Carnaval no Brasil para sala de aula
Box Carnaval no Brasil

“Tudo a seu tempo”, costumam dizer os mais ou menos sábios. Uma afirmação costumeiramente correta, adequada e adaptável às mais diferentes situações, correto? Se estivermos falando de duas coisas chamadas Brasil e Carnaval, entretanto, nada poderia ser mais equivocado.

Embora seja realizada de forma oficial, geralmente, no segundo mês do calendário anual, a festa popular já acontece, informalmente, mal o novo ano estreia. Em certos locais, até mesmo antes disso.

Em sala de aula, faz parte, portanto, logo dos primeiros temas a serem abordados pelos docentes. E para quem imagina que o assunto interessaria apenas a conteúdos relacionados à arte, vale utilizar da mesma máxima que rege os foliões: explorar as possibilidades, abrir-se ao novo, interagir e, por que não, se divertir enquanto se ensina e se aprende.

Origem do Carnaval no Brasil

Apesar de, em muitos aspectos, ser algo que parece genuinamente nacional, o Carnaval não tem sua origem em terras brasileiras.

Ele chegou ao nosso país durante o período colonial e manifestou-se, a princípio, por meio do entrudo, um tipo de brincadeira popular que consistia em várias manifestações, a exemplo de “brincadeiras” como molhar ou sujar as pessoas nas ruas.

Ao longo dos anos, e com as críticas (notadamente da imprensa) contra esta forma nem sempre saudável de diversão, foram surgindo outros festejos, como o baile de máscaras.

Séculos XIX e XX no Brasil

1 – Cordão da Bola Preta no Carnaval de 1936. Fonte: BN Digital 2 – Na imagem, desfile do rancho “Unidos do Morro do Pinto”, sem data. Arquivo Nacional. Fundo Correio da Manhã. BR_RJANRIO_EH_0_FOT_00139_070 3 – Fonte: Folha PE. Foto: Pierre Verger 4 – Afoxé Filhos de Gandhy 1949. Foto: Pierre Verger

O final do século XIX traz cordões e ranchos, por exemplo. Os primeiros tinham a estética das procissões religiosas tendo, contudo, manifestações populares como a capoeira e os zé-pereiras, tocadores de grandes bumbos.

Já os ranchos eram cortejos de origem rural. Foi também neste momento da história que surgiram as marchinhas de carnaval. A virada do século XIX para o XX, na Bahia, marcou o surgimento dos primeiros afoxés.

Por volta do mesmo período, o frevo passou a ser praticado no Recife e o maracatu ganhou as ruas de Olinda.

Século XX e XXI

Por volta da década de 1910, surgiram os corsos com os desfiles dos carros conversíveis da elite carioca. Mesma época do nascimento de um dos mais legítimos representantes do Carnaval, o samba, por meio da música “Pelo Telefone”, de Donga e Mauro de Almeida.

Convenciona-se que a primeira escola de samba, a Deixa Falar, surgiu na década seguinte, em 1928, e, mais tarde, daria origem à Estácio de Sá.

Estas escolas significavam uma espécie de desenvolvimento dos cordões e ranchos, e a primeira disputa entre elas ocorreu em 1932. Um período embrionário do que seria o Carnaval ao longo do restante do século e do que viria a seguir.

O Carnaval pelo Brasil

É evidente que estados como Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco atraem verdadeiras multidões para seus carnavais característicos e/ou diversos. Outras localidades do país, entretanto, também possuem suas manifestações.

Conheçamos algumas delas:

Rio de Janeiro

Carnaval no Brasil: visão da Praça da Apoteose, na Marquês de Sapucaí
Carnaval no Brasil: visão da Praça da Apoteose, na Marquês de Sapucaí

Certamente, é o Estado que abriga o “Maior Espetáculo da Terra”. É no Sambódromo – estrutura de concreto construída especificamente para o Carnaval em 1984 – que acontece o desfile das mais significativas e luxuosas escolas de samba do país, atraindo turistas de todas as partes do mundo.

Uma também importante atividade comercial a partir da década de 1960. O Estado também sedia bailes de máscaras além de blocos de rua famosos como o Cordão da Bola Preta, Monobloco, Simpatia é Quase Amor e o Bloco da Preta.

Pernambuco: Recife, Olinda, Bezerros e Triunfo

Carnaval no Brasil: O Galo da Madrugada, em Recife
Carnaval no Brasil: O Galo da Madrugada, em Recife

Em Recife e Olinda, o Carnaval é festa de rua, com foliões espalhadas pelas vias correndo atrás dos blocos, troças e clubes ou assistindo aos muitos shows montados em vários pontos das cidades.

