Dia da Mulher: As lutas pelo direito de ser

Já imaginou outra pessoa discernindo e decidindo sobre o que você veste, como deve se comportar, com quem se relacionar, o que pode ou não fazer?

Toda mulher não só já imaginou como viveu, e vive, esta não hipotética situação.

Em plena vigência de um segundo milênio cristão sobre a Terra – desconsiderando todos os milhares de séculos anteriores a este nosso calendário global – é sobre as mulheres que ainda pesam os retrocessos e as ultrapassadas tradições milenares (mesmo que haja, no Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, 4,8 milhões de mulheres a mais de que homens).

É sobre elas que ainda permanecem, e perpetuam-se, hábitos que coexistem, paradoxalmente, com uma Inteligência Artificial capaz de criar universos paralelos e em que as possibilidades e alcances da tecnologia ainda surpreendem a cada segundo.

O próprio 8 de março, considerado internacionalmente como o Dia da Mulher, é assim celebrado, dentre outras razões, principalmente em lembrança a uma extrema violência sofrida por muitas delas.  

Quer saber mais sobre o dia da mulher e sobre as lutas antigas e contemporâneas pelo direito de ser? Então, confira o conteúdo sobre o tema!

O Dia da Mulher e os muitos “8 de março”

O Dia da Mulher e os muitos “8 de março”

Apesar do que muitos acreditam, o 8 de março não é comemorado nesta data por um fato incontestável. Há muitas versões a respeito. A data que representa mais uma luta por igualdade do que uma ode à doçura, à feminilidade e à suposta resiliência feminina tem vários pontos de partida.

O mais famoso é o incêndio intencional em uma fábrica têxtil que dizimou nada menos do que 129 trabalhadoras estadunidenses que protestaram contra as condições inadequadas em que exerciam seu ofício. A greve e o incêndio são verídicos.

Não tão verdadeiro é o fato de ambos terem sido embriões de outro 8 de março.  Na verdade, o dia internacional foi proposto, pela primeira vez, em um evento que reuniu mulheres socialistas de todo o mundo em 1910, na Dinamarca.

A consolidação desta data, entretanto, tem também outras explicações e conexões. Vamos conhecer um pouco mais de todas elas? 

O incêndio na fábrica têxtil de Nova Iorque

O mais famoso fato vinculado ao Dia da Mulher é, sem dúvida, o do incêndio ocorrido em março de 1911, mais especificamente um sábado à tarde.

A empresa empregava 600 pessoas, em sua maioria mulheres imigrantes de 13 a 23 anos. 129 delas não conseguiram escapar.

Quando o edifício Triangle Shirtwaist Company, que abrigava a fábrica, entretanto, pegou fogo, já fazia um ano que o Dia Internacional de Luta das Mulheres havia sido proposto, na capital dinamarquesa.

A greve 

Apesar do que muito se propaga, o que se acredita atualmente é que, na ocasião do incêndio, as trabalhadoras não estavam em greve.

Pouco antes, em novembro de 1909, houve uma paralisação na indústria têxtil de Nova York, conhecida também como O Levante das 20 mil, que só terminou em fevereiro do ano seguinte.

Além disso, em fevereiro de 1908, socialistas norte-americanas já haviam organizado uma manifestação por melhores condições de trabalho e pelo direito ao voto em um ato denominado “Dia da Mulher”.

Foi provavelmente esta, inclusive, a influência à proposição de uma data internacional unificada e aprovada em 1910, em Copenhague.

O Congresso de 1910

A formalização da ideia de um dia para a realização de atos em defesa dos direitos das mulheres em escala global se deu por meio de um documento assinado, durante o Congresso, pela marxista alemã Clara Zetkin e por Käte Duncker, ambas militantes no Partido Comunista Alemão.

O impulso da Revolução Russa

Apesar da manifestação e da formalização de 1910, foi somente sete anos depois, em 1917 e durante a I Guerra Mundial, que o Dia da Mulher ganhou maior proporção.

