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Diferenciação pedagógica: equidade e diversidade

26 de junho de 2025,
E-docente
Diferenciação pedagógica

Os direitos são iguais também na Educação. Mas, para haver justiça, a equidade é um pressuposto necessário para as ações docentes de ensino. Equidade é fazer diferente para garantir a igualdade. Neste artigo, convido você a pensar sobre diferenciação pedagógica, ou diferenciação de ensino

A realidade das salas de aula é de uma complexidade intensa, e o desafio docente é aproveitar a riqueza da diversidade com práticas de ensino que promovam a aprendizagem de todos e com todos.  

Mas, se nem todos os estudantes partem do mesmo ponto de partida, por suas diferenças, e têm o direito de alcançar o mesmo ponto de chegada, que são as aprendizagens, como deve ser o ensino? Igual para todos? Igual no sentido de que todos vão fazer as mesmas atividades, com os mesmos recursos, no mesmo tempo?  

Essa igualdade é injusta, discriminatória e excludente. Se há diferenças, é preciso considerá-las, não como obstáculos ou impedimentos, mas como reconhecimento da nossa humanidade.  

O que é diferenciação pedagógica?  

Fazer diferente consiste na composição de práticas cotidianas em favor de estudantes que aprendem por caminhos diversos, o que pressupõe a promoção de equidade. 

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A concepção de diferenciação pedagógica não é uma ideia recente, é discutida há tempos, pois com a democratização e obrigatoriedade do ensino, e a consequente inserção de um maior número de estudantes nas escolas, a diversidade se tornou evidente, não cabendo mais um jeito único de ensinar. Modos variados de aprender exigem diferentes modos de ensinar.  

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Como dito, essa não é uma perspectiva nova, mas é atual e necessária. Entre os autores que nos ajudam a compreender esse conceito, Perrenoud (1999) traz a ideia da Pedagogia das diferenças, como a ação de organizar interações e atividades de modo que cada estudante se defronte constantemente com situações didáticas que lhe sejam as mais fecundas. 

Marli André (1999, p. 12). também elucida essa concepção: 

[…] considerar as diferenças é encontrar situações de aprendizagem ótimas para cada aluno, buscando uma educação sob medida. […] procura-se substituir o ensino individualizado, em que cada aluno desenvolve isoladamente suas tarefas, por uma diferenciação no interior de situações didáticas abertas e variadas, confrontando cada aluno com aquilo que é obstáculo para ele na construção dos saberes.  

Diferenciação pedagógica é uma resposta ao desafio da diversidade em sala de aula, uma estratégia pedagógica para que cada estudante tenha melhores possibilidades de aprendizagem. É particularmente apropriada para promover a escolarização de pessoas com deficiência e outras especificidades, mas atende a todos e a cada um. 

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Essa concepção se alinha às metodologias ativas, que por constituição promovem ações pedagógicas interativas, com uso de recursos variados. Certamente, não é algo estranho para muitos docentes, pode ser que vários reconheçam essas práticas como ações comuns e meio óbvias, mas não podem ser atividades e propostas pontuais, que acontecem de vez em quando, a diferenciação é algo para o dia a dia, porque a diferença está presente todos os dias.  

Como a diferenciação pedagógica se concretiza? 

É papel docente reconhecer as diferenças humanas e modos de aprender e, a partir delas, planejar aulas que também apresentem diferenciações pedagógicas, vejamos alguns exemplos: 

  • Flexibilização do tempo – há estudantes que precisam de extensão de tempo para realizar certas atividades, assim como fracionamento de tempo para desenvolver uma tarefa por partes. 
  • Uso de outro espaço físico – para alguns estudantes, distratores visuais ou sonoros são um obstáculo para realizar atividades que exijam maior concentração individualizada, a possibilidade de ir para uma outra sala onde possam ter mais silêncio, ou um apoio individualizado, ou que seja possível, para sua melhor compreensão, ler em voz alta, sem atrapalhar ninguém, é uma resposta às suas necessidades. 
  • Apoio de ledor e/ou de escriba – há situações, principalmente durante avaliações realizadas com instrumentos formais, em que o apoio de um ledor e/ou de escriba irá permitir que o estudante demonstre suas aprendizagens de fato. 
  • Utilização de recursos diversificados – para introduzir um tema ou apresentar um conceito, é possível se utilizar de apresentação oral, de um vídeo ilustrativo, de imagens de apoio, de materiais táteis e manipuláveis, de um jogo, esses são exemplos de alguns recursos a serem usados, de modo combinado, ou seja, apresentar essa variedade dentro de um planejamento de tempo e de estratégias, permitindo que todos os estudantes tenham acesso e participação, cada um do seu modo, para garantir acessibilidade ao currículo.  
  • Uso de variadas linguagens – do mesmo modo, o ensino pode ser planejado com uso de variadas linguagens: o docente apresenta oralmente e os estudantes participam em interação; uma música, uma história, uma poesia, um texto literário ou informativo podem introduzir um tema; e, para demonstrar uma aprendizagem e de modo avaliativo, os estudantes podem desenhar, cantar, fazer poesia, elaborar um jogo, dramatizar, expor oralmente, escrever um texto explicativo. Essas são ações para serem escolhidas pelo estudante, neste caso ele não vai realizar todas as propostas, mas a que mais combine com sua forma de expressão. 
  • Organizações interpessoais – organizar a turma em grupos, onde todos se apoiem e demonstrem suas habilidades variadas, uns desenham, uns falam, outros escrevem, buscam informação e compõem um coletivo para chegar a um produto final, uma resolução de problemas ou uma expressão artística; organizar pares de trabalho, onde um apoia o outro para tarefas cotidianas, para manter a atenção, para usar a agenda, manusear o livro e para produções em duplas em relação a qualquer componente curricular; também, é necessária a realização de atividades individuais com apoio docente. Esses arranjos são para o dia a dia, não são exceções, devem se constituir como a dinâmica da turma, por isso a arrumação física das mesas e cadeiras é muito importante, não pode ser pouco valorizada. 

