Ciências da Natureza e suas Tecnologias: o que são e temas que mais caem no ENEM

A relevância do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) na trajetória educacional dos estudantes brasileiros é inegável. Ao longo dos anos, o desempenho neste exame consolidou-se como a principal porta de entrada para universidades públicas federais, via Sistema de Seleção Unificada (Sisu), e um critério fundamental para programas como o Programa Universidade para Todos (Prouni) e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Para os docentes de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, compreender a dinâmica dessa avaliação é crucial.

Ao longo de todo o ano, escolas e cursos preparatórios direcionam o olhar para um trabalho cuidadoso com os discentes, a fim de que conquistem a tão almejada vaga no Ensino Superior.  

Porém, será que todos os professores do campo das Ciências da Natureza possuem intimidade com a forma com que os assuntos são cobrados no Enem? Será que eles sabem quais são os temas mais recorrentes?  

Conhecer o Enem de perto é fundamental para poder estruturar estratégias didáticas que possam dar suporte e bom repertório para os estudantes realizarem o exame de forma sólida e confiante. Confira os temas mais abordados da área a seguir.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias: temas recorrentes nos últimos 5 anos

Ao direcionarmos o nosso olhar para o campo das Ciências da Natureza e suas Tecnologias (CNT), objeto central deste texto, percebemos que o Enem busca avaliar competências que envolvem o domínio dos conceitos fundamentais da Biologia, Química e Física, articulando-os à resolução de problemas cotidianos e à compreensão de fenômenos naturais e tecnológicos. 

Alinhado à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o exame enfatiza uma abordagem interdisciplinar e contextualizada, valorizando a aplicação do conhecimento científico em situações reais, o raciocínio lógico, o pensamento crítico e a capacidade de tomada de decisões embasadas cientificamente. 

Os itens dessa área priorizam habilidades como interpretar experimentos, compreender gráficos, reconhecer aplicações da ciência na vida cotidiana e refletir sobre questões ambientais, energéticas, sanitárias e tecnológicas.  

Esse alinhamento busca garantir uma formação mais integrada, conectada aos desafios contemporâneos, estimulando a formação de cidadãos conscientes, capazes de utilizar o conhecimento científico de forma ética e responsável. 

Nos últimos 5 anos, o Enem tem dado destaque a temas que evidenciam a integração entre Química, Física e Biologia, sempre com foco no impacto dessas ciências na vida cotidiana e nos desafios sociais e ambientais. 

Assuntos transversais, como meio ambiente e sustentabilidade, saúde e qualidade de vida, energia e suas transformações, tecnologia e inovações científicas e o uso racional dos recursos naturais, aparecem com frequência em questões contextualizadas.

Por exemplo, ao abordar o aquecimento global, o exame exige que o estudante compreenda as reações químicas de gases como o CO₂ na atmosfera (Química), o efeito físico da retenção de calor (Física) e os impactos ecológicos nas cadeias alimentares e na biodiversidade (Biologia).  

Da mesma forma, questões sobre produção de biocombustíveis envolvem a compreensão de processos bioquímicos na fermentação alcoólica (Biologia e Química), o rendimento energético dos combustíveis (Física) e a análise de gráficos sobre consumo e emissão de poluentes. 

Além disso, o exame frequentemente propõe situações-problema que exigem a articulação entre áreas do conhecimento. Em temas como vacinação, o estudante deve compreender a atuação do sistema imunológico (Biologia), os princípios físico-químicos envolvidos no armazenamento e transporte de vacinas, como o uso do gelo-seco (Física e Química), e os impactos sociais e sanitários da imunização em larga escala.  

Outro exemplo é o tratamento de água, tema recorrente que demanda o entendimento das etapas de purificação (Química), da pressão e vazão nos sistemas de abastecimento (Física) e das implicações sanitárias para a saúde coletiva (Biologia). Esse tipo de abordagem reforça o compromisso do Enem com uma avaliação mais conectada com a realidade dos estudantes e com as competências exigidas no século XXI. 

Com esse formato, o Enem deixa de ser uma simples prova de conteúdos isolados e passa a ser um instrumento que valoriza a capacidade do estudante de integrar saberes e aplicá-los em situações concretas.  

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Essa proposta estimula o desenvolvimento de habilidades como a leitura crítica de dados, a argumentação baseada em evidências científicas e o entendimento das interrelações entre ciência, tecnologia, sociedade e meio ambiente. 

 Para os professores, esse tipo de abordagem representa um desafio importante: promover aulas que favoreçam o diálogo entre as disciplinas, com atividades que incentivem a pesquisa, a experimentação e a análise crítica, preparando os alunos não apenas para o exame, mas para uma atuação cidadã e consciente diante das complexidades da atualidade. 

