evasão escolar

Uma das maiores preocupações de quem trabalha com estudantes do Ensino Médio é a questão da evasão escolar. Muito antes do aparecimento do COVID19 e da necessidade de isolamento social e da quarentena, os dados já apontavam para índices graves demais para serem ignorados.

O número de matrículas no Ensino Médio impressiona: segundo o Censo Escolar da Educação Básica, são mais de 7 milhões e 700 mil matriculados.

Infelizmente, o número de jovens que conclui essa etapa é espantosamente menor. Cerca de 4 em cada 10 adolescentes até 19 anos não terminam o Ensino Médio, e os motivos da evasão escolar são variados.

Causas da evasão escolar 

Entre as principais razões apontadas pelos alunos estão a inserção no mercado de trabalho, a falta de interesse em estudar, a dificuldade de acesso à escola e até mesmo gravidez na adolescência. Veja esse quadro do PNAD 2019.

Segundo essa pesquisa, vemos que 50% dos jovens do sexo masculino apontam como a principal causa do abandono escolar a necessidade de trabalhar, enquanto, para as meninas, o fator mais relevante é o desinteresse pelos estudos.

Pode-se perguntar: se a pobreza, a violência e a dificuldade de acesso à escola não surgem no Ensino Médio, por que então essa faixa se torna tão vulnerável?

Um dado que pode nos dar uma pista nesse sentido é o fato de o 1º ano do Ensino Médio ter altos índices de reprovação e repetência, culminando no maior desinteresse ou mesmo na percepção de que a saída para o mercado de trabalho possa ser mais vantajosa para o estudante.

É preciso considerar ainda os jovens ‘nem-nem’, que nem estão estudando, nem estão trabalhando. Segundo Claudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (CEIPE), embora a escolaridade das mulheres seja, em média, maior que a dos homens, o público feminino dos ‘nem-nem’ é mais afetado porque as meninas saem do colégio para casamentos precoces e para serem mães.

Além disso, essas jovens geralmente não retornam à escola, pois sentem vergonha ou não conseguem o apoio necessário da família.

Economia como fator de evasão

Some-se a esses fatores tão complexos a atual conjuntura que vivemos, onde muitos estados permanecem com as aulas presenciais canceladas em função da pandemia do coronavírus, então o cenário se agrava ainda mais.

É fato que as diversas modalidades de ensino ofertadas aos alunos durante a quarentena nem sempre atingem todas as camadas da população, o que gera incertezas quanto ao futuro.

Entre aqueles alunos que não se viram aptos a continuar estudando durante a quarentena, quantos efetivamente acabarão por não retomar os estudos quando as aulas presenciais retornarem? Essa é uma informação que só o tempo pode trazer.

Acesse já o material para download: A implementação do ensino médio: desafios e complexidade.

O impacto da evasão escolar no mercado de trabalho

Assim, diante de todos esses dados que apontam motivos para a evasão escolar e a possibilidade de incremento nesses índices, chega a hora de refletirmos sobre as consequências da evasão escolar.

A primeira questão incide na empregabilidade desses alunos. De acordo com a PNAD Contínua, do IBGE, quase 20% dos jovens que não concluem o Ensino Médio se encontram desempregados no 1º trimestre de 2020.

Outro dado que aponta a urgência de trabalharmos contra a evasão dos alunos é que mais da metade dos adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas não frequentava a escola antes de entrar no sistema, segundo pesquisa da CNJ (Conselho Nacional de Justiça) sobre o perfil dos jovens infratores.

O gráfico a seguir demonstra, entretanto, que o problema surge anteriormente ao Ensino Médio, em grande parte dos casos.

É fácil chegar nesse ponto e se perguntar: e agora? O que é possível fazer para impactar essa realidade? Como sair desse ciclo de pobreza e violência, rompendo com o histórico de insucesso e evasão escolar?

Ações para evitar o abandono escolar

São duas as frentes em que vamos direcionar nossos esforços: o acesso e a manutenção do jovem na escola.

Em relação ao acesso, são necessárias políticas públicas que garantam a:

  1. quantidade de vagas demandadas,
  2. o transporte público de qualidade
  3. e a segurança para que esse jovem transite até a escola e depois retorne à sua casa.