Em 8 de março daquele ano, tecelãs russas e familiares de soldados do exército tomaram as ruas de Petrogrado (hoje São Petersburgo), marchando por “pão e paz”, reivindicando o fim da guerra.

Elas denunciavam a fome e convocavam o operariado russo a derrubar a monarquia. Em 1975, a data foi reconhecida também pela Organização das Nações Unidas (ONU).

O 8 de março na atualidade

O 8 de março na atualidade 

Há um fato em comum a todas estas possibilidades de marco das comemorações do Dia Internacional das Mulheres: luta!

Quer tenha sido pelo fim da guerra, quer tenha sido por melhores condições de vida ou trabalho, nada é mais distante do que o significado que muitos adotam na atualidade.

Uma flor, um bombom ou uma mensagem repleta de corações não deixa de ser um ato de gentileza, sempre bem-vindo.

Está a anos-luz de distância, entretanto, do que a grande maioria das pessoas do sexo feminino realmente quer e precisa em pleno 2023. Em todo o planeta, ainda há muito a se desafiar e conquistar.

Principais desafios das mulheres do século XXI 

Os desafios das mulheres em todo o mundo podem ser exemplificados pelo que pôde ser visto por milhões de habitantes do planeta em um dos maiores e mais recentes eventos de alcance mundial: a Copa do Mundo do Qatar de 2022.

Estádios sem representantes do gênero feminino do país-sede ou, quando presentes, totalmente vestidas com burcas (roupas que só deixavam à vista seus olhos).

Para além deste tipo de violência que abrange várias camadas de repressão, uma é a mais urgente a ser enfrentada: o feminicídio e as agressões de natureza física, psicológica e patrimonial.

Somam-se a estas lutas contemporâneas também a falta de isonomia com os homens em espaços público e privado, a ausência de amparo no exercício dos direitos sexuais e reprodutivos, a ausência de equiparação salarial e as discriminações no campo laboral, para citar algumas.

Quanto à questão trabalhista, pesquisas não cansam de comprovar as discrepâncias. De acordo com o IBGE, de forma geral e sem recortes por níveis, as trabalhadoras brasileiras recebem, em média, 20,5% menos que os homens.

Relatório do Women in the Workplace 2021, por sua vez, conclui que quanto mais alto for o cargo, menor a presença feminina.

Mulheres: que tenham filhos como se não trabalhassem e que trabalhem como se não tivessem filhos 

Para finalizar, a todas as meninas e mulheres que vivem, ou viverão, em meio à impossível, mas real e dolorosa dicotomia exposta neste subtítulo: honrem o legado de todas as que nos antecederam!

Se as armas de luta mudaram em virtude das novas configurações e atuais desafios do mundo, apropriem-se delas.

Informação e conhecimento são, cada vez mais, ferramentas poderosas e da qual ninguém pode privar quem os detém.

São instrumentos de poder e, consequentemente, de barganha, negociação e alcance para maiores gradações de conquistas. Conquistas que possibilitam maior independência e escolha.

A todos os meninos e homens: que estas mesmas armas empunhadas pelas mulheres possam também estar em suas mãos, de forma que sejam indivíduos influenciadores na vivência de uma mentalidade realmente atualizada, livre de conceitos ultrapassados como machismo e misoginia.

Às professoras e professores: que possam transmitir a cada um dos seus discípulos, meninas ou meninos, a importância do conhecimento como ferramenta libertadora e precursora de um real e novo tempo.

Conheça algumas mulheres que fizeram história 

Infográfico Dia da Mulher

Quais outras mulheres você incluiria? Se achar pertinente, compartilhe com a gente!

Gostou de saber mais sobre o dia da mulher e sobre as lutas antigas e contemporâneas ? Então, confira nosso conteúdo sobre racismo estrutural!

Patrícia Monteiro de Santana é jornalista formada pela Universidade Federal de Pernambuco em 2000. Com atuações em veículos como TV Globo, Revista Veja e Diário de Pernambuco, além de atuante em assessoria de comunicação empresarial, cultural e política.