Confira, a seguir, as especificidades de cada componente curricular que forma essa área de conhecimentos.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias: Biologia

Os conteúdos dentro do campo da Biologia, de forma mais específica, estão relacionados, principalmente, à citologia, genética, ecologia e fisiologia humana, refletindo a proposta da matriz de referência do exame, que prioriza a compreensão do corpo humano, dos processos biológicos e das interações entre os seres vivos e o ambiente.  

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Temas como estrutura e função das células, processos de divisão celular (mitose e meiose), organelas celulares, e produção de energia (respiração celular e fotossíntese) aparecem com frequência, muitas vezes articulados ao contexto de saúde ou meio ambiente.  

A genética, por sua vez, é abordada tanto do ponto de vista molecular — com ênfase em DNA, RNA, código genético e síntese proteica — quanto em situações aplicadas, como testes de paternidade, engenharia genética e heranças genéticas em humanos. 

A ecologia tem sido uma das áreas mais cobradas, com foco em temas como cadeias e teias alimentares, fluxo de energia nos ecossistemas, ciclos biogeoquímicos e relações ecológicas.  

Além disso, o Enem costuma contextualizar esses conteúdos com questões ambientais atuais, como o desmatamento, a perda da biodiversidade, as mudanças climáticas e a contaminação de ecossistemas aquáticos e terrestres.

A abordagem interdisciplinar é constante: questões de ecologia frequentemente exigem que o aluno relacione conhecimentos biológicos com dados estatísticos, gráficos e aspectos sociais ou econômicos, como o impacto da ação humana nos biomas brasileiros.  

O uso de temas como poluição, sustentabilidade, preservação ambiental e desequilíbrios ecológicos reforça o caráter formativo da prova, voltado à construção de uma consciência ambientalmente responsável. 

Outro eixo temático recorrente é a fisiologia humana, com destaque para os sistemas digestório, respiratório, circulatório, excretor, nervoso e endócrino. As questões costumam explorar o funcionamento integrado desses sistemas, muitas vezes relacionando-os a doenças, hábitos de vida ou uso de substâncias. 

 Questões sobre vacinação, defesa imunológica, DSTs, uso de antibióticos e processos de reprodução humana também têm aparecido com regularidade, sempre com ênfase no uso social do conhecimento científico.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias: Química

Nos últimos 5  anos, dentro do campo da Química os temas mais recorrentes estão relacionados à química ambiental, como chuva ácida, efeito estufa, camada de ozônio, poluição atmosférica e tratamento da água e do esgoto.  

Essas questões frequentemente cobram reações químicas associadas à presença de determinados poluentes, ao uso de substâncias químicas no ambiente ou ao impacto do descarte inadequado de resíduos. São temas conectados às grandes discussões sobre sustentabilidade, um eixo transversal importante na matriz do Enem.

Adicionalmente, há uma presença constante de conteúdos ligados à físico-química, especialmente os tópicos de termoquímica, equilíbrios químicos, cálculos estequiométricos, pH/concentração e reações químicas em geral. Esses temas costumam aparecer em contextos como produção de medicamentos, funcionamento de extintores, combustão de combustíveis e processos industriais.  

O aluno precisa ser capaz de interpretar gráficos, avaliar variáveis como temperatura e pressão, relacionar fenômenos a leis químicas, além de realizar operações matemáticas básicas em cálculos estequiométricos e de concentração de soluções. Muitas dessas questões testam o raciocínio lógico do candidato, exigindo uma leitura atenta dos enunciados e uma boa compreensão das unidades de medida envolvidas. 

Outro grupo de assuntos frequentemente abordados envolve a química orgânica, especialmente compostos orgânicos presentes em alimentos, combustíveis, fármacos e materiais sintéticos.  

São comuns as questões sobre funções orgânicas, reconhecimento de grupos funcionais, reações orgânicas e propriedades físico-químicas de compostos orgânicos, geralmente aplicadas a contextos reais, como rótulos de produtos, funcionamento de cosméticos, ou impacto ambiental de plásticos e solventes.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias: Física

A prova de Física do Enem tem priorizado a aplicação prática dos conceitos físicos em situações cotidianas, em vez de exigir fórmulas decoradas ou cálculos complexos.  

Um dos blocos mais recorrentes envolve mecânica, especialmente temas como leis de Newton, força resultante, trabalho e energia, movimentos uniformes e acelerados, além de conservação de energia e quantidade de movimento.  

Questões com gráficos de velocidade, aceleração e tempo são comuns, assim como problemas contextualizados com meios de transporte, funcionamento de elevadores ou quedas de objetos.  

Esses temas são associados à análise de situações-problema, exigindo raciocínio lógico e interpretação de dados visuais.  

Outra área com grande recorrência é a do eletromagnetismo e a da eletricidade, com ênfase em circuitos elétricos simples, associação de resistores, consumo de energia elétrica e transformações de energia.