Nas áreas rurais ou ribeirinhas, é preciso buscar soluções regionais que atendam a tais necessidades específicas, com soluções criativas ou mesmo tecnológicas.

Em relação à manutenção do jovem na escola, um dos caminhos importantes é a busca ativa por esses estudantes. Através de métricas e documentação da trajetória do estudante, é possível antecipar os próximos passos e agir sobre isso.

O jovem e a família que se veem amparados e percebem real interesse em ajudá-los empaticamente podem reconsiderar certas decisões a respeito da escola, recuperando o tempo perdido.

Outro fator determinante é o vínculo do adolescente com a escola e até mesmo com os professores. Isso significa que, para manter um elo forte com a instituição, o jovem deve se sentir parte integrante da comunidade escolar. Além disso, deve enxergar na escola um espaço seguro, onde suas dores são respeitadas e onde ele tem uma voz que merece ser ouvida.

A escola precisa entregar o protagonismo a esse jovem, para que permanecer ali faça sentido para ele.

Além disso, aspectos mais concretos também afastam o jovem da escola: se a estrutura física não comporta o número de alunos da sala de aula, ou se nela não há ventiladores ou sequer janelas, é muito provável que outros espaços se mostrem mais interessantes – e até mesmo menos insalubres – para os alunos em questão.

Conclusão

Por fim, não podemos esquecer o fator curricular. Se o Ensino Médio se coloca tão apartado da realidade que não dialoga com o mercado de trabalho, tampouco colabora com a empregabilidade do jovem, naturalmente suas necessidades estão sendo negligenciadas.

Nesse sentido, escolas em tempo integral, cursos técnicos e a própria implementação do Novo Ensino Médio, com vistas a atender esse jovem de maneira mais efetiva, são propostas que visam amenizar o quadro da evasão escolar e apostar em ações que façam a diferença no dia a dia desses adolescentes.

Impossível ignorar, como consequência de todo esse processo, a importância da contratação de professores para dar atenção mais personalizada aos estudantes, bem como alterações na própria formação dos profissionais de educação.

Para que estejam mais aptos a lidar não apenas com as TICs, mas também com todas essas demandas impostas por um currículo mais flexível e moderno, como os projetos integradores e os itinerários formativos.

O desafio é grande

É inegável. Estamos diante de um imenso desafio, mas todos nós que trabalhamos na sala de aula não podemos nos esquivar daquela inspiradora instrução das Diretrizes Curriculares Nacionais: urge que patrocinemos “um sonho de futuro para todos os estudantes do Ensino Médio”.

Sonhemos também com um futuro onde a evasão escolar não afete tanto nossa sociedade. Sejamos assertivos em combatê-la!

Para conhecer algumas histórias de evasão e sensibilizar a equipe pedagógica da sua unidade escolar, fomentando essa discussão, recomendo assistir ao programa “Profissão Repórter” de 23/05/2018.

Link: https://globoplay.globo.com/v/6757830/

OBS: Temos um link mais fácil no YouTube, sem necessidade de cadastro:

Leia também: Gestão escolar e pandemia – novos e antigos desafios e possibilidades.

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Karina Bojczuk

Formada em Letras pela USP, Karina é especialista em Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem pela PUC e entusiasta das neurociências aplicadas à Educação e do Futuro do Trabalho.

REFERÊNCIAS

IBGE: PNAD – Educação, 2019. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101736_informativo.pdf>. Acesso em: 06 out. 2020.

 IPEA: Carta de Conjuntura; número 46, 1º trimestre de 2020. Disponível em: <https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/conjuntura/200312_cc_46_mercado_de_trabalho.pdf>. Acesso em 06 out. 2020.

Relatório do Programa Justiça ao Jovem, 2012. Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2012/07/panorama_nacional_justica_ao_jovem.pdf>. Acesso em 06 out. 2020.

BRASIL. Conselho Nacional de Educação; Câmara de Educação Básica. Parecer nº 5, de 4 de maio de 2011. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Diário Oficial da União, Brasília, 24 de janeiro de 2012, Seção 1, p. 10. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=8016-pceb005-11&Itemid=30192>. Acesso em: 06 out. 2020.