E não nos esqueçamos que é, em Recife, que ocorre o maior bloco de carnaval do mundo, o famoso Galo da Madrugada, que marca o sábado de Zé Pereira no Estado.

Em Bezerros, predomina a folia dos papangus e, em Triunfo, a dos caretas (ambos personagens mascarados, mas com características diversas).

Carnaval em Salvador

Carnaval no Brasil: circuito Campo Grande
Carnaval no Brasil: circuito Campo Grande

Na terra originária do trio elétrico, mais de 200 blocos desfilam pela cidade durante os mais de sete dias no Carnaval baiano. Um local onde bandas e músicos célebres apresentam seus hits arrastando uma multidão de foliões.

Carnaval de São Paulo

Carnaval no Brasil: movimentação no bloco de rua no Largo da Batata
Carnaval no Brasil: movimentação no bloco de rua no Largo da Batata

Uma espécie mais acessível e tranquila em comparação ao Carnaval da vizinha, Rio de Janeiro. Os desfiles das escolas de samba ocorrem no Sambódromo de São Paulo, com capacidade para mais de 30 mil pessoas. Há, ainda, blocos de rua.

A diversidade do Carnaval em sala de aula

Celebrar a alegria e aproveitar os festejos para confraternizar são, sem dúvidas, atividades válidas e benéficas para todos os componentes de uma instituição de ensino.

Para além da diversão, entretanto, esta rica temática também pode, e deve, ter seu viés educativo. Tanto pedagógico quanto social.

Elencamos algumas sugestões que podem caminhar pelas diversas áreas do conhecimento, estimulando a sociabilidade, a criatividade, o lúdico, o interesse pela cultura do país, além da reflexão sobre temas sociais e históricos.

É importante que, antes que sejam postas em prática, possam ser adaptadas às mais diferentes realidades e faixas etárias.

Geografia

A ramificação das manifestações carnavalescas pelos “quatro cantos” do país é um ótimo gancho para abordar a diversidade do carnaval.

Além das diferenças de cada estado/região – em decorrência, dentre outros fatores, das variedades físicas, sociais e culturais destas localidades – pode ser trabalhada a questão das expressões musicais típicas de cada local.

É importante falar, ainda, a respeito do Carnaval em outros países, já que ele não é originário do Brasil.

História

A origem do Carnaval também pode ser contextualizada nas aulas de história. Some-se a isso, questões como o resgate da memória do carnaval no Brasil por meio de livros e até de filmes. Algumas indicações:

  • Orfeu Negro, 1959 (Marcel Camus)
  • O Samba Que Mora Em Mim, 2010 (Georgia Guerra-Peixe)
  • Damas do Samba, 2013 (Susanna Lira)
  • Trinta, 2014 (Paulo Machline)
  • Fevereiros, 2019 (Marcio Debellian)

Artes/Música

Por arte, podemos entender os modos de vestir, falar, comunicar, comemorar e, principalmente, os variados ritmos que fazem o arcabouço musical brasileiro, como maracatu, afoxé, coco, frevo etc.

Como manifestação visual, na prática, é possível transformar a sala de aula em uma oficina de confete de folhas utilizando materiais como furador de papel ou uma tesoura sem ponta e folhas caídas de árvores. Pode se realizar, ainda, oficinas de máscaras, fantasias e adereços.

Matemática

Parece incompatível, incongruente. Afinal, o que Carnaval tem a ver com este tipo de conteúdo? Simples: formas e produções carnavalescas podem ser utilizadas para desenvolver cálculos de matemática e física a partir da contagem dos gastos de uma festividade, da medição das proporções dos carros alegóricos e de um estudo sobre como os números são essenciais para a composição do samba enredo.

Ciência/Biologia

Roupas e adereços típicos desta época do ano não precisam ter, necessariamente, longa durabilidade. Neste sentido, carecem de menos elaboração para o seu preparo e de menos técnicas avançadas.

O uso de materiais reciclados traz, ainda, o conceito de sustentabilidade que pode ser aprendido/ensinado nas escolas. Com este tipo de insumo, estudantes podem produzir:

  • máscaras,
  • fantasias,
  • fantoches,
  • adereços,
  • objetos decorativos ou mesmo instrumentos musicais com itens como garrafas de plástico, latas, tampinhas, lacres etc.

Com os mais velhos, é possível, ainda, discutir o impacto do uso de microplásticos, como o glitter, e pesquisar alternativas, como o bioglitter (produzido com material biodegradável e areia).

Cidadania

As turmas de séries mais avançadas podem aprender sobre temáticas consideradas mais “espinhosas”, mas que são urgentes e necessárias.

Para esses estudantes, é interessante fazer rodas de conversa e debates sobre o uso abusivo de drogas, a importância dos preservativos, assédio sexual e acidentes de trânsito, por exemplo.