Essas questões costumam aparecer também em contextos como contas de luz, funcionamento de aparelhos eletrodomésticos, uso de energias renováveis e sustentabilidade. Além disso, eletromagnetismo aparece em temas como geração de energia elétrica, campo magnético em motores ou em usinas, relacionando conceitos físicos a discussões sobre eficiência energética e impacto ambiental.  

Também têm aparecido com frequência temas ligados à termodinâmica e óptica, como leis da termodinâmica, calorimetria, máquinas térmicas, transmissão de calor e fenômenos ópticos como reflexão, refração e formação de imagens.  

Esses tópicos são geralmente abordados em contextos como funcionamento de geladeiras, placas solares, combustão em motores, lentes e espelhos no cotidiano, ou ainda problemas ambientais envolvendo o aquecimento global.  

O Enem também valoriza questões que envolvem física moderna, especialmente em tópicos como radioatividade, energia nuclear e efeitos da radiação.

Conclusão: Impacto e Perspectivas para as Ciências da Natureza e suas Tecnologias no Enem

Diante das reflexões apresentadas, é possível afirmar que a área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, no contexto do Enem, desempenha um papel essencial na consolidação de uma educação científica crítica, contextualizada e alinhada aos desafios atuais.

O exame não busca apenas avaliar conhecimentos isolados de Biologia, Química e Física, mas sim promover uma visão integrada, que valoriza a aplicação dos saberes em situações reais, exigindo dos estudantes competências como interpretação de dados, resolução de problemas e argumentação baseada em evidências. Essa abordagem contribui diretamente para o desenvolvimento de uma cultura científica voltada à cidadania, à sustentabilidade e à tomada de decisões responsáveis.

Para os docentes dessa área, compreender as demandas e tendências da prova é fundamental para planejar práticas pedagógicas mais efetivas e significativas. O levantamento dos temas mais recorrentes nos últimos anos evidencia a importância de trabalhar os conteúdos de forma transversal. Ao incentivar a articulação entre saberes, o ensino das Ciências da Natureza e suas Tecnologias no Ensino Médio pode se tornar mais dinâmico e transformador, preparando os estudantes não apenas para um bom desempenho no exame, mas para uma atuação crítica e consciente na sociedade.

Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: MEC/SEMTEC, 2000. Disponível em: https://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/blegais.pdf. Acesso em: 05 jul. 2025. 

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: Ensino Médio. Brasília: MEC, 2018. Disponível em: https://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 05 jul. 2025. 

INEP. Exame Nacional do Ensino Médio. 2º dia – Caderno 5 – Amarelo. Aplicação regular, 2020. Disponível em: https://download.inep.gov.br/enem/provas_e_gabaritos/2020_PV_impresso_D2_CD5.pdf Acesso em: 04 jul. 2025. 

INEP. Exame Nacional do Ensino Médio. 2º dia – Caderno 5 – Amarelo. Aplicação regular, 2021. Disponível em: https://download.inep.gov.br/enem/provas_e_gabaritos/2021_PV_impresso_D2_CD5.pdf. Acesso em: 04 jul. 2025. 

INEP. Exame Nacional do Ensino Médio. 2º dia – Caderno 6 – Cinza. Aplicação regular, 2022. Disponível em: https://download.inep.gov.br+7download.inep.gov.br+7download.inep.gov.br+7 Acesso em: 04 jul. 2025  

INEP. Exame Nacional do Ensino Médio. 2º dia – Caderno 5 – Amarelo. Aplicação regular, 2023. https://download.inep.gov.br/enem/provas_e_gabaritos/2023_PV_impresso_D2_CD5.pdf Acesso em: 04 jul. 2025  

INEP. Exame Nacional do Ensino Médio. 2º dia – Caderno 7 – Azul. Aplicação regular, 2024. Disponível em: https://download.inep.gov.br/enem/provas_e_gabaritos/2024_PV_impresso_D2_CD7.pdf Acesso em: 04 jul. 2025

Minibio do autor

Danilo Carvalho é graduado em Ciências Biológicas (Licenciatura Plena) pela Universidade Federal de Mato Grosso, com mestrado e doutorado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), além de pós-doutorado pela Texas A&M University, nos Estados Unidos. É professor da UFPE desde 2016, com atuação no Colégio de Aplicação e no Programa de Pós-graduação em Ensino de Biologia do Centro Acadêmico de Vitória (CAV-UFPE). Possui experiência nas áreas de Ensino de Biologia, Formação de Professores, Estágio, Gestão Acadêmica e Escolar, bem como Consultoria Educacional junto ao Ministério da Educação. Acumula artigos com ênfase em metodologias e estratégias didáticas para o ensino de Ciências e Biologia, bem como ensaios pedagógicos e diversos textos instrucionais publicados no campo da Educação.