribuirá bastante para o fortalecimento da criticidade e cidadania de todos os envolvidos.

Referências

COSSON, R. Paradigmas de Ensino do Literatura. São Paulo. Contexto, 2020

Letramento Literário in Glossário CEALE. Fonte: https://www.ceale.fae.ufmg.br/glossarioceale/verbetes/letramento-literario Acesso em 02.10.2023

Por que a Suécia desistiu da educação 100% digital e gastará milhões de euros para voltar aos livros impressos? In G1. Fonte: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2023/08/07/por-que-a-suecia-desistiu-da-educacao-100percent-digital-e-gastara-milhoes-de-euros-para-voltar-aos-livros-impressos.ghtml Acesso em 04.10.2023

[1] http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/letramento-literario Acesso em 02.10.2023

[2] https://g1.globo.com/educacao/noticia/2023/08/07/por-que-a-suecia-desistiu-da-educacao-100percent-digital-e-gastara-milhoes-de-euros-para-voltar-aos-livros-impressos.ghtml Acesso em 04.10.2023