Outras observações  

Esses são exemplos de diferenciações pedagógicas que vários docentes realizam. Mas é preciso perguntar: há intencionalidade e planejamento constante para ações de diferenciação pedagógica? Na rotina diária, as diferenciações ocupam que lugar nas práticas de ensino? 

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Para os estudantes com deficiência algumas propostas serão individualizadas, mas sempre contextualizadas com o que acontece na turma e em consonância com o currículo.  

Por isso, na escola, cada sujeito da aprendizagem precisa ser conhecido em contexto, na compreensão de suas habilidades, possibilidades e de como se relaciona com o conhecimento, de como aprende melhor.   

Deste modo, recursos e estratégias são elaborados como apoios, por essa razão poderão ser personalizados, feitos sob medida, e, certamente, servirão a vários outros estudantes. 

Diante de tal configuração, cabe conceber diferenciação pedagógica como possibilidade de enriquecimento curricular em contraposição à ideia de redução ou empobrecimento de conteúdos.  Não é uma ação improvisada, nem simples, ao contrário, requer planejamento, avaliação das condições de aprendizagem dos estudantes, seleção e elaboração de material didático específico.  

É preciso admitir e considerar que, com tantas tarefas superpostas, é um desafio docente conhecer necessidades, limites e possibilidades dos estudantes. Na organização de horários de aula, por exemplo, há professores que têm contato com a turma uma vez por semana.  

Além disso, há turmas numerosas, conhecer o aluno requer maior interação, mais tempo e práticas pedagógicas que favoreçam isso. São realidades que precisam ser enfrentadas e problematizadas, com busca de soluções coletivas e colaborativas. 

Ao assumir a diferenciação pedagógica como uma resposta educativa às necessidades dos estudantes, presume-se que cada um será visto em sua singularidade e lhes serão oferecidas propostas pedagógicas que favoreçam o seu desenvolvimento.  

Sabemos que, para o planejamento, é preciso equipe pedagógica, tempo, espaço físico, recursos materiais.  Não deixamos de considerar que a realidade mostra que nem sempre as escolas oferecem tais condições, mas são as tentativas e as iniciativas que colocam uma escola em movimento e trazem maior evidência às carências e aos problemas, o que pode gerar busca de soluções.  

Em síntese, diferenciar: 

  • significa aceitar o desafio de que não existem respostas prontas, nem soluções únicas;  
  • consiste em aceitar as incertezas, a flexibilidade, a abertura para as pedagogias ativas, que envolvem negociação, revisão constante e iniciativa de seus atores; 
  • não se trata de favorecer uns em detrimento de outros; 
  • possibilita aos estudantes terem a oportunidade de compreender que a diversidade humana é algo inerente, que todos têm limites e possibilidades, que dá para aprender com o outro e que existem caminhos variados para a aprendizagem e para o ensino. 

Conclusão 

Já não é mais possível olhar para uma turma e fingir que todos são essencialmente parecidos.  As diferenças estão ali presentes, assim como todas as possibilidades que o outro tem a apresentar, e que só poderão ser conhecidas na real convivência com esse outro, não como o diferente, mas como o igual em seu direito de ser o que é.  

Como perspectiva de trabalho institucional, a diferenciação pedagógica promove a construção de uma cultura das possibilidades, independentemente das diferenças, ou melhor, considerando todas elas em suas potencialidades e limites. 

Retomando referências clássicas 

ANDRÉ, M. (org.). Pedagogia das diferenças na sala de aula. Campinas: Papirus, 1999, p. 11-26. 

PERRENOUD, Philippe. Pedagogia diferenciada: das intenções à ação. Porto Alegre: Artmed Editora, 1999. 

Minibio do autor

É Professora Titular do Colégio Pedro II, instituição de ensino público federal. É Doutora e Mestre em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e graduada em Pedagogia, com habilitação em Educação Especial (UERJ). É pesquisadora do grupo Inclusão e Aprendizagem de Alunos com Necessidades Educacionais Especiais: práticas pedagógicas, cultura escolar e aspectos psicossociais (Programa de Pós-graduação em Educação da UERJ). Tem experiência em educação especial e inclusão escolar. Suas áreas de interesse são: formação docente; processos de escolarização de pessoas com Deficiência Intelectual; práticas pedagógicas diferenciadas; ensino colaborativo.

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